A cada nova rodada de pesquisas sobre a sucessão ao governo do Paraná, renasce a pergunta que atormenta boa parte da classe política: quem será o ungido de Ratinho Jr. para 2026?
Nos bastidores, os possíveis indicados fazem das tripas coração para aparecer nas redes sociais com mais desenvoltura, intensidade e — claro — proximidade com o governador. Postar virou obrigação. É selfie de todos os ângulos, abraços coreografados com a população e registros de qualquer evento público, por menor que seja.
Alguns momentos chegam até a divertir: tem pré-candidato mostrando treino na academia, outros exibindo vídeos roendo uma costela gordurosa com as mãos em festas de igreja — tudo para transmitir simplicidade e “vida real”. E há aqueles que, de tão empenhados, quase acamparam ao lado de Ratinho Jr. nos eventos oficiais para reforçar a imagem de afinidade absoluta com o possível “grande eleitor”.
Mas nem tudo são poses e filtros.
Nos últimos dias, alguns aspirantes já partiram para o famoso “facão” do truco político: se lançaram como candidatos no interior mesmo sem a bênção do governador, anunciando-se a correligionários da própria secretaria como se o aval já estivesse garantido — quando todos sabem que não está.
O jogo começou, mas as cartas mais fortes permanecem nas mãos de quem lidera as pesquisas até agora. Ainda assim, o potencial do governo não pode ser tratado como blefe nem como facão. A capacidade de transferência de votos de Ratinho Jr. não deve ser subestimada — e só veremos seu verdadeiro peso quando ele, enfim, colocar suas cartas sobre a mesa rumo a 2026.
ÚLTIMAS PESQUISAS SEM REGISTRO DE 2025
A rodada estadual de novembro do Instituto Paraná Pesquisas trouxe duas mensagens de largo alcance. Primeiro: Sérgio Moro segue líder com folga em todos os arranjos testados para o Governo do Paraná em 2026, sustentando vantagem expressiva no primeiro turno e margens confortáveis no segundo. Segundo: a indecisão de Ratinho Junior sobre quem abençoar — e, sobretudo, a hipótese de forçar uma candidatura de Guto Silva contra a preferência difusa do seu próprio eleitorado — pode rachar a base e, paradoxalmente, fortalecer o atual favorito, hoje já associado por parcela relevante do eleitorado à “continuidade” do atual ciclo. Tudo isso sob uma moldura robusta de dados: 1.508 entrevistas presenciais em 65 municípios, entre 7 e 11 de novembro, margem de erro de 2,6 p.p. e amostragem em três estágios (PPT + cotas), com auditoria mínima de 20% das entrevistas, nesta análise do oinquiridor.com.br.
Lembrando que a partir de janeiro as pesquisas só poderão ser divulgadas se devidamente registradas no Tribunal Regional Eleitoral.
VANTAGEM NO SPRINT
No Cenário 1 (Moro x Requião Filho x Guto), Moro aparece com 47,5%, contra 28,8% de Requião e 7,8% de Guto — um desenho de competição assimétrica, em que o senador opera próximo ao teto de vitória em primeiro turno. No Cenário 2, substituindo Guto por Alexandre Curi, Moro mantém 44,2%, Requião 27,5% e Curi 13,8%; ou seja, Curi agrega mais voto que Guto, mas ainda insuficiente para representar ameaça real ao líder. No Cenário 3, com Rafael Greca no lugar de Curi, Moro marca 42,8%, Greca 21,5% e Requião 22,7%, um equilíbrio entre os dois segundos colocados que não trinca a dianteira de Moro.
Quando a fotografia migra para segundo turno, a vantagem de Moro permanece confortável:
- Moro 61,9% x 18,3% Guto,
- Moro 57,6% x 26,0% Curi,
- Moro 51,9% x 33,9% Greca,
- Moro 53,9% x 33,8% Requião.
É difícil conceber narrativa mais clara: o favorito não depende da fragmentação adversária — vence mesmo quando a base governista se unifica em torno de nomes mais competitivos. Comparando tendência com a rodada de outubro (não exibida aqui, mas tomada como referência pelo histórico recente), a mensagem é de manutenção: se houve oscilações, foram marginais e não alteraram a hierarquia — Moro permanece no primeiro lugar por distância visível. Em eleições estaduais, “estabilidade na frente” costuma valer ouro: naturaliza a liderança e induz parte do voto útil a migrar cedo para o polo percebido como vencedor.
RATINHO E O IMPULSO DA APROVAÇÃO EM 84%
QUAL SERÁ O FARDO MAIS PESADO?
A pesquisa simultaneamente mede a avaliação do governo Ratinho Junior e ajuda a explicar o pano de fundo do favoritismo de Moro. Aprovação geral de 84,3% ao governo e 74% de ótimo + bom criam um ambiente de continuidade bem avaliada — em regra, combustível para o candidato governista. Não à toa, na espontânea para governador, quando o eleitor responde sem cartão de nomes, Ratinho aparece citado (10,1%) — um “sinal de sombra”: o eleitor ainda associa 2026 à liderança vigente, mesmo que o governador não esteja, de fato, no jogo.
