A AVENTURANÇA DERROTADA! O RETRATO DAS URNAS EM  27 DE OUTUBRO DE 2024

xfdfd

O segundo turno das eleições municipais de Curitiba encerrou-se com a vitória de Eduardo Pimentel (PSD), consolidando o poder do grupo político que governa Curitiba há mais de três décadas, frequentemente chamado de “dinastia Lernista”. Com o apoio do governador Ratinho Junior, Pimentel reafirma a influência estadual sobre a capital e estabelece uma continuidade de projetos alinhados aos interesses centristas e de estabilidade administrativa. No entanto, o grande destaque do pleito foi a candidata Cristina Graeml (PMB), que, mesmo derrotada, emergiu como uma nova força da direita curitibana e pode ser decisiva para as eleições estaduais de 2026, conforme a análise do inquiridor.com.br

A DINASTIA LERNISTA E A “PAX ROMANA” CURITIBANA

A eleição de Eduardo Pimentel representa, de certa forma, a manutenção de uma estabilidade política que reflete a hegemonia de uma gestão contínua e robusta em Curitiba. Desde o governo de Jaime Lerner, passando por figuras como Cassio Taniguchi, Beto Richa, Luciano Ducci, Rafael Greca e o próprio Pimentel, essa linhagem política investiu no desenvolvimento de Curitiba como uma capital modelo, com foco em infraestrutura e planejamento urbano. No entanto, o desafio moderno dessa linhagem é manter essa estabilidade em meio a uma crescente pressão por renovação e inclusão social, temas que, para muitos eleitores, permanecem carentes de atenção efetiva​.

Comparada à “Pax Romana”, que perdurou sob o comando de imperadores romanos bem-sucedidos, mas, ao longo do tempo, se desgastou internamente, essa hegemonia política em Curitiba começa a dar sinais de desgaste. Os altos índices de abstenção e a presença expressiva de votos para uma candidata de oposição apontam para um anseio por alternativas à continuidade administrativa​.

CRISTINA GRAEML E O RESSURGIMENTO DA DIREITA CONSERVADORA

Cristina Graeml surpreendeu ao chegar ao segundo turno, especialmente considerando seu partido, o PMB, de pouca expressão e sem a estrutura robusta de seus concorrentes. Graeml conquistou 390 mil votos, demonstrando a força de uma campanha voltada ao conservadorismo e à renovação de valores tradicionais em Curitiba. Ela posicionou-se como uma voz anti-establishment, atraindo apoio das camadas mais conservadoras e polarizando o eleitorado, criando o que muitos identificaram como uma “vitória moral” para a direita conservadora na capital​.

A ascensão de Graeml, ainda que sem vitória, a coloca como um nome forte para futuros pleitos, sendo uma potencial candidata à cargos majoritários em 2026. Em um cenário de renovação política e reposicionamento conservador, a capacidade de Cristina em mobilizar as bases conservadoras, mesmo com limitações estruturais, sugere que ela poderá ser uma das candidatas mais atraentes para partidos como o União Brasil, o PL e o Novo​.

A ABSTENÇÃO: REFLEXO DE INSATISFAÇÃO E DESCONEXÃO?

As eleições de 2024 registraram uma abstenção recorde em Curitiba, com mais de 432 mil eleitores ausentes, superando inclusive o número de votos obtidos por Cristina Graeml​. Esse fenômeno sinaliza um descontentamento e alienação entre o eleitorado, particularmente nas regiões periféricas, onde a infraestrutura e os serviços públicos não acompanharam o desenvolvimento das áreas centrais. O crescimento da abstenção, que tem aumentado a cada eleição, reflete uma desilusão com o sistema político atual e a dificuldade em oferecer propostas que captem o interesse desses eleitores.

Esse cenário de abstenção crescente representa um desafio para qualquer gestão futura. Pimentel terá de enfrentar essa indiferença, focando em políticas que atendam diretamente às necessidades desses eleitores que se sentem desconectados das promessas de campanha e das realizações administrativas. A integração das periferias e o combate à desigualdade podem ser fatores cruciais para sua aprovação nos próximos anos​.

A ANÁLISE DAS PESQUISAS E O VOTO ÚTIL

Durante o segundo turno, as pesquisas mostraram uma disputa acirrada, com variações dentro das margens de erro e com diferentes metodologias de coleta de dados. A influência dessas pesquisas, somada ao fenômeno do “voto útil”, foi um fator importante na consolidação de Pimentel. Muitos eleitores progressistas, temendo uma gestão conservadora de Graeml, transferiram seu apoio para Pimentel, que foi visto como uma opção mais segura dentro de uma linha moderada​.

A disparidade nos métodos de coleta e as diferenças de representatividade entre as pesquisas foram pontos destacados na análise técnica pré-eleitoral. Essas variações podem ter impacto significativo na interpretação pública e, consequentemente, na decisão de eleitores que buscam alinhar seu voto às tendências indicadas nas pesquisas. Institutos como Veritá e Quaest utilizaram abordagens presenciais com alto custo, enquanto o AtlasIntel optou pela coleta online, o que favorece um público mais conectado digitalmente, mas exclui representativamente uma parte dos eleitores de menor renda​.

PERSPECTIVAS PARA 2026

Com 54 anos e uma imagem em ascensão, Cristina Graeml tem a oportunidade de consolidar sua posição no cenário político. Ela representa uma nova força conservadora, alinhada com valores que atraem a direita curitibana e paranaense. É possível que Graeml atraia o interesse de partidos como o União Brasil e o PL e se estabeleça como uma candidata forte, tanto ao governo estadual como para uma das duas vagas ao Senado em 2026, representando uma alternativa conservadora mais radical que a linha centrista de Ratinho Junior​.

A dinâmica política em Curitiba, fortalecida pela continuidade da dinastia Lernista, mas pressionada pela insatisfação crescente com o sistema vigente, sinaliza um futuro de possíveis embates entre continuidade e renovação. O próximo pleito estadual poderá consolidar esse embate, com Cristina Graeml se tornando uma das principais vozes da direita (podendo se juntar, nesse campo, ao atual senador Sérgio Moro), ao mesmo tempo em que o grupo de Ratinho Junior busca expandir sua influência nacional, com um possível pleito do atual governador à presidência da República.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A eleição de Eduardo Pimentel garante a continuidade da “Pax Romana” curitibana, onde a estabilidade é vista como uma força, mas também como uma limitação para aqueles que clamam por mudança. A abstenção elevada e o avanço de uma oposição conservadora são sinais de que, embora o grupo Lernista tenha vencido a batalha municipal, enfrenta desafios para manter sua hegemonia sem maiores rupturas.

Cristina Graeml se posiciona como a grande surpresa desta eleição, podendo se tornar o centro gravitacional da direita paranaense nos próximos anos. Os votos de um eleitorado conservador, ávido por novas lideranças, indicam que, no futuro, Curitiba e o Paraná estarão ainda mais divididos entre a continuidade e a renovação ideológica. Em última análise, a política curitibana entra em um período de transformação, e a expectativa para o pleito de 2026 será a de um confronto de ideias e visões distintas para o futuro do Paraná.

Compartilhe