FONTE: Gazeta do Povo
A viagem da presidente Dilma Rousseff a Curitiba, na última quinta-feira, levantou questionamentos sobre a legalidade e ética da visita presidencial. Dilma esteve na cidade para um compromisso particular não divulgado, e outro partidário – o lançamento da candidatura de Gleisi Hoffmann (PT) ao governo do Paraná. Dilma chegou às 15h45, horário em que deveria estar nas funções de presidente, com o avião da Força Aérea Brasileira (FAB). As despesas com combustível foram custeadas pelo PT. Mesmo assim, para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a conduta é no mínimo “discutível”.
O professor de ética e filosofia política Roberto Romano, da Unicamp, diz que o caso é mais um exemplo da ambiguidade entre o oficial e o oficioso comum entre a classe política. “É um ato evidentemente para tornar presente no Paraná a sua candidatura como presidente. É aquilo que Dilma tem feito com frequência e tem sido alertada por juristas de que está abusando”, afirma.
Segundo Romano, em tempos de pré-campanha, Dilma deveria simplesmente não ter viajado a Curitiba. “Ela deveria ter mandado um representante ao lançamento da candidatura da Gleisi. E esse representante não estaria falando em nome da presidente, e sim da política Dilma Rousseff”, diz. Para ele, somente dessa forma a presidente agiria corretamente do ponto de vista ético da separação entre o público e o privado.
Gil Castello Branco, secretário-geral da ONG Contas Abertas, analisa a situação de forma mais amena. “A meu ver, é uma situação bastante difícil porque ela tem que se deslocar para um compromisso pessoal, mas também tem outro compromisso político-eleitoral. É claro que se confunde a relação da presidente como a de cabo-eleitoral”, afirma.
Na opinião dele, o conflito fica mais claro no período de eleições, mas acontece diariamente na vida da presidente. “Ela acaba tendo uma situação excepcional. Para se deslocar, precisa de aparatos de segurança. Até mesmo para a vida pessoal, ela necessita de uma infraestrutura de apoio”, diz. “Esses fatos só evidenciam o erro gritante na legislação eleitoral que permite que a presidente, independentemente de partido ou cargo, continue no cargo e faça campanha.”