Estes tipos de declaração é o puro retrato do despreparo de uma candidata que pretende assumir e representar a cidade de Curitiba a partir do ano que vem. Logo após essa cretina resposta, treze entidades da sociedade civil repudiaram a fala da candidata à prefeitura de Curitiba Cristina Graeml (PMB), que na segunda-feira, em entrevista à RPC TV, declarou que caso seja eleita, pretende incentivar a doação de bebês por mulheres “abandonadas”. Graeml prometeu criar um “instituto pró-vida” para incentivar as doações para a “mulher que engravida sem querer e é abandonada pelo marido”.
Leia a nota de repúdio das entidades:
O Movimento Nacional da População em Situação de Rua e demais entidades abaixo-assinadas manifestam profunda indignação pela fala da candidata à prefeitura de Curitiba, sra. Graeml, exibida em entrevista em canal de televisão na cidade de Curitiba. Tal pronunciamento veiculado na última segunda-feira, revela profundo preconceito contra as mulheres – mães solos. A candidata sem nenhum pudor, sem nenhum respeito, com total desumanidade, estimula que mães “solteiras” doem seus filhos como se estes fossem coisas. Ou seja, para ela e em seu governo caso se eleja a prefeitura vai atuar para que mães vulnerabilizadas, em situação de rua, mães solos abandonem seus filhos e os coloquem para adoção. Essa crueldade proferida por essa candidata, não é nova, infelizmente.
No Brasil Colônia até o inicio do século XX, era essa triste e chocante realidade quando mulheres solteiras abandonavam seus filhos em decorrência do preconceito e da opressão social, na Roda dos expostos ou Roda da Misericórdia. Uma infinidade de crianças foram jogadas em rios ou deixadas ao tempo onde morriam por ataque de animais, doenças e fome. A roda de expostos era um depósito onde mães abandonadas, deixavam seus bebês. Essa Roda se constituía em um cilindro de madeira colocado nos Conventos e Casas de Misericórdia, onde as crianças eram deixadas pelas mulheres. O estranhamento diante de uma situação então banal, resulta do fato de que, diferente daqueles tempos, vemos hoje surgir propostas que se assemelham a esse período triste de nossa história.
Essa candidata quer recriar a “roda dos rejeitados” como uma agência municipal de distribuição de crianças, filhas e filhos de mães pobres, para doação, como se fossem objetos ou coisas. Histórias dramáticas de separações de crianças e mães não domiciliadas, em situação de rua, vulnerabilizadas, acontecem em nosso país, em nossa cidade, provocando uma drástica ruptura dos vínculos dessas mulheres com seus filhos e filhas. Essa proposta defendida por essa candidata, estigmatiza as mulheres, estimula o abandono, reforça práticas autoritárias já realizadas por parte de equipes médicas e/ou judiciais que muitas vezes afastam mãe de seu bebê, pelo fato de que em suas avaliações esta não teria condições de cria-los. Sabemos que parte da justificativa da separação desses bebês de suas mães é a incapacidade do estado, e das políticas públicas, de atendê-las e cuidar para que a criança tenha seus direitos atendidos no convívio com suas mães. Essa candidata, desconhece que em nosso país, vivemos novas relações sociais e humanas e com isso novas organizações familiares se formam. Essa candidata, desconhece o Estatuto da Criança e do Adolescente promulgado em 1990 e que inaugurou no ordenamento jurídico brasileiro a Doutrina da Proteção Integral, que declarou ser dever da família, da sociedade e do Estado assegurar, à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade os seus direitos. Também desconhece que a maioria dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. Segundo pesquisa do IBGE/PNAD, 50,8% das famílias são chefiadas por mulheres, e mulheres, que foram abandonadas, mulheres que escolheram ficar sós, mulheres que foram abusadas e se encontravam em situação de violência. No Brasil e no mundo, as mulheres estão na linha de frente da resistência ao fascismo. Os ataques aos corpos e sexualidades, com a violência em suas formas mais extremas, junto com o reforço do modelo de família heteropatriarcal, aumentam a sobrecarga de trabalho diante da crise e precarização das condições de vida, afetando principalmente as mulheres negras. Queremos que a Prefeitura crie casas de referência para mulheres em situação de rua, com programas e ações que reconstruam a dignidade dessas mulheres, com direito a trabalho digno, qualificação profissional, geração de renda, moradia e proteção social e que possam escolher ficar com seus filhos. O que queremos é que o Estado olhe para as mães, em especial as mães vulnerabilizadas, mães com filhos com deficiência, mães em situação de rua mães negras, periféricas e pobres que são a maioria nessa cidade que inclusive contribui com os impostos, criando e fortalecendo politicas públicas universais.
Não queremos e não permitiremos que tirem nossos filhos e filhas! Exigimos respeito e tratamento igual, conforme a Constituição brasileira!
Assinam:
Movimento Nacional da População em Situação de Rua – MNPR
Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros (as) – ABENFO/PR
Centro Estadual de Defesa dos Direitos Humanos das populações em situação de rua e catadora de materiais recicláveis no Paraná – CEDDH/PR
Coletivo Luzia
Grupo Dignidade
Liga Brasileira de Lésbicas – LBL/PR
Instituto Nacional de Direitos Humanos da População em Situação de Rua – INRua
Irmandade Sem Fronteiras
Marcha Mundial das Mulheres – MMM/PR
Observatório Estadual de Direitos Humanos da População em Situação de Rua – ODH POP Rua
Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – Regional Paraná (RFS/PR)
Rede Brasileira de EDH – ReBEDH
União Brasileira de Mulheres – UBM/PR
“Tal pronunciamento veiculado na última segunda-feira, revela profundo preconceito contra as mulheres – mães solos. A candidata sem nenhum pudor, sem nenhum respeito, com total desumanidade, estimula que mães ‘solteiras1 doem seus filhos como se estes fossem coisas.”As entidades comparam a fala da candidata de extrema direita a práticas do Brasil Colônia. “No Brasil Colônia até o inicio do século XX, era essa triste e chocante realidade quando mulheres solteiras abandonavam seus filhos em decorrência do preconceito e da opressão social, na Roda dos expostos ou Roda da Misericórdia”.