MPF suspeita que empresa da Lava Jato pagou serviço jurídico da campanha de Gleisi

gleisi3

fonte:*Chico Marés e Kelli Kadanus, Gazeta do Povo*

A senadora Gleisi Hoffmann (PT) pode ser investigada pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) por envolvimento no esquema no Ministério do Planejamento
descoberto nas investigações da Operação Lava Jato. De acordo com o
Ministério Público Federal (MPF), documentos e controles apreendidos no
escritório do advogado Guilherme Gonçalves, que foi alvo de mandados de
busca e apreensão na 18.ª fase da operação, mostram repasses da empresa
Consist que podem ter ligação com o pagamento de honorários de campanhas da
petista.

Os indícios seriam enviados ainda nesta segunda-feira (24) para o STF, que
vai decidir se Gleisi será ou não investigada, já que ela tem foro
privilegiado. O envolvimento da senadora apareceu depois da Operação
Pixuleco II, da Polícia Federal (PF), que teve como alvo contratos de
crédito consignado firmados pelo Ministério do Planejamento em 2010 –
último ano da gestão do marido de Gleisi, Paulo Bernardo, na pasta.

*Senadora e advogado negam.*

De acordo com os investigadores, a Consist teria iniciado pagamentos de
vantagens indevidas depois da celebração de um acordo de cooperação entre o
Ministério do Planejamento, a Associação Brasileira dos Bancos (ABBC) e o
Sindicato das Entidades Abertas de Previdência Privada (Sinapp). O objetivo
do acordo era a disponibilização, pela internet, de serviços e sistema
informatizado de gestão de margem consignável em folha de pagamento.

“Os recursos são privados. São do Sinapp e da ABBC, que pagam uma taxa de
cada empréstimo e repassam isso para a Consist. Isso é permitido através de
uma norma do Ministério do Planejamento”, explicou o procurador do MPF
Carlos Lima.

De acordo com o procurador, porém, há documentos que demonstram que parte
do dinheiro da Consist pago ao escritório de Gonçalves seria para pagar
honorários de campanhas de Gleisi. “Não existe uma relação jurídica entre o
escritório e a Consist. Na verdade havia uma falsa prestação de serviços.
Sob esse aspecto me parece que o escritório agiu de modo a lavar dinheiro”,
diz Lima.

“O que aparenta é que esses pagamentos [da Consist] serviam como
remuneração desses serviços prestados por ele [Guilherme Gonçalves]. Ele
receberia da Consist remuneração pelos serviços prestados a Gleisi”, afirma
o procurador.

O escritório de Gonçalves prestou serviços a Gleisi nas eleições de 2010,
quando ela venceu a disputa para o Senado, e em 2014, quando ela foi
terceira colocada entre os candidatos a governador. Nessas duas eleições,
Gleisi pagou R$ 150 mil ao escritório pelos serviços de advocacia, sendo R$
100 mil em 2014 e R$ 50 mil em 2010. Os dados constam das prestações das
campanhas de Gleisi ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ela também contratou o escritório para prestar consultoria em projetos, no
início de 2011 – quando assumiu o mandato de senadora.A primeira
contratação do escritório ocorreu antes do início dos repasses da Consist
ao escritório. Em 2008, quando Gleisi foi candidata à prefeitura de
Curitiba, a campanha da petista pagou R$ 156 mil ao escritório de Gonçalves.

*Senadora e advogado negam que Consist fez pagamentos eleitorais*

A senadora Gleisi Hoffmann (PT) e o advogado Guilherme Gonçalves negam que
a Consist tenha pago qualquer serviço em benefício dela ou de sua campanha.
Segundo Gleisi, todos os serviços prestados pelo advogado foram pagos ou
por ela ou pelo PT. Já Gonçalves diz que seu contrato com a Consist não
teve qualquer relação com as campanhas da senadora.

Gonçalves foi advogado da campanha de Gleisi nos anos de 2008, 2010 e 2014–
nesta última, apesar de ter sido pago pela campanha para o governo do
estado da petista, ele também prestou serviços para outras candidaturas da
coligação. Gleisi diz que nas duas primeiras ocasiões, os pagamentos foram
feitos diretamente pela campanha. Já os serviços de 2014 ainda não foram
pagos– ela afirma que o PT assumiu a dívida.

A senadora confirma ter pago a Gonçalves, também, por uma consultoria de
projetos de lei, no início do seu mandato como senadora– com o valor total
de R$ 15 mil. Gleisi diz ainda que não conhece a Consist e que não sabe de
qualquer relação da empresa com o escritório do advogado.

Já Gonçalves nega que a Consist tenha pago qualquer serviço seu para a
senadora. “Os recursos da empresa Consist ingressaram no escritório via
pessoa jurídica – sociedade de advogados – e, após a devida tributação,
foram depositados em contas da pessoa física do sócio Guilherme de Salles
Gonçalves. O pagamento da Consist não teve nenhuma relação com a senadora
Gleisi Hoffmann”, diz o advogado, por meio de nota.

O valor pago na primeira campanha, para a prefeitura , foi menor do que o
das campanhas seguintes – posteriores ao início dos pagamentos da empresa
Consist ao escritório.

“A coordenação e organização completa de uma campanha eleitoral para a
prefeitura de Curitiba têm custos superiores a uma campanha ao Senado. No
caso da campanha ao governo do estado em 2014, o escritório atuou em
conjunto com dois outros escritórios de advocacia, pelo que os honorários
cobrados foram, efetivamente, inferiores, já que o serviço prestado foi
menor”, declara o advogado.

A reportagem tentou entrar em contato com o ex-ministro Paulo Bernardo, mas
não teve sucesso.fonte:*Chico Marés e Kelli Kadanus, Gazeta do Povo*

Compartilhe