Governo teme ação de Cunha para viabilizar impeachment

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Horas depois de concluir a reforma de seu ministério, que abriu espaço para
o PMDB no governo na esperança de barrar os pedidos de impeachment contra
ela, a presidente Dilma Rousseff mandou os auxiliares se prepararem para
reagir se o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se movimentar
para deflagrar o processo. As informações são da Folha de S. Paulo.

Com a reforma ministerial anunciada sexta (2), Dilma entregou ao PMDB o
controle de sete ministérios, incluindo as pastas da Saúde e da Ciência e
Tecnologia, que serão dirigidas por deputados do baixo clero, alinhados a
Cunha.

Mesmo assim, o governo teme que o presidente da Câmara dê nas próximas
semanas os passos necessários para pôr em marcha o impeachment, na
tentativa de camuflar o desgaste que ele tem sofrido desde que se tornou
alvo da Operação Lava Jato.

A Procuradoria-Geral da República denunciou Cunha ao Supremo Tribunal
Federal por suspeita de corrupção, acusando-o de receber US$ 5 milhões em
propina de fornecedores da Petrobras. O Supremo ainda não decidiu se
aceitará a denúncia e abrirá processo contra o deputado.

Na semana passada, o Ministério Público da Suíça informou que
encontrouquatro contas bancárias controladas por Cunha e seus familiares,
ampliando as suspeitas sobre ele. O deputado nega possuir contas no
exterior.

Na avaliação do Palácio do Planalto, as acusações contra Cunha tiram força
do movimento pró-impeachment, mas os auxiliares de Dilma apostam que o
deputado insistirá em deflagrar o processo, com o objetivo de criar uma
cortina de fumaça que o ajude a se defender das denúncias.

Cabe ao presidente da Câmara decidir se um pedido de impeachment deve ou
não ser analisado pelos deputados. Cunha recebeu 19 petições desde
fevereiro e já engavetou 11 até a semana passada.

O principal pedido, formulado pelo jurista Hélio Bicudo, que rompeu com o
PT há alguns anos, e pelo ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, que
trabalhou no governo Fernando Henrique Cardoso, continua em sua mesa.

É possível que Cunha também rejeite esse pedido, numa manobra combinada com
a oposição, que em seguida recorreria ao plenário para que a maioria dos
deputados desse a palavra final sobre o assunto. Seria possível assim abrir
o processo de impeachment e afastar Dilma da Presidência sem vincular Cunha
diretamente à iniciativa.

Na próxima semana, o TCU (Tribunal de Contas da União) deve rejeitar as
contas do governo referentes a 2014, o que pode realimentar a crise,
reforçando o discurso dos que defendem o impeachment.

Apesar dos riscos, a presidente chegou ao fim da semana aliviada com o
desfecho da reforma ministerial. Em almoço com governadores aliados após o
anúncio da nova equipe, ela estava “feliz da vida”, segundo um assessor.

Dilma disse acreditar que as mudanças no primeiro escalão e a reaproximação
com o PMDB ajudam a atenuar a crise e reduzem os riscos de abertura de um
processo de impeachment na Câmara.

A presidente reconheceu, porém, que será necessário trabalhar daqui para a
frente para tentar reaver a estabilidade política de maneira mais
consistente. A reforma ministerial foi apenas o primeiro passo neste
sentido.

Dilma pretende participar mais ativamente do trabalho de articulação
política, como fez no processo de montagem de nova equipe. A petista
assumiu as negociações e conduziu diretamente a maior parte das conversas
para escolha dos novos ministros.

A presidente quer manter o grupo do vice-presidente Michel Temer (PMDB) na
coordenação política. Sua intenção é que o ministro da Aviação Civil,
Eliseu Padilha, aliado do vice, trabalhe com o novo chefe da Casa Civil,
Jaques Wagner, e o ministro Ricardo Berzoini, da nova Secretaria de
Governo, na definição de estratégias para votações no Congresso Nacional.

A presidente acredita ainda que conseguiu reduzir uma de suas fragilidades
no Congresso ao abrir canal direto com o líder do PMDB na Câmara, Leonardo
Picciani (RJ), o que pode ajudar o Planalto a se contrapor a Cunha.

*RECOMEÇO*

Auxiliares de Dilma dizem que, com o fôlego obtido na reforma ministerial,
a presidente teria reunido condições para superar aos poucos a
instabilidade política e enfrentar a crise econômica.

Neste recomeço, Dilma fez concessões também ao ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, seu antecessor e padrinho político, algo que tentava evitar
desde o início do segundo mandato. A partir de agora, Dilma terá três
lulistas ao seu lado dentro do Palácio do Planalto: Wagner, Berzoini e o
chefe da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva.

Ao entregar sete ministérios ao PMDB, a presidente procurou contemplar os
principais líderes do partido, distribuindo as pastas a aliados do vice
Michel Temer, de Cunha e do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL).

A sétima ministra peemedebista é a senadora Kátia Abreu, na Agricultura.
Recém-chegada ao PMDB, ela é amiga de Dilma e não é considerada pelos
peemedebistas uma indicação partidária.

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