Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 57%
da população brasileira é negra. Ou seja, a maioria se declara como preta
ou parda. Os negros também são maioria entre os trabalhadores,
somando 55% dos ocupados.
Nos últimos dois anos, a relativa estabilidade política permitiu a continuidade do
crescimento da atividade econômica que, por sua vez, trouxe reflexos positivos sobre o
mercado de trabalho, como a queda na taxa de desemprego, crescimento da ocupação
formal e expansão dos rendimentos e da massa salarial.
Em 2024, segundo dados coletados pelo DIEESE, 86% das negociações coletivas
resultaram em reajustes acima da inflação, com ganho médio de 1,49% nos salários
negociados.
Destaques
- O rendimento médio dos negros é 40% inferior ao dos não negros.
- Os negros com ensino superior ganham 32% a menos que os demais
trabalhadores com o mesmo nível de ensino, diferença que pouco se alterou com
a Lei de Cotas. - Os negros recebem, em média, R$ 899 mil a menos que os não negros ao longo
da vida laboral. Entre os que possuem ensino superior, o valor chega a R$ 1,1
milhão. - Um em cada 48 homens negros ocupados está em um cargo de liderança,
enquanto entre os não negros, a proporção é de um para cada 18 trabalhadores. - Nas 10 profissões mais bem pagas, os negros representam 27% dos ocupados,
mas são 70% dos trabalhadores nas 10 ocupações com os menores rendimentos. - Uma em cada seis mulheres negras trabalha como empregada doméstica. O
rendimento médio das domésticas sem carteira é R$ 461 menos que o salário
mínimo.
O Índice da Condição do Trabalho (ICT-DIEESE), que sintetiza a situação do trabalho
no país, apresenta melhora desde 2022 e subiu de 0,57 para 0,63 entre 2023 e 20242
.
As melhores condições do mercado de trabalho, no entanto, não foram suficientes
para reduzir a desigualdade racial de renda no Brasil. Este Boletim apresenta estatísticas
que destacam alguns dos principais desafios enfrentados pela população negra no
mundo do trabalho. Os dados analisados são da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (PnadC), do IBGE, e referem-se ao 2º trimestre de 2024.
Dificuldades na inserção no mercado de trabalho
As estatísticas socioeconômicas do Brasil mostram que, historicamente, a situação
das pessoas negras é pior do que a do restante da população. É um resquício da
escravidão que, mesmo reconhecido, se mantém na sociedade. O mercado de trabalho
talvez seja um dos meios onde a discriminação racial e a desigualdade sejam mais
evidentes.
Os negros enfrentam maior dificuldade desde o momento em que começam a
busca por trabalho. A taxa de desocupação da população negra é sempre superior à do
restante dos trabalhadores. No 2º trimestre de 2024, a taxa de desocupação dos negros
era de 8,0%, enquanto a dos não negros ficava em 5,5% .
Cerca de um quarto (24,6%) das mulheres negras aptas a compor a força de
trabalho disseram que: (1) estavam desocupadas ou (2) não tinham procurado trabalho
por falta de perspectiva ou (3) estavam ocupadas, mas com carga de trabalho inferior à
que gostariam de ter. É o que mostra a taxa composta de subutilização da força de
trabalho (Gráfico 3). Entre os homens não negros, essa taxa era de 10,1%.
Ou seja, mesmo com o mercado de trabalho aquecido, um quarto das mulheres
negras enfrentam dificuldades para conseguir uma inserção laboral adequada.
Inserção desigual
Além da dificuldade em conseguir trabalho, em geral, os negros estão em postos
de trabalho piores do que os demais trabalhadores e têm maior dificuldade de ascender
profissionalmente.
Quase metade dos ocupados negros estava na informalidade: 46% das mulheres
e 45% dos homens. Entre os não negros, apesar de elevada, a taxa de informalidade era
mais de 10 pontos percentuais menor do que entre negros (34%) –
Os negros também estão concentrados em ocupações com os menores
rendimentos. Analisando as últimas três décadas, Osorio (2021) destaca que, apesar de
avanços como a valorização da negritude e o aumento do repúdio ao racismo, “na
dimensão da renda, houve apenas uma minúscula redução, e a desigualdade racial
persiste sem abalos substantivos”.
O Gráfico 5 mostra as 10 ocupações com os maiores rendimentos no 2º trimestre
de 2024. Em todas elas, os negros são minoria. Nessas 10 ocupações, eles representam
apenas 27% dos profissionais.
Na outra extremidade, as 10 ocupações com os piores rendimentos, no mesmo
período, aparecem no Gráfico 6. Aqui, a situação se inverte e os negros são maioria em
todas as profissões, exceto entre os costureiros. Somados, os negros representam 70%
dos ocupados nas 10 ocupações mais mal remuneradas.
Considerações finais
A inserção dos negros no mercado de trabalho ocorre de forma desfavorável. Os
negros enfrentam maiores taxas de desemprego, mesmo com o mercado de trabalho
aquecido. Entre os ocupados, há maior concentração de negros em profissões com baixos
rendimentos, além de alta informalidade.
A discriminação que esses trabalhadores sofrem dificulta a ascensão na carreira e
faz com que as desigualdades de rendimento cresçam ao longo da vida, o que faz com
que os negros deixem de ganhar, em média, R$ 899 mil entre os 18 e os 65 anos de idade.
A Lei de Cotas contribuiu para que a escolaridade dos negros avançasse nos
últimos anos, mas, entre os ocupados com ensino superior, a diferença de rendimentos
entre negros e não negros permanece a mesma de 12 anos atrás.
Estabilidade política e crescimento econômico são fundamentais para criar um
ambiente propício para a redução das desigualdades. Se, mesmo nesse momento
favorável, a inserção de boa parte da população negra ocorre de forma inadequada, fica
clara a importância de medidas ativas para a redução das desigualdades raciais. O Plano
Nacional de Igualdade Salarial8 traz algumas metas nesse sentido, especialmente
voltadas para as mulheres negras, mas os resultados ainda vão demorar alguns anos para
aparecer.
Os sindicatos também desempenham papel importante através de negociações
coletivas que reivindicam, além de ganhos salariais, a aplicação de cláusulas que
garantam iguais condições de salário e de progressão na carreira para todos os
trabalhadores e trabalhadoras.
A redução da desigualdade de renda no Brasil passa necessariamente pelo
combate à discriminação racial. Por outro lado, as políticas para a população negra só
terão efeito se ocorrerem em conjunto com ações de combate às desigualdades
socioeconômicas. Por isso, todas as políticas públicas devem ser pensadas para contribuir
para a redução das desigualdades no Brasil.
Nesse novembro, são celebradas as conquistas das lutas da população negra, mas
a realidade mostra que ainda há muito o que avançar.
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