Num instante em que se encontra sob ataques de Lula e de Dilma Rousseff, o
juiz Sérgio Moro, responsável pelos iquéritos da Operação Lava Jato,
declarou que há no Brasil “um quadro de corrupção sistêmica”. Ele avalia
que esse quadro não será alterado por iniciativa do setor público. Numa
palestra dirigida a empresários, o magistrado afirmou, na noite desta
quarta-feira:
“Não vai se mudar o nosso sistema e a nossa cultura se nós formos esperar
essas mudanças dos nossos políticos e dos nossos governos. Não precisamos
deles para que iniciemos uma mudança de iniciativa empresarial, que
simplesmente diga não ao pagamento de propinas em contratos públicos.” Moro
foi aplaudido por uma plateia de cerca de 200 empresários, reunidos em
Curitiba num evento que teve como tema ‘Empresas e Corrupção.’
Para Moro, as empresas podem contribuir muito no combate à corrupção. “Não
adianta ficar apenas reclamando de políticos e agentes públicos
desonestos”, disse. “Tem que ter a coragem de dizer ‘não’ ao pagamento de
corrupção ou de extorsão, em qualquer hipótese.”
O juiz disse que tem anotado em suas sentenças um conselho às empreiteiras
cujos executivos foram condenados na Lava Jato. “A postura decente é vir a
público, reconhecer que fizeram coisa errada, afastar os executivos
comprometidos, indenizar o poder público e se comprometer com políticas
novas de alteração desse padrão de conduta. Não precisa governo para isso,
não precisa político, não precisa nada. Precisa iniciativa privada
corajosa.”
Moro citou o exemplo da Volkswagen: “Gigante automotiva, uma das maiores
empresasdno mundo, foi surpreendida em um esquema que nem era de corrupcão,
mas de possível fraude em testes de mecanismos dos seus carors. O que foi
feito pelo CEO da empresa? Veio publicamente reconhecer os erros e se
comprometeu a indenizar os consumidores. Essa é a postura decente. É isso
que os empresários podem fazer, preferivelmente antes que esses malfeitos
sejam descobertos.”
Sem mencionar os nomes dos críticos da Lava Jato, Moro afirmou que “as
investigações e as persecuções desse caso têm sofrido acirrados ataques.
Até já houve quem atribuiu a essas investigações uma responsabilidade pela
recessão atual.” Segundo o juiz, só há dois caminhos à disposição. E a
“sociedade democrática brasileira” terá de optar por um deles.
“Podemos fazer como se fez muito: varrer esses problemas para debaixo do
tapete, esquecer que eles existem” ou “enfrentar os problemas com seriedade
e da forma que eles devem ser enfrentados.” Para Moro, “a primeria
alternativa não é aceitável.” Sob pena de agravar a chaga da corrupção no
longo prazo.
“O único caminho viável nesse caso é seguir em frente”, acrescentou Moro.
“Dificuldades nós estamos vivenciando e não são poucas. Mas os ganhos
futuros, se nós persistirmos no enfrnetamento dessas questões com
transparência e sem prentesão de varrer esses problemas debaixo baxo do
tapete, teremos maiores ganhos no futuro.”
“Esse quadro de corrupção sistêmica nos envergonha como brasileiros”, disse
Moro. “Muitas vezes o brasileiro, quando vai para fora do país, tem aquela
imagem de desonesto, de malandro, quando a maioria das pesosas não tem nada
a ver com esses problemas. Será que se nós enfrentarmos esses problemas não
estaremos aumentando nossa dignidade, não só como paíss, mas a nossa
autoestima pessoal?”
Sérgio Moro se disse “consternado com esse quadro econômico de recessão e
de desemprego.” Mas não dá crédito à tese segundo a qual “a culpa não é da
Lava Jato.” Mencionou os “movimentos favoráveis no mercado”, com oscilações
positivas nos índices da Bolsa de Valores, quando há diligências policiais.
“Para mim é um indicativo de que a Lava Jato não é exatamente um problema.”
Reiterou: “Trabalhar contra um quadro de corrupção sistêmcia é algo que só
nos traz ganhos. Não tenho nenhuma dúvida quanto a isso.”
A despeito da conjuntura que combina “recessão profunda, desemprego
crescente e corrupção sistêmica”, Moro diz ter “confiança” na capacidade
dos brasileiros de superar os problemas. Escorou o otimismo em exemplos
recolhidos da história do país.
“Já superamos crises econômicas pretéritas terríveis, vencemos duas
ditaduras —a do Estado Novo e a ditadura militar— nós tivemos o triunfo
contra a hiperinflação nos anos 90, tivemos a crise da dívida também, nos
anos 80, superamos todos esses problemas.” Numa alusão à atmosfera
pancadaria que opõe petistas e anti-petistas nas ruas, Moro lecionou:
“Superamos os problemas juntos, pra frente, não para trás. Devemos vencer
esses desafios também, diga-se aqui, sem violência e sem ódio contra
ninguém.”
Encerrada a palestra, Moro se dispôs a responder perguntas da plateia.
Instado a falar sobre as investigações que envolvem Lula, absteve-se de
comentar. Limitou-se a dizer que “é preciso tolerância em relação ao outro
e comportamento amigável, sem discurso de ódio de ambos os lados.”
Declarou-se aborrecido com uma notícia falsa veiculada sobre seu pai.
Disseram que ele seria um dos fundadores do PSDB na cidade paranaense de
Maringá. Moro acrescentou que suas sentenças não têm motivações
partidárias. “Meu pai já é falecido, era professor de geografia, talvez a
pessoa mais honesta que eu conheci. Tenho zero ligação com partidos […]. O
juízo trabalha com fatos. Interesses partidários não são o caso dentro da
minha profissão”.
*link nota*
http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2016/03/10/moro-diz-que-pais-nao-mudara-se-ficar-esperando-pelos-politicos-e-governos/