Na CPI, donos da JMK negam crimes, mas apontam falhas e pressões do governo

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Nos depoimentos prestados nesta terça-feira (29) à CPI da JMK da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), os verdadeiros donos da empresa, Aldo Marchini Junior e Jairo Cezar Vernalha Guimarães, negaram autoria dos crimes pelos quais foram presos e indiciados pela Polícia Civil. Eles disseram que não praticaram lavagem de dinheiro, fraude em licitação, falsidade ideológica, falsificação de documentos e organização criminosa, conforme apontado na Operação Peça Chave, deflagrada para investigar irregularidades no contrato para gestão da frota do Estado de janeiro de 2015 a maio de 2019.  

“Eles tentaram desvirtuar o objeto principal da CPI, mas estão no direito de se defender. Acredito que a operação foi muito bem elaborada”, destacou o presidente da CPI, deputado estadual Soldado Fruet (PROS). Por outro lado, Aldo e Jairo apontaram falhas na fiscalização do contrato por parte do Estado – corroborando a avaliação do presidente da CPI. “Como foi dito pelos proprietários da JMK, o governo é muito falho na questão da fiscalização, o que abre brechas para a ocorrência de diversas irregularidades apontadas aqui, pagas com o dinheiro do povo”, afirmou o deputado. “Iremos apresentar um relatório bem contextualizado e uma solução para que esses erros não ocorram novamente”, enfatizou. 

PRESSÕES – Aldo e Jairo responderam às perguntas dos integrantes da CPI, apesar de amparados por liminar judicial que os desobrigou de dizerem a verdade. Aldo explicou que organizou a empresa e administrava todas as áreas, com exceção da financeira, administrada por Jairo. Confirmou que a JMK tinha participação em oficinas credenciadas, mas negou direcionamento de serviços. Defendeu a cobrança das taxas de comissionamento dos prestadores de serviço, de 4% a 15% do valor da nota fiscal, com base em pareceres do Tribunal de Contas da União.  

“Vim aqui para falar a verdade e esclarecer os fatos. Em nenhum momento tivemos diretamente qualquer tipo de propina ou benefício para alguém, mas fomos pressionados de todas as formas, inclusive o contrato caiu por causa disso”, declarou. Aldo argumentou que todas as imputações de crimes no inquérito policial já foram respondidas. Falou que, após ser preso, prometeram soltar ele, a esposa e o filho se delatasse envolvimento do ex-governador Beto Richa ou do atual, Carlos Massa Ratinho Junior, mas ele afirmou que não tinha conhecimento de nenhum fato. 

Segundo Aldo, o sistema tinha travas antifraude. Prometeu indenizar os funcionários e pagar as dívidas com as oficinas quando forem liberados os R$ 7 milhões depositados em juízo porque a atual gestão invalidou a repactuação financeira celebrada no final de 2018. Sobre os depósitos de mais de R$ 2,3 milhões feitos da conta da Caixa onde a JMK recebia os pagamentos do governo, ele alegou que era seu salário, que variou de R$ 50 mil a R$ 70 mil mensais. Disse não lembrar de um saque de R$ 20 mil feito na véspera de uma reunião com o governo para tratar do contrato. E admitiu que políticos indicaram oficinas em algumas regiões do Estado.  

O FIM – Aldo afirmou que desde a transição para o governo Ratinho Junior notou “movimentações atípicas” na Secretaria Estadual de Administração (SEAP) e no Departamento de Gestão de Transporte Oficial (DETO), com a retomada de um processo administrativo que estaria resolvido e uma “pressão enorme”. “Fomos tirados à força e, em seguida, estava pronto o contrato emergencial”, observou. 

Por sua vez, Jairo, que era o diretor financeiro, confirmou que recebia o pró-labore e adiantamento de lucros através de empresas. Afirmou que o valor de R$ 0,10 estipulado no contrato por veículo reparado no mês não era exequível e confirmou que a taxa de comissionamento garantia o lucro da empresa. “A JMK sempre agiu com lisura na execução desse contrato”, disse, atribuindo os problemas de caixa aos atrasos do Estado nos pagamentos.  

Jairo negou ter recebido propina de agentes públicos ou financiado campanhas eleitorais. Ele admitiu que, ao receber quase R$ 10 milhões do Estado no final de 2018, a JMK pediu descontos para quitar as dívidas com as oficinas. E também considerou “estranha” a movimentação nos bastidores do governo para trocar a gestora da frota.

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