O então presidente Lula e seu colega argentino Nestor Kirchner fizeram “uma
intervenção decidida” para ajudar a empreiteira Odebrecht a se associar a
uma firma argentina com vistas à construção de uma hidrelétrica no Equador.
As informações são da Folha de S. Paulo.
A informação consta em telegramas de embaixadas brasileiras e do Itamaraty
entre 2003 e 2010, material que expõe a ação do governo brasileiro em
benefício de empresas brasileiras como forma de ampliar a influência do
país. São 2.136 páginas de telegramas reservados que foram reclassificados
e divulgados nesta terça (16), após requerimento da revista “Época”.
Em 2005, o embaixador brasileiro em Quito (Equador), Sergio Augusto
Sobrinho, comemorou a ação de Lula e Kirchner em prol de uma demanda da
Odebrecht, que procurava se associar à empresa argentina IMPSA.
Ele escreveu ao então chanceler Celso Amorim: “Estou seguro de que a
flexibilização na postura da IMPSA e a aceitação, por parte da empresa
argentina, da proposta de texto elaborado pela Odebrecht não teriam sido
possíveis sem a intervenção decidida de Vossa Excelência e dos presidentes
Lula e Kirchner”.
Sem a concordância da IMPSA, a Odebrecht não conseguiria assinar um
memorando que lhe permitiria participar da concorrência da hidrelétrica de
Toachi-Pilatón, obra com custo total estimado em US$ 452 milhões.
Em 2007, mostram telegramas, a Odebrecht conquistou o contrato. Mas no ano
seguinte, após divergir do governo local, deixou o país.
Material da embaixada em Argel (Argélia) deixa explícitas as intervenções a
favor da Odebrecht e da Andrade Gutierrez. Em 2006, o embaixador Sérgio
França Danese relatou ter dito a interlocutores da Odebrecht que poderia
mostrar às autoridades argelinas “as vantagens políticas de contar com
empresas brasileiras”: “Será a forma de viabilizar o entendimento,
oferecido pelo presidente Bouteflika […], de que a Argélia aplicaria
também parâmetros políticos para favorecer empresários brasileiros”.