É impressionante a sanha de destruição de matas virgens e áreas verdes urbanas, que, há muito tempo, vem se desencadeando em Foz do Iguaçu, com a conivência e patrocínio de agentes públicos municipais. Em muitos dos casos, com cegueira e desconhecimento absolutos das mais comezinhas técnicas ambientais.
Só no ano de 2022, recém findo, podemos citar a destruição descabida de diversos ambientes naturais do município, como por exemplo, a última das três lagoas, localizada no bairro de mesmo nome, para dar lugar à rodovia denominada Perimetral Leste, que desvia para a BR-277 o trânsito de caminhões vindos da nova ponte da Integração, que liga o Brasil com o Paraguai. Aí, diriam: Ah, mas essa estrada é de conta do governo federal. Sim, mas a área pertence ao município de Foz do Iguaçu, que cedeu passivamente, sem a mínima comiseração à lagoa. Inobstante os protestos dos moradores, que agora perderam até o nome do seu bairro, a insensibilidade da representação municipal falou mais alto. Nenhuma outra opção de desvio indicada pelos locais serviu.
Em maio do ano passado, a comunidade iguaçuense foi pega de surpresa com a destruição de área anexa ao Bosque dos Macacos, no Jardim Ipê, que teve grande derrubada de árvores nativas, para dar lugar a casas residenciais, sob a alegação de que nada poderia ser feito por se tratar de propriedade particular. Tudo sob os olhos condescedentes dos órgãos municipais. O resultado, como mostrou o noticiário do dia seguinte, foi à grande quantidade de macacos desesperados, sob o solo nu, sem saberem para onde ir. Tudo documentado fotograficamente pelos moradores das proximidades. É de se perguntar: será que uma desapropriação dessa área não resolveria o problema, mantendo vivo e ainda aumentando o bio-sistema de seus inofensivos habitantes, ajudando na segurança e preservação da espécie?

Mas tudo isso ainda é café pequeno para os que fazem pouco caso da natureza. A destruição desenfreada de áreas verdes também “agraciou” a Avenida Maria Bubiak, que liga a Avenida Felipe Wandscheer a BR-469 – Rodovia das Cataratas. No último mês de setembro, um dos moradores chorava o corte de mais de 300 árvores só na sua propriedade. Propriedade, aliás, desapropriada para o extermínio total.
Mas essas nefastas ações acima nominadas, são apenas pequena amostra do que a administração do município faz ou permite que se faça na cidade.
No dia 17 de janeiro corrente, a imprensa local mostrou a revolta dos moradores da Avenida Pedro Basso, sem dúvidas, a mais bela de Foz do Iguaçu e indicada ao prêmio de uma das mais bonitas do Brasil, contra a falta de empatia com a natureza por parte dos técnicos do meio ambiente, que compareceram ao local anunciando a necessidade de uma poda drástica e derrubada de grande quantidade de árvores que “ameaçavam” a comunidade com “grande perigo de caírem”. Tudo isso, ao que se informa, sem uma justificativa técnica pelo menos plausível. Menos mal que diante de tantos antecedentes do mesmo tipo – e até piores, os moradores se impuseram e não permitiram as ações destruidoras que se preconizavam para o local. Querem eles, com sobradas razões, um laudo técnico para “cura” de muitas das espécies, e não o simplismo da derrubada pela derrubada.
Mas nada contém os administradores da cidade. A saga de mexer com o verde continua.
Infelizmente, pasmem todos, nos últimos dois anos, com ferrenha voracidade, a administração da cidade cismou em acabar com a praça e nela construir uma escola. A pergunta é: por que destruir uma praça para dar lugar a uma escola, se nas imediações a prefeitura tem oito outras áreas baldias, sem árvores, para a construção da escola? Por que motivo derrubar grande parte das mais de 200 espécies do local, entre elas cerca de 30 ipês roxos (árvore símbolo do município, e por isso restrita por lei a sua derrubada), 30 Paus-Brasil plantados pelo Rotary Club, e hoje já na adultidade? Sem contar uma infinidade de outras árvores que chegam ao total de mais de 200.
É profundamente lamentável a insensibilidade do gestor municipal em não querer ceder. Não há explicação, pelo menos razoável, para essa insensatez e teimosia. Por que não construir a escola em outro local vazio e manter a praça? Por óbvio que ninguém é insano de ser contra a construção de uma escola. Ao contrário, é indesmentível a necessidade de se fazer muitas escolas. Mas não derrubar uma praça para tal mister. Atribuir a quê essa birra da administração iguaçuense? Comprometimento político? Dívidas de campanha? Sabe-se lá.
As informações colhidas dão conta de que o caso foi entregue ao judiciário, estando hoje o processo em grau de apelação junto ao Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Processo no qual, registre-se, a própria Prefeitura admite que têm outras áreas de tamanho e distância preconizados às necessidades da nova escola. Aguarda-se o julgamento e emissão de acórdão (decisão). Mas o tempo urge, mesmo porque, inobstante o caso estar sub-judice, temerariamente o governo municipal arriscou-se a proceder à licitação das obras, que já ocorreu e tem vencedor divulgado. Resta saber se os ocupantes da vez do Paço Municipal se arriscarão a iniciar a destruição da praça mesmo sabendo da situação jurídica pendente.
Oremos para que alguma luz, vinda de qualquer parte (desde que venha!) ilumine as mentes dos nossos administradores, chamando-os à razão e o façam refletir da necessidade de manter uma praça e construir uma escola.
OPINIÃO: Amâncio Ivan de Camargo Melo (Advogado, defensor do meio-ambiente, morador do Jardim Social)- https://www.h2foz.com.br/opiniao/
