No Brasil, a República segue firme — mas só para o povo. Para as castas estatais, vive-se um regime de privilégios digno do Antigo Regime, onde magistrados, procuradores, conselheiros e apadrinhados da máquina pública garantem, mês a mês, gordos salários inflados por penduricalhos que fariam corar a corte de Luís XIV.
Não se trata de mero exagero retórico. Enquanto o brasileiro comum financia a farra estatal com uma das cargas tributárias mais pesadas do planeta, os tribunais superiores, como o STJ e o TST, preparam-se para despejar nada menos que R$ 3,4 milhões mensais em novos “adicionais” a servidores, sob a esfarrapada justificativa de “pressão sobre a força de trabalho”.
Essa engenharia do privilégio é sofisticada e histórica. Raymundo Faoro já denunciava, em Os Donos do Poder, que o Brasil não se construiu como uma democracia liberal genuína, mas como um apêndice da monarquia patrimonial portuguesa, onde o “estamento burocrático” — aquela casta de servidores e agentes públicos — opera como um verdadeiro feudo acima das leis e do povo na análise qualificada do oinquiridor.com.br.
Bruno Carazza, em O País dos Privilégios, atualiza o diagnóstico: os donos do poder migraram dos solares aristocráticos para os tribunais, ministérios e repartições públicas, onde os privilégios se mantêm intactos, sob novas roupagens, blindados por normas, interpretações jurídicas e a velha cultura do compadrio estatal.
Eis o Brasil em 2025: um país onde, segundo o próprio TCU, ministros como Bruno Dantas posam de indignados em eventos empresariais, afirmando sentir “vergonha” dos penduricalhos, enquanto embolsam R$ 1,1 milhão anuais em benefícios “indenizatórios”, dos quais uma fatia generosa vem disfarçada de diárias, auxílio-alimentação e outros mimos de difícil rastreamento.
É o mesmo teatro moralista que presenciamos com o presidente do STF, Luís Roberto Barroso. Em entrevista recente, Barroso defendeu com ares de estadista a limitação dos supersalários — desde que, claro, se respeitem os “extras justificáveis”, como o adicional por substituição de colegas em férias, um subterfúgio institucionalizado para manter os rendimentos da toga muito além do teto constitucional.
Para o estamento burocrático, o teto salarial é apenas um piso simbólico. E qualquer tentativa de enquadramento esbarra em uma intricada teia de “indenizações”, “licenças compensatórias” e auxílios, cuidadosamente construídos desde 2011 para burlar o teto de R$ 46 mil, com salários efetivos que frequentemente ultrapassam R$ 60 mil.
Mas o custo disso não se limita às cifras. Ele aparece na conta de luz cada vez mais cara, na inflação de impostos disfarçados como o IOF, nas reformas tributárias que ampliam o fardo sobre o setor produtivo, e no sufocamento do empreendedor que, sem lobby ou foro privilegiado, precisa escolher entre sustentar o Estado ou o próprio negócio.
O privilégio é o pilar da desigualdade brasileira. E ele não nasce no mercado — como tentam vender os profetas do igualitarismo autoritário —, mas sim no seio do aparato estatal. Ali, castas blindadas e politicamente organizadas sequestram o erário e perpetuam uma aristocracia de toga e crachá.
A verdadeira reforma que o Brasil precisa não é tributária, mas moral e institucional: o desmonte do estamento burocrático, o fim dos penduricalhos, a transparência radical nas folhas de pagamento públicas e a liberdade plena do indivíduo para se livrar da tutela estatal.
Enquanto essa máquina não for desmontada, seguiremos pagando — na conta de luz, nos impostos, no crescimento estagnado e na ilusão de que a República serve ao povo.
Serve, sim — mas no espeto!
A DIREÇÃO