O publicitário Ricardo Hoffmann, preso desde sexta-feira (10) pela Operação Lava Jato sob acusação de pagar propina em contratos da agência Borghi Lowe com a Caixa e o Ministério da Saúde, disse à Polícia Federal que repasses que empresas do setor fizeram ao ex-deputado André Vargas (ex-PT) eram uma comissão por um serviço que nunca foi prestado. Os pagamentos eram uma recompensa para Vargas conseguir clientela privada para a agência, mas ele não conseguiu “angariar cliente algum”. As informações são do Estadão.
Uma planilha apreendida pela PF na casa de Vargas, em Londrina, mostra registros de cerca de 200 pagamentos, que somam R$ 3,17 milhões, para a LSI, uma empresa de fachada do ex-deputado e do irmão dele. Além da LSI, eles têm a Limiar.
Ao decretar uma nova prisão do publicitário, o juiz federal Sergio Moro disse que a inconsistência do depoimento reforça a suspeita de que as quantias recebidas por Vargas eram propina por contratos de publicidade no governo federal. “Parece pouco consistente a alegação de que os pagamentos se davam pela promessa de André Vargas de angariar clientes”, escreveu.
O dinheiro repassado a Vargas saía de uma comissão que as produtoras pagam às agências de publicidade por terem sido contratadas, conhecida como BV (bônus de veiculação) de produção. Em vez de pagar essa comissão à agência, as produtoras repassavam os 10% para as empresas de Vargas.
Empresas públicas e a própria Borghi proíbem o BV de produção por considerá-lo antiético –seria uma forma disfarçada de corrupção.
A planilha apreendida pela PF lista pagamentos de produtoras famosas, como a O2 (R$ 311 mil) e a Conspiração (R$ 226,7 mil), para as empresas de Vargas. A O2 é de Fernando Meirelles, diretor de “Cidade de Deus”, enquanto a Conspiração produziu “Dois Filhos de Francisco”.
Hoffman disse que a agência tinha dois grandes contratos com o governo: um de cerca de R$ 100 milhões anuais com a Caixa Econômica e outro de R$ 18 milhões com o Ministério da Saúde.