FONTE AROLDO MURÁ : VÃO A LEILÃO R$ 400 MILHÕES DE BENS DO EVANGÉLICO
“Que saudade dos tempos do João Jaime”, disse nesta sexta, 26, à coluna DE AROLDO MURÁ, um médico do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, pedindo anonimato. Com a expressão, o especialista em traumas e intensivismo quis apenas dizer que “a situação agora está insustentável no Evangélico, onde falta o básico para a prática da boa medicina e as ações trabalhistas só têm crescido desde 2014 para cá, quando passamos a ter um interventor no hospital e na SEB, sua mantenedora”.
O João Jaime citado é uma referência ao último presidente eleito da SEB, João Jaime Nunes Ferreira, que dirigiu (fazendo o que podia ser feito) a mantenedora do hospital.
Ele recebera a presidência como “presente de grego”, entregue em situação pré-falimentar depois de 20 anos de administração de André Zacharow e seu grupo. Naqueles dias, a SEB era composta de 10 igrejas evangélicas. Hoje, apenas a Presbiteriana do Brasil e Evangélica Luterana mantêm-se como associadas. As outras caíram fora, à medida em que o véu do caos gerado pelo passado foi se revelando.
LEILÃO DE R$ 400 MILHÕES
O médico mencionado tem distanciamento crítico e competência comprovados: além de sua ampla qualificação profissional, ele não é parte do quadro de cerca de 2 mil empregados da instituição.
Ele, como todo corpo médico, é de terceirizados ou de autônomos.
Enquanto a situação do Hospital Evangélico parece ter chegado seu ponto crítico máximo – com R$ 400 milhões de dívidas, boa parte delas trabalhistas -, o leiloeiro Hélcio Kronberg anunciava, na semana, estar fazendo o levantamento de bens móveis, imóveis e intangíveis pertencentes à instituição, para poder cumprir a ordem da Sexta Vara do Trabalho de Curitiba.
A Justiça do Trabalho determinou o leilão dos bens do HE para pagar credores.
LEILÃO EM 60 DIAS
Estimam fontes da área judicial que esse levantamento deverá demorar de 40 a 60 dias, ao fim do qual o juiz poderá determinar o início do leilão. As mesmas fontes admitem que os bens da instituição superam os débitos, “com relativa folga”.
Fonte de área financeira do próprio Evangélico – mantida anônima, por motivos óbvios -, admite que, a partir da Intervenção “podem ter sido estimuladas novas ações trabalhistas. Pois elas cresceram muito além do razoável… de 2014 para cá”
FALTA CONSIDERAÇÃO
Uma queixa clara é registrada em meios evangélicos, mesmo de membros de igrejas que se retiraram da Sociedade Evangélica Beneficente (SEB): só uma reunião da SEB foi promovida, desde a intervenção. E nunca se deu conhecimento – “até por consideração que seria esperada” -, ao meio evangélico do que está acontecendo sob a interventoria comandada pelo administrador de empresas Ladislau Zavadil Neto.
Ladislau Zavadil Neto: Interventor; João Jaime Nunes Ferreira: ex-presidente da SEB; André Zacharow: condenado pela justiça eleitoral
Ladislau Zavadil Neto: Interventor; João Jaime Nunes Ferreira: ex-presidente da SEB; André Zacharow: condenado pela justiça eleitoral
DIFÍCIL ASSISTÊNCIA PASTORAL
O clima estabelecido no Evangélico suscita muitas reclamações. Muitas delas, “impertinentes, não procedem”, como registra outro cirurgião que lá atua. Membro assíduo de uma igreja evangélica tradicional (histórica), o médico garante, no entanto, que há reclamações pertinentes:
“O certo é que têm sido anotadas dificuldades até para o atendimento pastoral dos doentes”.
Os pastores estariam “com seus direitos de ir e vir limitados no HE”, denuncia uma pastora de igreja neopentecostal de Colombo.
A situação da Faculdade Evangélica de Medicina não é diferente: depois de ter estado sob a intervenção da médica Carmen Paredes, a Intervenção passou a ser exercida pelo mesmo Ladislau Zavadil Neto.
FACULDADE SOBREVIVE
Depois de ter uma série de cursos universitários bem avaliados, a SEB mantém apenas o Curso de Medicina, com 700 alunos matriculados. Os demais foram fechados.
Na Faculdade a situação é um pouco melhor, pois ainda entram recursos do MEC e do Ministério da Saúde para garantir o funcionamento do Hospital-escola, parte da rica herança cultural e social montado pelo histórico médico Daniel Egg e seus companheiros nos anos 1950.
ZACHAROW EM JULGAMENTO
Dono absoluto, por 20 anos, das decisões dentro da SEB, do Hospital Evangélico e suas faculdades, o ex-deputado André Zacharow (igrejas batistas), deixou a instituição ao passá-la em 2012 à nova diretoria encabeçada por João Jaime. Houve eleição.
Zacharow foi objeto de várias acusações – acusações, apenas – quanto a má administração, e até apontado por suposta malversação de valores gerados por emendas parlamentares da SEB e do Hospital.
O assunto foi examinado pela PF, esteve nas mãos do ministro Celso de Mello, do STF, e acabou no Tribunal Regional Eleitoral -PR que condenou Zacharow por crime eleitoral.
Houve recurso e o processo esteve, até quanto sei, sob as vistas rigorosas do ministro Hermas Benjamin, no TSE.
Aguarda-se decisão do TSE.