O delator da Operação Lava Jato Júlio Camargo afirmou nesta sexta-feira
(22) em interrogatório na Justiça Federal do Paraná que fez pagamentos de
cerca de R$ 7 milhões oriundos propina para o ex-ministro José Dirceu.
Segundo o lobista, já condenado em dois processos, os recursos foram pagos
para emissários de Dirceu, e através de horas de voo em aeronaves de
Camargo. As informações são de Fernando Castro/G1-PR.
Além das condenações, Júlio Camargo ainda é réu no processo que apura a
participação de José Dirceu no esquema de corrupção investigado pela
Operação Lava Jato. O interrogatório é a última etapa antes das alegações
finais, que precedem a sentença. José Dirceu será interrogado na próxima
sexta-feira (29).
O advogado Roberto Podval, que representa o ex-ministro, afirmou que os
valores recebidos por Dirceu não eram propina. “Todos os pagamentos feitos
e recebidos por ele foram por conta de serviços prestados. Não é verdade”,
disse ao G1.
Questionado pelo juiz Sérgio Moro, Júlio Camargo disse que os pagamentos
para José Dirceu foram feitos a pedido do ex-diretor de Serviços da
Petrobras Renato Duque. O delator disse que tinha uma conta corrente junto
com Duque e o ex-gerente de Serviços Pedro Barusco para pagamentos de
propina. “Num momento Renato Duque me chamou e disse, Júlio, da nossa conta
corrente eu quero que você destine R$ 4 milhões a José Dirceu”, relatou.
A defesa de Renato Duque não atendeu às ligações da reportagem.
A partir de então, o delator diz que foi procurado por outro operador,
Milton Pascowitch, que se apresentou como representante de José Dirceu e
estabeleceu um cronograma de pagamentos.
Deste total, R$ 2 milhões foram pagos entre 2008 e 2009, e R$ 1 milhão em
2010, sempre em dinheiro retirado por emissários de Dirceu, nunca
pessoalmente por ele. “O saldo de R$ 1 milhão foi feito numa conta de
afretamento de aviões que o ministro utilizava e que eram de minha
propriedade”, detalhou. Esses pagamentos já haviam sido mencionados por
Camargo em outro depoimento à Justiça.
Além desses pagamentos, porém, Júlio Camargo disse nesta sexta que fez
repasses de uma comissão que recebeu por intermediar um negócio de uma
empresa de tubos com a Petrobras, na qual contou com apoio de Renato Duque.
“Fui chamado novamente pelo Duque e ele disse que metade dessa comissão eu
tinha que destinar ao José Dirceu”, disse.
Por esse contrato, Júlio Camargo disse que repassou cerca de R$ 3 milhões
para emissários do ex-ministro. Ele não soube precisar as quantidades, mas
disse que neste caso o repasse também dividido entre entregas de dinheiro
ou horas de voo.
Apesar de ter conhecido José Dirceu pessoalmente, inclusive o recebendo em
casa para jantares, Camargo disse que nunca falou sobre propina com ele.
“Na minha frente ele nunca conversou sobre propina. O ministro José Dirceu
nunca chegou pra mim e disse: Júlio, saiu esse contrato, estou precisando.
Nunca”, garantiu.
Perguntado por Moro, porém, o delator disse que acreditava que Dirceu sabia
que o dinheiro que recebia era intermediado por ele. “O ambiente mostrava
que a regra do jogo era conhecida não só pelos empresários, mas pelos
políticos também”, justificou.
*Compra de avião*
Júlio Camargo ainda negou que tenha sido sócio de José Dirceu em uma das
aeronaves utilizadas pelo ex-ministro. Camargo disse que foi procurado por
Pascowitch, que negociou a compra de parte de um dos aviões em nome da
empreiteira Engevix. O delator disse que, inclusive, chegou a receber o
dinheiro de Pascowitch em 2011, mas que o negócio não se concretizou.
“Eu vendi a aeronave para a Engevix, nunca para José Dirceu. O Milton
alegou que a Engevix não queria mais, porque a compra não havia passado
numa reunião do conselho”, disse o delator. Júlio Camargo disse que
acredita que Pascowitch tenha utilizado recursos que seriam de José Dirceu
para fazer o negócio, mas que com a desistência da Engevix precisou dos
recursos para fazer o acerto com o ex-ministro.
O delator disse que, após ser pressionado por Pascowitch, acabou
estabelecendo um cronograma de pagamentos, e que restituiu os valores
integralmente. Com o acordo de delação firmado por Júlio Camargo, o avião
foi entregue ao Ministério Público, disse.
*Outro lado*
O advogado de José Dirceu, Roberto Podval, disse que todo o dinheiro que o
ex-ministro recebeu foi em função de serviço prestado, com nota fiscal
emitida. Afirmou ainda que Dirceu não recebeu propina de Júlio Camargo e
que tem a impressão de que as pessoas se favorecem nas delações usando o
nome de José Dirceu.
(foto: Rodolfo Buhrer/Reuters)
*link matéria*
http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2016/01/delator-da-lava-jato-diz-que-pagou-cerca-de-r-7-milhoes-para-dirceu.html
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