fonte:Reinaldo Azevedo///
Chegou ao fim, depois de 44 dias, uma das greves mais absurdas de que se
teve notícia nos últimos tempos: a de parte dos professores do Paraná. Não
só absurda: também abusiva, violenta e politicamente orientada. O detonador
do movimento foi a decisão do governo de proceder a alterações técnicas no
pagamento de um grupo de professores aposentados, o que não acarretaria
prejuízo a ninguém. A pauta propriamente salarial só veio depois.
A greve foi conduzida pela APP-Sindicato (Associação dos Professores do
Paraná), mera franja da CUT e do PT. O partido resolveu se opor ao ajuste
fiscal conduzido no estado pelo governador tucano Beto Richa — como se
sabe, Dilma, quando corta despesas, é uma poeta; se um tucano faz a mesma
coisa, é um criminoso. Não tenho mais paciência para essas práticas
moralmente dolosas do petismo. A palavra de ordem do partido no Estado é
inviabilizar as medidas de contenção de despesas.
A greve ganhou repercussão nacional no dia 29 de abril, quando, apelando ao
vandalismo, supostos professores — nego-me a crer que fossem, embora,
infelizmente, tudo indique que sim — tentaram invadir a Assembleia
Legislativa, o que já haviam feito antes. Não estavam armados de canetas.
Não estavam armados de livros. Não estavam armados de bom senso. A coisa
era mesmo no pau, na pedra e na porrada. A Justiça tinha determinado que a
Polícia Militar protegesse o prédio do Legislativo de uma nova invasão.
O confronto entre manifestantes e polícia foi feio. Houve dezenas de
feridos — incluindo alguns policiais. Era tudo o que queriam alguns
trogloditas, para que pudessem, então, posar de vítimas, expondo suas
chagas a cinegrafistas e fotógrafos. Fascistoides violentos, que pretendem
impedir o funcionamento do Parlamento estadual no muque, na mancada, foram
retratados como vítimas de uma polícia perversa.
A imprensa nacional está em Curitiba por causa da Operação Lava Jato.
Muitos veículos viram a chance de provar para o PT que não alimentam
preconceito nenhum em relação ao partido. Tentaram transformar o tucano
Richa em vilão, como se o governo do Paraná estivesse à beira do colapso.
As televisões — muito especialmente as emissoras locais — fartavam em
mostrar os policiais em ação (e isso nunca é bonito), mas omitiram a
violência a que recorreram os ditos manifestantes.
O caso é especialmente absurdo porque o Paraná paga um dos melhores
salários do país para os professores. Aliás, o governo tomou uma
providência correta em nome da transparência: publicou na Internet os
ganhos de todos eles. Se você clicar aqui, poderá ter acesso aos dados.
O sindicato não gostou na inciativa, claro! Preferia que prosperasse a
falácia de que a categoria vive na penúria. Atenção: o piso para 40 horas
no Estado para um professor iniciante é de R$ 3.194,71. Quem recebe abaixo
disso não cumpre 40 horas. Ah, sim: dessas 40, 14 são hora-atividade — 35%
Se não for a maior proporção, é uma das maiores.
Desdobramentos
A governo do Paraná ofereceu 1% de ganho real aos servidores em 2017 e se
comprometeu a cobrir a inflação de 2015 e 2016. Os dias parados não serão
descontados.
Hermes Leão, presidente do sindicato, comemora e afirma que a greve foi
“amplamente vitoriosa”. E não teme o ridículo: “Foi um orgulho, uma
inspiração para o mundo em termos de resistência. E, ao primeiro sinal de
descompromisso do governo, entraremos em greve novamente”.
Pelo visto, Leão e seu sindicato ganham quando o povo do Paraná perde. Quem
recebe por dias que não trabalhou merece outro nome, que não trabalhador ou
professor. Nesse caso, a profissão é outra. Noto que o rapaz não dá muita
bola para aqueles que foram realmente prejudicados com isso tudo: os alunos
— na sua maioria, pobres.
O dinheiro que paga os salários do funcionalismo não pertence ao governo,
não pertence ao governador, não pertence a um partido político. É dinheiro
do povo. É espantoso que essa gente se sinta à vontade e feliz por, vênia
máxima, bater a carteira de pobre.
Os petistas do sindicato do Paraná deveriam ouvir o que já disse seu líder
espiritual, Luiz Inácio Lula da Silva: greve com pagamento de salário é o
mesmo que férias. Nos tempos em que Lula liderava paralisações no ABC
paulista, fazia-se um fundo de greve, em vez de avançar no bolso do povo.
A campanha eleitoral no Paraná começou cedo. E a turma não vai parar. O
governo que se prepare para dizer quem é quem e para evidenciar as armações
políticas. E a imprensa, especialmente a local (com raras exceções), tenha
mais compostura.