O advogado João Miguel Fernandes Filho protocolou representação na Câmara Municipal de Londrina pedindo a cassação do mandato de Marly de Fátima Ribeiro, alcunha Mara Boca Aberta, acusando-a de ter usado o Fundo Eleitoral para divulgar no ano passado a candidatura falsa ao Senado de seu companheiro conjugal Emerson Petriv e destinado metade dos recursos a que teve direito a seu assessor André Guimarães, como revelado pelo IMPACTO NA EDIÇÃO 1359.

Mara recebeu R$ 1,2 milhão do fundo eleitoral repassado por seu partido, o PROS (hoje Solidariedade) e a representação foi protocolada no dia 18. Segundo João Fernandes Filho, a Justiça Eleitoral não reconheceu a candidatura de Petriv, vulgo Boca Aberta a Senador, porque não foi homologada pelo partido a que dizia pertencer, o Agir. Apesar desse impedimento, Mara, que concorreu à Câmara dos Deputados, e seu filho Matheus Viniccius, que tentou a reeleição na Assembleia Legislativa, divulgaram amplamente e com recursos públicos a candidatura falsa de Boca Aberta, associando-se a ela nas peças publicitárias.
O trio foi multado em R$ 330 mil pela Justiça Eleitoral por propaganda irregular.
Mãe e filho não se elegeram. O patriarca Boca Aberta está com os direitos políticos suspensos por ter tido o mandato cassado como vereador, em 2017. Eleito deputado federal no ano seguinte graças a uma liminar do Tribunal de Justiça do Paraná, teve a diplomação anulada pelo Tribunal Superior Eleitoral em 2021.
A empresa Vitaguimarães Propaganda e Publicidade é apontada na prestação de contas de Mara à Justiça Eleitoral como a principal divulgadora da candidatura de Mara – que aparece nas peças publicitárias ao lado do marido e filho. Instalada numa casa de conjunto habitacional em Londrina, a empresa foi remunerada em R$ 604 mil, mas o pagamento, efetuado em duas parcelas, foi feito nominalmente para André Guimarães por meio de cheque e transferência bancária. Guimarães foi admitido no gabinete de Mara em janeiro deste ano, com salário de R$ 9 mil.
Segunda representação
Esta é a segunda representação que tramita na Câmara Municipal contra Mara Boca Aberta – que coleciona oito denúncias desde o início do mandato. A outra é de autoria do jornalista José Antonio Pedriali, que a acusa de legislar em favor de Boca Aberta, que, além de companheiro conjugal, é o principal financiador da campanha que a elegeu vereadora, o que caracteriza dupla infração do Código de Ética. A representação foi protocolada em março, teve parecer positivo da Procuradoria Jurídica e aguarda decisão da Mesa Executiva da Câmara.
No final do ano passado, Mara apresentou emenda à Lei Cidade Limpa – que impõe limite para a publicidade em fachada de imóvel comercial –, liberando, com efeito retroativo, o uso integral do espaço para essa finalidade. Boca Aberta foi multado em 2019 por utilizar integralmente as duas testadas laterais e a face central do imóvel que utilizou até o ano passado como escritório político dele, Mara e Matheus. Ele recorreu da multa, perdeu em primeira instância e aguarda decisão final do Tribunal de Justiça. O efeito retroativo proposto por Mara extinguiria o processo e anularia a multa.
A proposta de Mara foi rejeitada pelos seus colegas.
Mara é reincidente neste ato de improbidade. No segundo mês do mandato apresentou projeto de decreto legislativo que anulava a sessão da Câmara Municipal que cassou Boca Aberta por quebra de decoro. Diante da repercussão negativa, retirou a proposta antes da análise da Comissão de Justiça, o que tornou sem efeito as duas representações que pediam a cassação do seu mandato por essa afronta ao decoro parlamentar.
OBSERVAÇÃO: IMPACTO PR. AGUARDA O ENVIO DO DIREITO DE RESPOSTA SOLICITADO PELO SR. ANDRÉ GUIMARÃES POR EMAIL NO DIA 25/04/2023 E NÃO TIVEMOS MAIS RETORNO. A DIREÇÃO.