LAVANDO ROUPA SUJA NO ESTILO DA BRIGA DO BUGIO!

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Nesta semana dois poderosos grupos de comunicação andaram trocando farpas e lavando roupa suja através das redes sociais e televisão. De um lado o grupo Gazeta do Povo/RPC (Ana Amélia e Guilherme Cunha Pereira) e do outro GRUPO JOEL MALUCELLI/PARANAPORTAL/BAND.

A matéria publicada no dia 03/08 pela Gazeta teve reação imediata no dia 04/08 do site PARANAPORTAL de Joel Malucelli. Como tema principal a delação de Joel Malucelli, a Gazeta fez questão de explorar o uso da tornozeleira devido ao envolvimento de Joel no caso da Operação Rádio Patrulha. Leia as duas matérias a seguir?

GAZETA DO POVO
A RPC TEVE ACESSO AOS TERMOS DA DELAÇÃO PREMIADA DO EMPRESÁRIO JOEL MALUCELLI.

Joel Malucelli é réu em um processo da Operação Rádio Patrulha, e afirmou em delação premiada de 2011, de uma reunião com pedido de propina em programa do Governo do Paraná para recuperação de estradas rurais. O encontro, segundo ele, ocorreu no Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER). Além dele estavam Beto Richa (PSDB) e outras 11 pessoas, que são réus no processo que investiga um suposto esquema de licitações. “Nesse projeto teria que se dar uma propina, uma comissão de 8% pro governo. Eu no momento não falei nada, sei que até depois ficou acertado que seria 4% do faturamento e 4% na renovação do contrato”, disse Malucelli. Richa era o governador do estado quando os contratos do programa Patrulha do Campo foram assinados. Ele chegou a ser preso em uma das fases da investigação. O Ministério Público do Paraná (MP-PR) aponta que o ex-governador era o principal destinatário da propina. Ele nega as acusações. O acordo de colaboração do empresário Joel Malucelli se tornou público mais de um após ser homologado pelo desembargador Luiz Osório Moraes Panza, do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). A homologação ocorreu em maio do ano passado.

Além das cláusulas da colaboração, o MP-PR também anexou ao processo um dos termos da delação.

O Boa Noite Paraná apurou que as delações de Joel e de executivos do Grupo Malucelli têm pelo menos oito termos. A operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) apontou que empresários pagaram, entre 2012 e 2014, mais de R$ 8 milhões em propina a agentes públicos para, em troca, vencer licitações de obras de recuperação de estradas rurais.

TERMOS DO ACORDO DE JOEL

Nos documentos, Joel Malucelli admitiu a participação em crimes em troca de redução de pena. Pelo acordo, ele se comprometeu a relatar as infrações penais que praticou, presenciou e das quais teve conhecimento. Para ter direito aos benefícios da colaboração, o empresário tem que identificar os demais participantes da organização criminosa e as infrações penais praticadas por eles. Além disso, ele tem que revelar a estrutura hierárquica e a divisão de tarefas da organização, assim como colaborar para a recuperação total ou parcial dos recursos obtidos com os crimes. A pena máxima de Joel Malucelli será de 15 anos, mas só uma parte dela será cumprida com restrições de liberdade. Durante um ano e seis meses, o regime é semiaberto diferenciado – com tornozeleira eletrônica, prestação de serviços comunitários e recolhimento noturno. Aos fins de semana e feriados, o empresário terá que ficar em casa o tempo todo. O acordo também prevê multa de R$ 7,5 milhões. Ele só deverá cumprir a pena prevista depois da primeira sentença da Operação Rádio Patrulha. O processo está na fase de audiências de instrução e julgamento na 13ª Vara Criminal de Curitiba. No acordo, Malucelli também se comprometeu a entregar senhas, documentos, papéis, fotografias, bancos de dados, arquivos eletrônicos e outros materiais que possam ajudar na elucidação dos crimes. Ele precisa ainda fornecer dados da movimentação financeira no Brasil e no exterior. Leniência e outros acordos Empresas do Grupo Malucelli fecharam um acordo de leniência, uma espécie de delação premiada de empresas. O acordo foi feito com a Lava Jato, no ano passado, e prevê o pagamento de R$ 100 milhões a título de reparação de danos causados por esquemas de corrupção. As delações do empresário e de outros 10 executivos e familiares foram homologadas por diferentes instâncias da Justiça. Uma parte ficou com a competência do TJ-PR, que tem a prerrogativa para apurar fatos envolvendo autoridades com foro privilegiado, como deputados estaduais.

O FIM MELANCÓLICO DA GAZETA DO POVO

É conhecida a máxima de que a imprensa é o oxigênio da democracia, mas hoje notamos, cada vez mais, um certo desencanto com o jornalismo e até mesmo revolta, com gente agredindo e jogando pedras em repórteres nas ruas, em situações extremas.

Alguma coisa está errada. E o erro certamente está nas mãos daqueles que dirigem os veículos de comunicação, pois perderam o controle ou o compromisso com a qualidade informativa.

É preciso resgatar a objetividade do jornalismo. A imprensa tem o dever de apresentar fatos e dizer coisas que podem até não agradar os leitores, os políticos ou membros do sistema judiciário. Mas deve fazê-lo com responsabilidade.

O abandono desses valores, o descaso com padrões minimamente éticos e com a qualidade no tratamento da informação têm produzido a queda de impérios do jornalismo no país.

O Paraná observa, por semelhante, o declínio, em velocidade surpreendente, de um grupo de comunicação social que por dezenas de anos foi visto como porta-voz da sua sociedade: o jornal Gazeta do Povo e a Rede Paranaense de Comunicação (RPC), com televisões e emissoras de rádio espalhadas por todo o estado.

