Dois ex-ministros da Saúde, no governo Bolsonaro foram ouvidos esta semana pela CPI da Covid-19, no Senado Federal: Luiz Henrique Mandeta e Nelson Teich. Ambos deram seus depoimentos e não trouxeram, a princípio, muitas novidades do que já se sabia sobre as atuações do governo federal na pandemia.
Mandeta, por exemplo, afirmou que a ordem para utilizar cloroquina no combate à Covid não saiu do Ministério da Saúde. Também afirmou que um “aconselhamento paralelo” do presidente sugeriu que a bula da cloroquina fosse alterada pela Anvisa para acrescentar a informação de combate à Covid. Talvez tenha sido a declaração mais bombástica do seu pronunciamento, pois mostrou o interesse do governo em empurrar cloroquina para o consumo dos brasileiros, depois do governo gastar fortunas na aquisição e na fabricação pelos laboratórios do Exército, deste produto inócuo.
Mandetta disse que “nunca” recomendou que o uso da droga fosse adotado. Numa “tentativa heroica”, recomendou o uso compassivo, mas, “não funcionou para nenhum caso”.
Mandetta classificou o ministro da Economia, Paulo Guedes, de “desonesto intelectualmente” e “um homem pequeno para estar onde está”. O ex-ministro afirmou que no momento que o que mais ameaçava a economia era a saúde, Guedes se distanciou.
No segundo dia de depoimentos, o ex-ministro Nelson Teich, afirmou que deixou o cargo depois de apenas 29 dias em 2020 porque não tinha autonomia suficiente para exercer sua função e pela insistência do presidente Jair Bolsonaro na implementação do uso da cloroquina no combate ao coronavírus.
Para Teich, o presidente não tentava interferir no seu trabalho só que Bolsonaro contrariou as orientações técnicas sobre o uso da cloroquina — que não tem comprovação científica no combate ao coronavírus.
“Percebi que não teria autonomia. Isso refletia uma falta de autonomia e uma falta de liderança”, disse Teich. “Se existiu alguma tentativa de interferência, pode ser sido essa.”
Teich no entanto afirmou que não recebeu nenhuma ordem direta para implementar o uso do remédio. Segundo ele, a postura do presidente ficou clara em uma reunião do presidente com empresários, na qual Bolsonaro afirmou que o remédio seria implementado, em uma live nas redes sociais e em um pronunciamento em que o presidente disse que o ministro da Saúde teria que estar alinhado.
Em síntese: Teich diz que deixou Saúde por falta de “autonomia” e por não aceitar cloroquina
RECUSAS
Outra informação que foi enfatizada, mas que já era de conhecimento público é que o governo brasileiro recusou onze ofertas formais de fornecimento de vacinas contra a Covid. O método do Ministério da Saúde para dizer não, sempre foi o de ignorar as propostas. O número leva em conta apenas os episódios em que há comprovação documental da omissão governamental e já é de conhecimento dos senadores que vão compor a CPI.
Este placar pode aumentar com as investigações, pois um dos objetivos da comissão é apontar no relatório final o número de vezes em que o governo disse não à única solução para prevenir a doença.
Das onze recusas conhecidas e que podem ser provadas com documentos, seis são referentes à Coronavac. Há três ofícios assinados pelo diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, oferecendo o imunizante.
Há ainda mais três ofertas formais feitas pelo laboratório Pfizer. Segundo o ex-secretário de comunicação, Fabio Wajngarten, que deve depor na semana que vem o Ministério ignorava as propostas, exatamente como fez com o Butantan, ele próprio abriu as portas do Palácio do Planalto para uma negociação formal com o presidente da República e o ministro da Economia, Paulo Guedes.