CERTIFICADO DA ETERNIDADE

alvaro

Eu vi Zico jogar, vi Sócrates jogar, vi também Maradona, Messi e Rooney, mas não vi Pelé jogar.
Ou melhor, eu vi sim!
Nasci em 72 e tenho certeza!
Assisti a cabeçada certeira contra a Itália, o gol que não houve em Gordon Banks e a assistência para Carlos Alberto carimbando a conquista da Jules Rimet.
Quando Pelé se despediu dos gramados, eu tinha apenas 5 anos de idade, mas tudo o que ele fez e que as lentes puderam eternizar eu vi, e acima de tudo, eu vivi.
Assisti à final de 70, os 4 x 1 em cima da Itália incontáveis vezes.
Não sou um saudosista radical, que louva o passado em desprezo ao presente de 2022 e seus craques contemporâneos, mas reconheço a importância de louvar àqueles que antes vieram e construíram esse esporte, fazendo do futebol mais que um desporto e sim, um exercício de religiosidade.
Meu pai conta; em 1958 no antigo endereço da rua Amazonas 43 em Ponta Grossa, meu avô, o bisa e mais os tios juntos, ouvindo em um gigantesco valvulado da Philco a final da Copa da Suécia.
Pelé fez dois gols, toda a família chorava copiosamente pela conquista do caneco. Pelé fez a minha família chorar de emoção, comemorar em catarse a primeira conquista.
Não éramos mais vira latas!
Tudo sem imagens, mas com a imaginação e emoção que o rádio oferece. Semanas depois, a família reunida foi ao cinema e no Canal 100, viveram e comemoraram tudo novamente.
Isso foi Pelé que fez!
Uso de licença poética e digo sim! Vi o Pelé jogar.
Eu vi Pelé de substantivo se tornar adjetivo.
Surgir como verbete no dicionário, sinônimo de excelência.
Ícone da cultura pop, personagem da história, marca valiosa, imagem icônica reconhecida em culturas do ocidente e oriente, em passaporte, visto de entrada em países sisudos, em embaixador da paz.
O Edson foi um ser humano, com todas as suas contradições, dúvidas e fraquezas.
Pelé é o além, surgiu de outro planeta, revelou-se de diferente dimensão.
Em 2022, com 82 anos Edson se foi, encontrar o Seu Dondinho e procurar um novo Santos para jogar. Lá em cima Santo não vai ser difícil encontrar.
Em 2022, Pelé deu mais um drible e fez um gol de placa. Certificou a sua permanência na eternidade, muito além de quinze séculos.

artigo : *Álvaro Divardin é jornalista*_

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