Esse “lastro de governo” também se expressa nas perguntas de herança: “quem é melhor para continuar o trabalho de Ratinho” e “quem merece o apoio de Ratinho”. Em ambas, o resultado é contraintuitivo e politicamente explosivo: Moro lidera com folga (41,7% “melhor para continuar”; 38,3% “merece o apoio”), Greca vem em segundo (23,6% e 25,9%), Curi em terceiro (14,0% e 15,2%) e Guto em quarto (6,2% e 6,7%).
Tradução: o eleitor não enxerga a continuidade de Ratinho num nome “do Palácio”, mas sim no favorito da corrida. É uma aderência simbólica rara: Moro veste, aos olhos do público, a camisa de uma possível continuidade. Isso explica parte da resiliência do senador mesmo em cenários onde o governo estadual é bem avaliado — e acende uma luz amarela para qualquer tentativa de “escolhido” que não esteja orgânico no imaginário do eleitorado.
GUTO X CURI/GRECA: O RISCO REAL DE RACHAR A BASE
Se a prioridade do grupo governista for conteúdo de continuidade com competitividade, os números sugerem que Curi/Greca têm muito mais tração que Guto entre eleitores que hoje aprovam Ratinho — ainda que nenhum deles, isoladamente, seja capaz de ultrapassar Moro por ora. Greca disputa a vice-liderança com Requião quando entra no cartão; Curi é o nome que mais cresce em relação a Guto, mas ainda distante do líder. Em contraste, Guto apresenta o pior desempenho entre os governistas tanto no primeiro turno quanto na percepção de “herdeiro” ou “merecedor do apoio”.
Daí decorre o ponto estratégico: insistir em Guto como cabeça de chapa — com Ratinho indeciso e a base dividida — abre uma avenida para Moro ampliar a vantagem já confortável e, pior, reconfigura a identidade da “continuidade”: a marca Ratinho passa a transferir capital não para um “governista clássico”, mas para o favorito (Moro), que o eleitor já associa à estabilidade do ciclo.
O FATOR “CURI/GRECA”: O QUE HÁ — E O QUE FALTA
Os dados indicam que Curi e Greca são hipóteses mais racionais para reduzir a lacuna frente a Moro. Com Curi, o líder cai para 44,2% (vs. 47,5% com Guto), e o deputado apresenta dois ativos: capilaridade parlamentar e perfil de gestor político, que conversa com o eleitor mediano de um estado municipalista. Com Greca, Moro mantém 42,8%, e o ex-prefeito, mesmo fora do cargo, retém recall e identidade de entrega — sobretudo na capital e entorno —, o que ajuda a fixar a ideia de herança de serviços.
O problema é que nenhum dos dois, isoladamente, fecha o gap. E como o segundo turno mostra Moro vencendo ambos com folga, a pergunta central do governismo não é “quem gosta de quem no Palácio”, e sim: qual arranjo minimiza a perda de capital de Ratinho e maximiza a retenção do voto continuidade? A pesquisa fornece uma pista: unificar cedo (para transformar aprovação em intenção) e mobilizar o selo Ratinho, sem afastar o eleitor que hoje associa “manter o que funciona” ao favorito.
O QUE FAZER — E O QUE EVITAR — A PARTIR DE AGORA PARA O GOVERNISMO:
- Escolher logo entre Curi e Greca e operar unidade real (não protocolar), com discurso de entregas verificáveis e aliança ampla;
- Rebater a associação “Moro = continuidade” ocupando a vitrine de herança concreta (programas, obras, metas) com o selo Ratinho;
- Evitar a “solução de gabinete”: empurrar Guto sem lastro popular custará a bandeira da continuidade e dará a Moro a moldura do “seguidor natural” de um ciclo aprovado.
IGUALZINHO AO PAI: REQUIÃO FILHO LIDERA A REJEIÇÃO COM 40%
Requiãozinho do PDT, com 40% de rejeição evidenciam que ele não carrega apenas seu próprio histórico, mas também parte da herança política do pai, o boquirroto e rei dos rompantes Roberto Requião. A rejeição elevada coloca Requião Filho em uma posição delicada e com dificuldades para ampliar seu alcance eleitoral ainda mais que vai dar palanque a Lula em 2026 no Paraná. Na sequência, aparecem Sérgio Moro (35%), Ênio Verri (35%) e Rafael Greca (33%), todos com rejeições elevadas que podem limitar seu alcance eleitoral. Já Paulo Martins (22%), Guto Silva (21%) e Alexandre Curi (20%) apresentam índices menores, com maior espaço para crescimento e aumentar a competitividade em 2026.