Além de ter sido condenado por crimes de sonegação fiscal, desvio de verbas da Alep e preso por receptação, Fabiano dos Santos, que é contador da campanha de Cristina Graeml e ex-presidente expulso do PMB no Paraná, partido pelo qual ela concorre à Prefeitura de Curitiba, está envolvido também em um processo sobre desvio de recursos públicos destinados a campanha eleitoral.
Um dos responsáveis pelas contas de Cristina, ele é citado dezenas de vezes em uma ação penal eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PR) que tem mais de mil páginas, conduzida a partir de um inquérito da Polícia Federal que apurou a apropriação indevida de recursos públicos em uma campanha em que ele atuou como contador.
O caso que motivou a investigação aconteceu em 2018, quando Fabiano dos Santos era o contabilista da então candidata à deputada estadual pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) no Paraná, Gisele Alessandra Shimidt, conforme consta no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Um ano antes, ela havia ganhado projeção nacional por se tornar a primeira advogada transgênero do Brasil a fazer uma sustentação oral no Supremo Tribunal Federal (STF).
Naquele pleito, Gisele recebeu R$ 30 mil repassados pelo diretório nacional do PSB para a sua campanha a uma cadeira na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). A advogada obteve apenas 573 votos na disputa. De acordo com a notícia-crime, R$ 21.351,60 de despesas não tiveram a devida comprovação. Ela teve as contas reprovadas na Justiça Eleitoral.
Segundo informações prestadas pela sua candidatura nos autos, R$ 12 mil das verbas teriam sido pagas diretamente a Fabiano pela prestação de serviços contábeis, o equivalente a 40% de todos os recursos disponibilizados à candidata, conforme consta nas informações oficiais. O valor chamou a atenção da Polícia Federal pela discrepância com outros serviços similares prestados por Fabiano, que costumava cobrar um valor fixo de R$ 954 de outros candidatos.
Outra movimentação suspeita identificada pela Polícia Federal demonstra que Fabiano dos Santos recebeu da conta de campanha de Gisele uma transferência de R$ 7.371,60 e, na mesma data, enviou na conta pessoal dela R$ 5.350,00. Também não foi localizado na conta de Fabiano dos Santos esse pagamento de R$ 12 mil declarado na prestação de contas. Ela afirmou em depoimento que ele a orientava nas questões contábeis.
“Destacou-se ainda, em relação ao contrato de prestação de serviços contábeis: o valor inicial era de R$ 964,00, posteriormente rasurado e alterado para R$ 12.000,00; o valor é totalmente discrepante com o praticado por FABIANO para seu os demais contratantes/candidatos”, diz um trecho do relatório da PF.
Gisele chegou a ser denunciada pelo Ministério Público Eleitoral. “Agindo dessa forma, incorreu a denunciada Gisele Alessandra Shimidt e Silva nas penas previstas no artigo 354 – A do Código Eleitoral (Lei nº 4.737/65), razão pela qual é oferecida a presente denúncia”, diz um trecho da denúncia. O artigo refere-se à apropriação indébita de recursos eleitorais pelo candidato ou seus administradores financeiros.
No fim do processo, no entanto, ela acabou assinando um acordo de não persecução penal com o Ministério Público Eleitoral, devolveu o dinheiro (R$ 21.351,60) e o processo foi encerrado.