A oposição reagiu, na terça-feira (7), à declaração da presidente Dilma
Rousseff de que não “pegou um tostão” de dinheiro sujo e que não teme o
debate sobre sua saída antecipada da Presidência da República.
Os parlamentares classificaram as declarações da presidente à Folha de
S.Paulo como uma demonstração de “prepotência” e de “postura imperial”. Em
entrevista publicada nesta terça, Dilma diz não ter medo de sofrer
impeachment.
“Não tem base para eu cair, e venha tentar. Se tem uma coisa que não tenho
medo é disso”, disse.
“Eu já vi presidente dizer que luta com unhas e dentes para proteger o seu
país, mas é a primeira vez que vejo um presidente dizer que luta com unhas
e dentes para proteger o seu mandato. Ela não está lá para isso”, disse o
líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP).
Para o tucano, a fala de Dilma mostra que ela aceita o “jogo espúrio da
troca de cargos, da compra de favores”.
“Ela não tem limite ético no seu proceder”, atacou.
Em nota, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG) ironizou as
declarações de Dilma. “Para o PT, se o TSE [Tribunal Superior Eleitoral]
investiga ilegalidades na prestação de contas das campanhas eleitorais da
presidente da República, trata-se de golpe. (…) Tudo que contraria o PT,
e os interesses do PT, é golpe!”, afirmou.
Candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais, o mineiro afirma
que o discurso de petistas tem como objetivo “constranger e inibir
instituições legítimas”.
“Os partidos de oposição continuarão atentos e trabalhando para impedir as
reiteradas tentativas do PT para constranger e inibir a autonomia e
independência das instituições brasileiras”, concluiu.
Para o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), Dilma está “escrevendo
o script” de quem está deixando o poder. “É o discurso do ‘eu me garanto’,
‘não me intimidam’, ‘estou acostumada com isso'”, disse ele.
Caiado negou atitude golpista de partidos da oposição e ponderou que “as
regras estão sendo seguidas à risca”, em referência aos questionamentos
sobre as pedaladas fiscais, em análise pelo TCU (Tribunal de Contas da
União), e sobre suposto crime na campanha que reelegeu a presidente, em
estudo pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
“Ela é imune a tudo? É uma postura imperial, não é uma postura
republicana”, afirmou o senador. Ele ponderou ainda que os questionamentos
não se referem à “honra da presidente”.
“Não estamos discutindo a pessoa física. A pessoa física tem todo nosso
respeito. Agora, a pessoa jurídica presidente da República sabe que se
omitiu, prevaricou”, disse Caiado, citando o fato de que Dilma já presidiu
o Conselho de Administração da Petrobras, estatal alvo de investigação na
Operação Lava Jato.
Controle
Para Sampaio, a presidente desconsiderou a importância institucional dos
órgãos de controle ao dizer “eu não vou cair”.
“Mais do que uma prepotência, isso é uma desconsideração para com os órgãos
de controle do país. Quem pode rejeitar as contas dela é o TCU. Quando ela
diz isso, ela passa por cima de um órgão fiscalizador. Ela desconsidera que
isso independe da sua vontade”, disse. “É um absurdo essa postura”,
completou.
O tucano fez ainda uma provocação à presidente ao dizer que viu a
entrevista com um “misto de estarrecimento e alegria”.
“Alegria porque eu sei que tudo o que ela diz, desde a campanha eleitoral,
é mentira. Então, se ela diz que não vai cair, é porque vai.”
Para o líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), Dilma deveria
abandonar o “discurso de bravata” e “serenar os ânimos”.
“Antes de fazer um discurso público mais na linha da bravata, eu acho que a
presidente deveria tentar serenar os ânimos do país, mostrar uma direção.
Porque, infelizmente, o quadro atual é de muita contestação do processo de
sua reeleição e do seu desempenho como PR que não apresenta perspectiva de
longo prazo para o país”, disse.
Briga
No auge da pior crise de seus quatro anos e meio de governo, Dilma
desafiou, na entrevista à Folha, os que defendem sua saída prematura do
Palácio do Planalto a tentar tirá-la da cadeira e a provar que ela algum
dia “pegou um tostão” de dinheiro sujo.
“Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso aí é moleza, é luta
política”.
Apesar do cerco político que parece se fechar a cada dia, Dilma chamou os
opositores para a briga. “Não tem base para eu cair, e venha tentar. Se tem
uma coisa que não tenho medo é disso”.
Com dedo indicador direito erguido, foi mais enfática: “Não me atemorizam”.
Afirmou, ainda, que o governo prepara novas medidas para ampliar o ajuste
fiscal -mas não quis detalhar quais- e admitiu que cometeu erros no
primeiro mandato, mas disse que as “pedaladas” fiscais foram adotadas antes
do PT entrar no governo.