Documentos que integram a Operação Zelotes apontam que a empresa LFT
Marketing Esportivo, de Luis Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente
Lula, recebeu R$ 1,5 milhão da empresa de lobby Marcondes e Mautoni na
mesma época em que os lobistas foram remunerados por empresas interessadas
na renovação dos efeitos de uma medida provisória pelo governo federal. As
informações são da Folha de S. Paulo.
Para a Procuradoria da República no DF, “é muito suspeito que uma empresa
de marketing esportivo receba valor tão expressivo de uma empresa
especializada em manter contatos com a administração pública (Marcondes e
Mautoni)”.
Entre 2013 e 2014, segundo a investigação, o grupo de lobistas atuou para
renovar uma medida provisória de 2009, com prazo de validade de cinco anos,
que na época havia gerado o pagamento de “comissões”. A nova empreitada
ocorrida entre 2013 e 2014, de acordo com a Zelotes, resultou na edição da
medida provisória n° 627, de 2013, que foi convertida na lei nº 12.973, de
2014.
A investigação não aponta de que forma Luis Cláudio supostamente teria
agido para a renovação da medida provisória.
Na petição entregue à 10ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal, a
Procuradoria concluiu que a firma de Luis Cláudio “estranhamente” foi o
segundo maior destino dos recursos obtidos pela Marcondes e Mautoni em 2014
das firmas automotivas MMC e Caoa, as mesmas que são alvo de investigação
relativa à medida provisória de 2009.
As empresas, segundo a PF, pagaram R$ 8 milhões cada uma à Marcondes e
Mautoni no ano de 2014. O terceiro maior cliente da Marcondes foi uma
agência de turismo, com apenas R$ 18 mil.
Ao analisar os registros de saída do dinheiro da Marcondes, a Zelotes
concluiu que em primeiro lugar apareceu o próprio dono da firma, Mauro
Marcondes, com R$ 3 milhões, e em seguida a firma do filho do
ex-presidente. Abaixo da LFT surgiu a mulher de Mauro, Cristina, com R$ 1
milhão. Em quarto lugar veio a SGR Consultoria, com apenas R$ 200 mil,
também contratada em 2009 para a edição da medida provisória anterior.
“Dentro desse contexto”, diz a Procuradoria, “justifica-se a execução de
busca e apreensão na sede da empresa” LFT, cumprida nesta segunda (26) em
São Paulo.
A busca e apreensão foi deferida pela juíza federal substituta da 10ª Vara,
Célia Regina Ody Bernardes. Após o deferimento, porém, a Procuradoria
apurou que “outras duas empresas, que têm vínculos societários entre si,
têm a mesma sede”, a Touchdown Promoção de Eventos Esportivos Ltda e a
Silva e Cassaro Corretora de Seguros Ltda., e por isso ofereceu um
aditamento para que as buscas fossem estendidas às outras duas empresas, o
que também foi deferido pela juíza.
De acordo com a investigação, a Touchdown tem como única sócia a própria
LFT. O administrador da Touchdown é Luis Claudio, o sócio administrador da
LFT. A outra sócia da LFT, Fatima Regina Cassaro da Silva é também dona,
com 50% das cotas, da Silva e Cassaro Corretora de Seguros Ltda. Luis
Claudio foi sócio da corretora entre 2014 e 2015.
“Enfim, ante o quadro de promiscuidade apresentado, tudo indica que as
empresas representam uma única entidade. Nessa linha, não há como, na atual
fase da investigação, abrir mão do material localizado no endereço do
condomínio empresarial”, apontou a Procuradoria da República, em ofício.
“A unidade das empresas (física e societária) é evidente, tudo girando em
torno de Luis Claudio Lula da Silva.”
Pagamentos da Marcondes e Mautoni à firma do filho de Lula haviam sido
revelados por “O Estado de S. Paulo” no último dia 1º.
Em nota divulgada à imprensa, o advogado do filho de Lula, Cristiano Zanin
Martins, afirmou que a ação da PF nesta segunda-feira foi “despropositada”,
pois a empresa Touchdown “não tem qualquer relação com o objeto da
investigação” da Zelotes.
“A Touchdown organiza o campeonato brasileiro de futebol americano –torneio
que reúne 16 times, incluindo Corinthians, Flamengo, Vasco da Gama,
Botafogo, Santos e Portuguesa–, atividade lícita e fora do âmbito da
referida operação”, afirmou a nota.
“A Touchdown e a LFT jamais tiveram qualquer relação, direta ou indireta,
com o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF). Assim que tomaram
conhecimento da busca e apreensão os advogados da Touchdown e da LFT
pediram à Justiça e à Polícia Federal acesso a todo o material usado para
justificar a medida, não tendo sido atendidos até o momento. Tal situação
impede que a defesa possa exercer o contraditório e tomar outras medidas
cabíveis”, informou o advogado.
(foto: Diário do Poder)
*link matéria*
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/10/1698829-filho-de-lula-levou-r-15-mi-de-forma-muito-suspeita-diz-procuradoria.shtml