fonte:Editorial, O Estado de S. Paulo///
Luiz Inácio Lula da Silva é hoje um homem rico, um destacado membro da elite brasileira se se definir assim pessoas de posses que dedicam boa parte de seu tempo a voos de primeira classe ou jatinhos executivos, hospedagem em hotéis de luxo ou, para o lazer, em mansões de amigos, fruidor, entre outras coisas, de apartamento tríplex no Guarujá e aprazível e bem equipado sitio em Atibaia. Mas os tempos andam difíceis para tudo o que Lula representa politicamente. Então é hora de exercitar o velho discurso de ataques às “elites”, da qual fazem parte a imprensa livre e quem mais ouse mostrar que o rei está nu. Lula exerceu dois mandatos presidenciais e é inegável que nos seus oito anos de governo o País obteve importantes conquistas sociais e econômicas. Um chefe de governo não faz nada sozinho, sem o apoio e a cooperação da sociedade. Lula teve o mérito de conduzir o processo.
Lula tem responsabilidade também sobre o que veio depois dele. E depois dele vieram a incompetência de Dilma Rousseff e, principalmente, os efeitos negativos de uma política econômica populista e o escancaramento a Petrobrás que o diga das práticas políticas nefastas que implantou e estimulou em nome da “governabilidade”. Em português claro: a corrupção endêmica. Ninguém pratica a corrupção sozinho. Lula teve o demérito de assistir ao processo.
Os próprios petistas e seus apoiadores sabem disso. Não o admitem explicitamente, mas escudam-se no argumento falacioso de que é impossível governar sem fazer concessões a um “sistema” que é essencialmente corrupto. Então, a verdadeira opção do PT diante da corrupção foi aderir a ela e não combatê-la “sem tréguas”, como repetem Dilma Rousseff em seus discursos e o PT em sua propaganda.
Lula nem se dá ao trabalho.
É nesse cenário que se encaixa a retórica maniqueísta de que o País se divide entre o bem e o mal, “nós” e “eles”. E como o partido do “nós” está precisando de um salvador da Pátria, em sua arenga comemorativa do 1.º de Maio, Lula não se encabulou de colocar sutilmente a questão de sua volta à Presidência: “O que me deixa inquieto é o medo que a elite brasileira tem que eu volte à Presidência. É inexplicável, porque eles nunca ganharam tanto dinheiro na vida quanto no meu governo”. Nem todo mundo, é claro, mas quem ganhou, ganhou para valer, como a sucessão de escândalos está aí para comprovar.
E como o País precisa de alguém com grande valentia para domar a atual crise, Lula expôs, como de hábito, suas credenciais: “Estou quietinho no meu lugar, mas estão me chamando para a briga e sou bom de briga. Eu volto para a briga”. Está, como se vê, obcecado pela ideia da “volta”. Quanto à sua criatura, Dilma Rousseff, que não teve coragem de gravar o tradicional pronunciamento presidencial do Dia do Trabalho, Lula foi compreensivo: “A gente tem que ter paciência com a Dilma, como a mãe da gente tem com a gente. Ela foi eleita para governar quatro anos. Esperem o resultado final do governo”. Quer dizer: fiquem todos bem comportados, como um rebanho de ovelhas, que tudo se resolve. Se não, ele volta e dá um jeito.
Os argumentos de palanque de Lula são tão falsos quanto uma nota de três reais. Assim o são também aqueles expostos na propaganda partidária do PT veiculada na mídia eletrônica. Por exemplo, o de que o atual governo colocou mais gente importante na cadeia do que qualquer outro. Não é verdade. Quem investiga e pune criminosos não é o governo do PT, são as instituições do Estado. O governo do PT tem é fornecido um monte de criminosos importantes.
Alegam ainda os petistas que seu governo possibilitou, a quem antes não podia, viajar de avião, comprar carro, morar em casa própria. De fato, a política econômica populista focada no crédito fácil para o consumo produziu de imediato efeitos positivos. Mas foi uma das responsáveis pela gastança desenfreada do governo, que descuidou do controle de suas contas e de administrar as prioridades de investimentos de infraestrutura em benefício do bem comum. O resultado é que a economia brasileira está à beira do abismo e, pressionada pela queda do nível de emprego, dos salários e da crescente inadimplência, a classe média começa a despertar do sonho efêmero das prestações mensais a perder de vista. Nem todos da perversa elite são culpados por isso.