Cerveró confirma propina de US$ 6 milhões para Renan Calheiros

nestor cervero e renan calheiros

Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró
confirmou nesta segunda-feira o pagamento de propina de US$ 6 milhões para
o presidente do Senado Renan Calheiros. O valor, segundo Cerveró, foi pago
pelo operador Jorge Luz em relação à sonda Petrobras 10000. A informação
foi dada quando o ex-diretor da Petrobras foi perguntado sobre o assunto
pelo advogado de Fernando Schahin, um dos sócios do banco Schahin, que
acompanhava o depoimento. As informações são de Cleide Carvalho e Dimitrius
Dantas n’O Globo.

Ao citar Renan, o depoimento de Cerveró foi interrompido por Moro, já que o
senador tem foro privilegiado e o depoimento estava vinculado a outro
processo, que investiga o acordo entre a Petrobras e o Banco Schahin para a
operação do navio-sonda Vitória 10000 como forma de quitação de um
empréstimo de José Carlos Bumlai para o PT.

Cerveró já havia afirmado à Procuradoria-Geral da República, em delação
premiada já homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori
Zavascki, que Renan Calheiros (PMDB-AL) e o senador Jader Barbalho
(PMDB-PA) teriam sido os destinatários da quantia.

*INTERVENÇÃO DE CUNHA PARA PAGAMENTO DE PROPINA*

Em seu depoimento para o processo que investiga o empréstimo tomado pelo
pecuarista José Carlos Bumlai junto ao Banco Schahin, que teria como
destino o PT, Nestor Cerveró cita a intervenção do presidente da Câmara
Eduardo Cunha para que parte de uma propina de R$ 20 milhões fosse paga aos
participantes do esquema de corrupção na estatal.

Cerveró cita dois acertos de propina com a Samsung devido à construção de
duas sondas, a Petrobras 10000 e a Vitória 10000. O acordo em relação à
segunda sonda não teria sido cumprido, o que teria levado à participação de
Eduardo Cunha, segundo o ex-diretor.

“Na segunda sonda, a Samsung aumentou a propina para R$ 20 milhões de
dólares, propina essa que não foi paga. Finalmente, só depois de vários
anos é que o Fernando Soares conseguiu, através de um apoio do deputado
Eduardo Cunha receber parte da propina devida”, disse ao juíz Sérgio Moro.

De acordo com as investigações da Operação Lava-Jato, a operação do
navio-sonda Vitória 10000 foi encaminhada sem concorrência para a Schahin
Engenharia, controlada pelo Banco Schahin, como forma de pagamento de um
empréstimo tomado por José Carlos Bumlai a pedido do PT. Desdobramentos da
investigação levaram também à 27ª fase da Operação Lava-Jato, com a prisão
do empresário Ronan Maria Pinto. De acordo com o Ministério Público, Ronan
teria sido o destinatário final de parte do empréstimo tomado por Bumlai.

*GABRIELLI: DÍVIDA DO PT*

Ainda no depoimento Cerveró afirmou que recebeu do então presidente da
Petrobras, José Sérgio Gabrielli, a incumbência de usar um contrato da
Petrobras para quitar uma dívida de R$ 50 milhões do PT da campanha de
2006. Cerveró prestou depoimento ao juiz Sérgio Moro na tarde desta
segunda-feira, o primeiro depois de ter assinado acordo de delação premiada.

Cerveró afirmou ter procurado Gabrielli porque estava sendo pressionado
pelo então ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau a conseguir dinheiro
para liquidar uma dívida de campanha do PMDB, entre R$ 10 milhões e R$ 15
milhões. Ao expor o problema, no entanto, Gabrielli teria dito: “Vou te
fazer uma proposta. Você deixa que eu resolvo o problema do Silas e você
resolve o problema do PT. O PT tem uma dívida de R$ 50 milhões, decorrente
da campanha, com o Banco Schahin, que precisa ser resolvida”.

Cerveró afirmou que já havia sido procurado pela Schahin, que estava
interessada em operar sondas para a Petrobras em águas profundas, e viu no
contrato de operação da sonda Vitória 10000 a possibilidade de resolver o
problema do PT. Ao juiz, contou que chamou Fernando Schahin, diretor do
grupo, para conversar e disse a ele que, para chegar a um acordo, a
condição seria resolver a dívida do PT com o Banco Schahin.

— Em dois ou três dias, o Gabrielli me ligou no telefone direto. Disse:
“Nestor, aquela pendencia que você me falou foi resolvida, pode tocar o
barco”. Significava que tinha acertado a dívida — disse Cerveró, informando
que a conversa ocorreu entre dezembro e janeiro de 2007.

A partir do sinal verde de Gabrielli, Cerveró disse ter delegado a
sequência da documentação a seus subordinados e avisou que não teria
propina porque o valor seria o destinado ao PT.

Cerveró depôs no processo em que é réu José Carlos Bumlai, amigo do
ex-presidente Lula, que admitiu ter retirado em seu nome, no Banco Schahin,
um empréstimo de R$ 12,1 milhões. Esse valor foi quitado fraudulentamente
quando o grupo Schahin obteve o contrato para operar a sonda Vitória 10000,
no valor de US$ 1,6 bilhão.

Cerveró deixou a Petrobras em maio de 2007. Segundo ele, o então ministro
Edison Lobão lhe disse em março daquele ano que o presidente Lula afirmara
que “não havia jeito” e que teria de substituí-lo para atender a bancada do
PMDB, que queria o cargo para votar a CPMF.

O ex-diretor da Petrobras contou que em março houve uma reunião do Conselho
da Petrobras e da BR Distribuidora, com a participação da então ministra
Dilma Rousseff. O mesmo conselho que o retirou da diretoria internacional
da Petrobras o indicou para a BR Distribuidora. Cerveró afirmou que José
Eduardo Dutra, que era presidente da BR, simplesmente passou em sua sala e
disse: “Vamos embora nós, temos que ir para a BR, você é meu novo diretor
financeiro da BR”

Segundo Cerveró, Dutra lhe contou que Lula havia dito: “O Nestor não pode
ficar no sereno”. Para o delator, era uma espécie de reconhecimento por ter
resolvido a dívida do PT.

O ex-diretor da Petrobras afirmou ter ouvido do lobista Fernando Soares, o
Fernando Baiano, na época, que o pecuarista José Carlos Bumlai tinha
interesse que a dívida fosse resolvida. Cerveró disse que compartilhou cela
com Bumlai, a quem foi apresentado pelo próprio Fernando Baiano na época do
empréstimo.

Se considerado que o Grupo Schahin pode ter atendido integralmente o pedido
de Cerveró, falta ainda identificar como o banco fez o pagamento da
diferença, cerca de R$ 38 milhões. A Lava-Jato ainda não identificou se a
diferença correspondia a juros da dívida, que havia sido contraída em 2004,
ou se podem ter ocorrido outros empréstimos do banco Schahin ao PT.

José Sérgio Gabrielli não foi localizado pelo GLOBO.

(foto: montagem/internet)

*link matéria*
http://oglobo.globo.com/brasil/cervero-confirma-propina-de-us-6-milhoes-para-renan-calheiros-19120459#ixzz46GhWC7gq

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