A bancada do PT no Senado se sentiu traída pelo presidente do partido, Rui
Falcão, e pelo Palácio do Planalto, e deverá procurar a presidente Dilma
Rousseff, o ex-presidente Lula, e a direção petista para conversar sobre os
desdobramentos da prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS). Depois da
sessão que manteve o petista na cadeia, na noite de quarta-feira, os
senadores se reuniram para analisar a situação. Consideraram que governo e
o PT tiraram rapidamente o corpo fora e deixaram o problema no colo da
bancada. Somado a isso, consideraram que houve total falta de articulação,
a ponto de a nota em que Rui Falcão nega solidariedade a Delcídio ter sido
conhecida pela bancada por meio do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO).
— É preciso um freio de arrumação para unificar o discurso. Temos que
conversar. Não houve uma articulação, uma coordenação entre PT, governo e
Senado. A bancada ficou destruída — disse um petista.
Os senadores se mostraram irritados por não terem sido avisados por Falcão
do teor da nota e porque seu conteúdo, praticamente antecipando a expulsão
de Delcídio do PT, interferiu na posição dos outros partidos, que recuaram
e passaram a defender que a votação fosse aberta. Em nenhum momento,
relataram senadores do partido, Falcão discutiu o conteúdo da nota. O líder
do partido no Senado, Humberto Costa (PE), tomou um susto ao ver Caiado
lendo o texto em plenário. Tentou falar com Falcão por telefone, mas não
conseguiu. Pela manhã, o dirigente havia ligado para o líder petista, mas
somente para aferir o clima no Senado sobre a prisão de Delcídio.
— Se Rui tivesse falado com a gente, poderíamos talvez até ter tomado outra
decisão, defender o voto aberto. De qualquer forma, acho que não se faz
isso com um companheiro, é covardia — afirmou um senador petista ao GLOBO.
Nas palavras de outro petista, o dia foi um desastre:
— O governo e o PT jogaram Delcídio aos leões na primeira hora do dia. O
governo, logo de pronto, deixou claro que já procurava um líder.
No encaminhamento de voto sobre a questão se a votação seria aberta ou
fechada, Costa anunciou que o PT votaria contra. Foi o único partido a se
posicionar dessa maneira. Depois que o placar demonstrou que 52 haviam
votado pelo voto aberto, num prenúncio de que o Senado não afrouxaria a
prisão de um de seus membros, Costa mais uma vez encaminhou sua bancada
para votar pela soltura de Delcídio.
O resultado foi que, dos 13 votos, nove foram petistas — que ainda teve
duas deserções. O líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), liberou a bancada
que foi majoritariamente contra o afrouxamento. Depois da sessão, senadores
petistas avaliaram que deveriam ter seguido o mesmo caminho dos
peemedebistas, já que Paulo Paim (RS) e Walter Pinheiro (BA) avisaram que
votariam pela manutenção de Delcídio na prisão.
Antes de se reunir com a cúpula partidária, no entanto, o PT no Senado tem
uma preocupação mais instantânea. Delcídio era o presidente da Comissão de
Assuntos Econômicos (CAE), a segunda mais importante do Senado. A discussão
que se trava agora é se o partido deve indicar já outro nome ou não,
atropelando o líder que está preso.
Outro assunto a ser resolvido é a liderança do governo no Senado, escolha
que depende de Dilma. Houve uma conversa preliminar com o senador
peemedebista Blairo Maggi (MT), mas ele sinalizou que não quer o posto.
Outra possibilidade é fazer com que o senador José Pimentel (PT-CE) acumule
a função com a liderança do governo no Congresso.
(foto: Ailton de Freitas/O Globo)