Gleisi Hoffmann (PT) perdeu mais uma. Após um mês mergulhado em sua maior crise, o IBGE voltou atrás e vai retomar a divulgação da Pnad Contínua, nova pesquisa sobre mercado de trabalho. No Senado, Gleisi criticou a pesquisa porque os dados não eram favoráveis ao governo federal e pressionou pela suspensão do levantamento, o que foi acatado, no primeiro momento, pelo IBGE. Em reunião ontem, o conselho diretor do órgão definiu, por unanimidade, manter a divulgação, no dia 3 de junho, dos dados do primeiro trimestre. A informação é da Folha de S. Paulo A presidente do IBGE, Wasmália Bivar, disse que a repercussão negativa pesou na decisão – que já era esperada. “Eu não vou dizer que não teve nenhuma influência. Seria bobagem. Mas o que contou realmente para a decisão são fatos objetivos.” Entre eles, Bivar ressaltou a certeza da divulgação no mês que vem. “O IBGE é para divulgar informação. Uma informação que está pronta é para ser divulgada.” A nova pesquisa (em 3.500 municípios), que começou a ser divulgada no início deste ano, mostra um desemprego maior que o levantamento anterior (que abrange seis regiões metropolitanas). Enquanto a Pnad Contínua mostrou uma taxa de 7,1% em média em 2013, o outro levantamento apontou 5,4%. A decisão de suspender a divulgação gerou suspeitas de ingerência do governo no órgão. O IBGE sempre negou tal possibilidade. Duas diretoras, contrárias à decisão, pediram exoneração, e 18 coordenadores colocaram seus cargos à disposição. O recuo da direção do IBGE é previsto para hoje, quando a equipe técnica da pesquisa se reunirá com a presidente para apresentar os estudos necessários para eventuais ajustes na pesquisa. Esses ajustes buscam viabilizar o cumprimento da nova lei do FPE (Fundo de Participação dos Estados), que determina o rendimento domiciliar per capita como um dos indicadores para repartição dos recursos.O problema é que há grande diferença entre as mar- gens de erro de cada Estado, o que poderia distorcer os repasses. A crise teve início no dia 10 de abril, após Bivar suspender, sem consulta aos técnicos, a divulgação da Pnad Contínua até janeiro de 2015. Ela disse que faltavam tempo e pessoal para fazer simultaneamente a revisão das informações sobre a renda per capita para adequá-las às exigências da nova lei do FPE e o processamento dos dados a serem divulgados. O IBGE disse que foi alertado sobre a necessidade de mudança metodológica após um pedido de informações no início de abril dos senadores Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministra da Casa Civil, e Armando Monteiro (PTB-PE). Os senadores argumentam que as margens de erro entre os Estados poderiam gerar contestações na Justiça. Técnicos responsáveis pela pesquisa dizem que não há necessidade de mudar a amostra da pesquisa nem alterar as margens de erro para atender à lei. Apesar de negar a suposta ingerência, Bivar disse que “o fato de ser ano eleitoral contou para essa avaliação [negativa]” da decisão, que teria sido “muito mais ponderada” se fosse em outro momento.