ARTIGO DE Edson Lau Filho:
O corpo de um menino estendido no chão frio, furado a faca, as poças e o rastro de sangue em imagens espalhadas pela internet em rede de espanto, horror e dor, ficarão para sempre como uma marca trágica de um triste e inconsequente de um espetáculo insano, alimentado por irresponsáveis que perderam o bom senso, o equilíbrio.
Aconteceu em Curitiba, capital que se orgulha de ser uma das mais civilizadas do país. Aconteceu em uma escola pública, fruto de uma briga entre adolescentes, que se drogaram com uma substância de nome “balinha”.
O resultado explodiu como uma bomba que, espera-se, faça com que os protagonistas do cenário construído comecem a pensar que o mundo real não é o que alimenta qualquer tipo de disputa ideológica ou de poder.
A vítima e infrator eram alunos de um colégio público do bairro Santa Felicidade, de tradição italiana e conhecido por seus restaurantes típicos. Infelizmente, não estavam ali para estudar…
Seguindo um rastilho que fechou quase mil estabelecimentos de ensino para uma maioria que quer completar o ano letivo e fazer o ENEM, estavam ali com mais alguns colegas protestando contra algo que nem sabem direito o que é: uma proposta de mudança no ensino médio que o governo federal apresentou, está em discussão, inclusive no Paraná, mas não foi aprovada.
À irresponsabilidade juvenil, até compreensível, juntou-se um sindicato ligado à CUT, que logo decretou uma greve por outro motivo que lhes interessa, o reajuste salarial. E também a senadora Gleisi Hoffmann (PT), que registrou em mensagem da internet um grito de “bora ocupar!” para que houvesse mais invasões “pela causa”.
Ironia: no começo do ano letivo, os professores foram brindados com a palavra de ordem da entidade que “representa” a categoria e onde se diz que a escola é território de resistência e luta. Onde se encaixa a morte de um jovem de 16 anos nisso?
Se movimentos de pais e alunos contra tais descalabros demoraram para aparecer, reforçando a tese de que os que gritam é que se impõem, mesmo em menor número, muito pior foi o posicionamento (ou a falta de) dos órgãos de controle.
Que deveria zelar pelos interesses da sociedade, cravou que a invasão era legítima e que a garotada fechou a escola deveria ser protegida contra abusos de terceiros. Terceiros quem? Os que pretendiam restabelecer a ordem? Os conselhos tutelares, responsáveis por menores, afirmaram nada encontrar de errado entre os alunos acampados há quase um mês nas escolas.
E agora? O corpo ainda estendido no chão, família estraçalhada pela desgraça, virou alvo de discurso político. Uma advogada dos movimentos de ocupação afirmou para a Folha de São Paulo que a culpa da existência do cadáver era do governo do Paraná.
Ela, candidata do PT na última eleição para a Câmara da Capital, estava preocupada com o enfraquecimento do movimento, como manchetou um jornal curitibano. Agora a entidade dos alunos que comanda as invasões diz que vai fazer uma assembleia para decidir se o absurdo continua ou não.
A vida ceifada do menino parece ser o que menos importa. Aos que têm um mínimo de respeito pelo ser humano, restam as orações.
Edson Lau Filho é coordenador da Juventude do Estado do Paraná