É um desfecho melancólico, porém previsível, numa sociedade cada vez menos ingênua, mais bem informada – por variadas fontes de notícia – e mais conectada. Uma decepção para a sociedade paranaense, que acompanha o visível desmoronamento de um império que levou um século para ser construído e nada deixa no lugar.

Na luta desesperada pela sobrevivência, acumulando enormes passivos financeiros e judiciais nos últimos anos, o jornalismo desse grupo tornou-se apelativo, recorrendo sistematicamente a manchetes escandalosas, a argumentos rasos e delirantes e à exposição de fatos recortados de tal forma que acabam por disseminar o discurso do ódio, a maledicência e a desconstrução de pessoas, empresas e famílias, sem lhes dar espaço adequado para resposta.

O rebaixamento do padrão moral, somado a um cenário de crise financeira e a uma biografia esfacelada, levam o grupo de comunicação à iminência de se tornar, ele próprio, notícia nas páginas policiais.

São, hoje, mais de 400 ações de primeira e segunda instância em tramitação na Justiça do Trabalho, segundo certidão recente, que mostram um caminho sem volta e que deve resultar em um desembolso estimado em dezenas de milhões de reais.

Empresas associadas no interior do Estado estão derretendo ou passando às mãos de sócios que apostaram no negócio e agora estão vendo seu dinheiro literalmente virar pó.

Ações como da TV Oeste Paraná (Globo Cascavel) estão bloqueadas. Na TV Cultura (Globo Maringá) há registro de bens arrolados pela Receita Federal para garantia do pagamento de débitos fiscais.

Nesta carruagem sem cocheiro, o grupo empresarial tenta acomodar e administrar um imenso prejuízo, como é o caso da Gazeta do Povo, em que o passivo ultrapassou R$ 190 milhões depois de um erro na curva, em que o jornal impresso foi fechado para que a empresa se aventurasse, sem suficiente conhecimento, na mídia digital.

Diante dessa sucessão de reveses e prejuízos, um dos sócios vendeu suas ações por apenas R$ 1 para deixar de arcar com as volumosas somas negativas mensais e anuais.

Tais prejuízos levaram à demissão de centenas de pessoas, muitas delas competentes, mas alheias à incompetência administrativa que as levou ao olho da rua.

Antes do atual estágio crítico, o grupo envolveu-se noutras aventuras igualmente arriscadas, como o jornal tabloide – Primeira Hora – que absorveu velhos jornalistas vindos de São Paulo para se aposentarem no Paraná.

O grupo também se aventurou com a televisão OTV e fechou as portas. Mais tarde, para concorrer com a Folha de Londrina, lançou o Jornal de Londrina e deu no que deu: o veículo acabou e contabilizou mais prejuízos.

Mais recentemente, um comunicado da direção da empresa aos proprietários de bancas de revistas de jornais da capital anunciava o fechamento da revista semanal
Gazeta do Povo. Abriu outra que até agora ninguém entendeu qual a linha editorial. Está mais para o tradicional “malho” para sobrevivência.

A empresa também fechou parte do complexo de comunicação no Tarumã, em Curitiba, onde funcionava a redação da Gazeta do Povo e da revista, optando pelos trabalhos em home office, o que sinaliza para a demissão, em curto prazo de tempo, de mais jornalistas e mais prejuízos em equipamentos de informática.

Para tentar pelo menos uma saída honrosa, as quatro rádios do grupo estariam à venda, bem como todo o grupo RPCOM, que foi oferecido a dois empresários paranaenses por R$ 900 milhões.

Depois de minuciosas análises, os potenciais interessados chegaram à conclusão de que, no máximo, o grupo poderia valer R$ 400 milhões e refugaram da compra, que seria intermediada por um conhecido publicitário de Curitiba.

Se o grupo RPC Gazeta do Povo se nega a cumprir o básico de suas obrigações financeiras e legais, coloca-se em frontal oposição aos princípios que alardeia identificá-lo.

O jornalismo “de resultados”, pautado na exposição escandalosa de alguns ‘fatos’ supostamente investigados, tenta tirar água da pedra para manter a audiência. Mas o resultado é, claramente, pífio.

Nesta semana, por exemplo, estamparam reportagem na capa, com direito a show pirotécnico sem ouvir o “outro lado”, como reza a cartilha básica do jornalismo em qualquer lugar.

A notícia e a opinião, para a RPC e a Gazeta do Povo, têm sido avaliadas pela ótica de seus próprios negócios, o que é lamentável. Disso poderá constatar ser veraz qualquer investigação séria do Ministério Público.

Matérias utilizadas como ferramentas para a instabilidade, a hostilidade ou pura e simples vendeta prestam um desserviço aos nobres propósitos da imprensa e, no limite, à própria liberdade de expressão, pois a seletividade na exposição dos fatos, em prejuízo da verdade, constitui negação da própria razão de existir do jornalismo.

Empresários e políticos paranaenses que estiveram sentados à mesa com o saudoso Francisco da Cunha Pereira Filho, em discussões de temas voltados à defesa das camadas mais necessitadas e de investimentos no Estado, hoje são massacrados pelas tintas e palavras dúbias.

Enfim, testemunhamos hoje um momento histórico: o ocaso de um grupo de comunicação que perdeu a identidade, não passa de uma pálida sombra do que já foi.

O custo do descompromisso com a tradição e história é alto, o gosto é amargo, mas ao que parece a conta chegou. E o preço é alto.

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