Em uma matéria de 12 páginas, a revista Veja desta semana traz em detalhes fatos do “mensalão” investigado pela CPI dos Correios entre 2005 e 2006 e julgado pelo STF com a condenação de 24 envolvidos. A revista traz fatos de bastidores onde interessados tentaram a todo custo abafar as investigações para proteger alguns protagonistas do “esquema”, mas principalmente, desaparecer com evidências.
O texto destaca o papel fundamental que teve o relator da CPI, deputado federal Osmar Serraglio (PMDB), para aprovar o relatório final da investigação envolvendo ministros, deputados, empresários, dirigentes partidários, entre outros, naquele que então seria, o maior esquema de corrupção já visto no país.
Segundo o texto, no dia 5 de abril de 2006, o relator Serraglio trabalhava na sala de consultores do Senado para fechar o relatório final que seria votado nas horas seguintes. Detalhista, ele não queria deixar brechas para contestação dos investigados. Rigoroso, fazia questão de registrar no texto as pistas que poderiam ser seguidas pelo Ministério Público para fisgar os peixes graúdos que escaparam da rede de combate à corrupção da comissão.
A construção do relatório final não foi uma tarefa simples. Durante as investigações, houve tentativas de sabotagem. Os próprios parlamentares roubaram ou danificaram documentos confidenciais que comprometiam a eles ou a aliados. Bancos enviaram dados de sigilos bancários desfigurados ou fraudados para atrapalhar a apuração do caso. Documentos falsos eram plantados para desviar o foco e funcionários que o ajudavam eram afastados do trabalho. Naquela madrugada, o trabalho de coleta e organização das provas já não era o mais importante. Faltava a negociação política que permitisse a aprovação do relatório e o encerramento da CPI. O ambiente não era nada favorável.
Ainda de acordo com a revista, Osmar Serraglio foi escolhido para relatar a CPI dos correios justamente pelo perfil técnico e discreto. Como os petistas, os peemedebistas pensavam que seria fácil controlar um correligionário. Ledo engano. Resistindo a pressões e tentativas de sabotagem e manipulação, Serraglio produziu um relatório de 1880 páginas, cujos dados fundamentaram a decisão do Supremo Tribunal Federal a condenar à prisão os mensaleiros mais céleres.
O trabalho de Osmar Serraglio demonstrou que quando bem-intencionada, uma CPI colhe provas necessárias para a responsabilização, ela não usa de subterfúgios. “Ela enfrenta, aprofunda a investigação e leva a quem julgará todos os elementos necessários para a tomada de decisão. Esse mérito nós tivemos, pois os ministros do Supremo se curvaram à realidade das provas”, destaca Serraglio.
Serraglio diz que imaginou que a seriedade com que a CPI atuou iria infudir temor e que os políticos pensassem que dali em diante poderiam ser punidos. “O que percebemos no escândalo da Petrobrás é que, com a mesma desfaçatez, com a mesma certeza de impunidade a conduta ilícita prosseguiu. Nunca imaginei que viveríamos uma situação piorada”, afirmou o deputado para a Veja.