Paulo Bernardo tentou explicar sumiço e Gleisi é acusada por crime de corrupção passiva qualificada

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Antes de se enrolar no STF, o ex-ministro Paulo Bernardo divulgou nota dando versão ao ‘desaparecimento’ noticiado em grandes jornais nacionais. Confira.

“Li nos jornais, ainda em dezembro de 2014, que fui arrolado como testemunha de defesa pelo advogado de Ricardo Pessoa, dono da UTC. Eu ainda era ministro das Comunicações, morando em Brasília com Gleisi, num apartamento funcional, onde ainda estamos.

Na semana passada ouvi dizer, literalmente falando, que o depoimento estava marcado para esta semana em Curitiba. Não tendo recebido qualquer comunicação da Justiça ou mesmo do advogado que solicitou meu depoimento, resolvi aguardar, acreditando que as formalidades normais num processo como esse seriam cumpridas, ou seja, que eu seria intimado a comparecer, com a informação de data e local.

Aqui, abro parênteses para informar que Gleisi e eu temos um apartamento em Curitiba, para onde mudamos no início de 2014. Ali recebemos todas as correspondências e contas a pagar. Mas permanecemos a maior parte do tempo em Brasilia, onde trabalhei até dezembro e ela trabalha, no Senado. Nossas crianças estudam em Brasilia e nosso endereço é de fácil localização, pois como disse, moramos em apartamento funcional.

Continuando: nesta semana, jornalistas começaram a me procurar no gabinete da Gleisi para confirmar o meu depoimento. A assessoria da senadora não sabia informar, mas uma repórter da Folha de São Paulo pediu a Gleisi o número do meu celular e me ligou, na terça-feira, dia 3 de março. Citou fontes anônimas que teriam dito que eu iria depor em Curitiba. Informei à jornalista que não tinha sido intimado, que não tinha qualquer informação além de algumas notas na mídia
e que continuava aguardando uma notificação ou convocação. Ela informou que tinha ligado a pedido da redação da Folha de São Paulo e que iria repassar a informação a quem solicitara.

Um jornalista da Gazeta do Povo ligou para o gabinete da Gleisi perguntando se realmente eu tinha “deixado o País”. Diante da surpresa da assessora e da informação de que estou em Brasília, informou que não faria aquela matéria.

Entretanto, a Gazeta deu grande espaço às declarações do advogado do dono da UTC de que eu poderia estar morando em Ribeirão Preto-SP.

Na mesma terça-feira, liguei para o advogado Juliano Breda, solicitando que me orientasse sobre como proceder e ele se prontificou a ligar para a Vara da Justiça informando meu endereço. Concordei e logo depois ele me retornou informando que tinha ligado e que os servidores responderam que anotariam no processo que houve uma ligação para informar o endereço e na sequência mandariam a intimação para o meu endereço.

Hoje, a Folha de S.Paulo publica matéria com este teor na versão impressa onde me trata com DESAPARECIDO, sem que tenham me ligado novamente para verificar. Vários outros veículos deram matérias com conteúdo parecido. O Estadão informa os nomes das pessoas arroladas como testemunha e informa que o meu “advogado e amigo” havia fornecido meu endereço para as providências cabíveis. O Globo deu matéria online com as mesmas informações, provavelmente obtidas na Justiça. No caso da Folha, devem ter achado a história que contei à sua repórter muito sem-graça e resolveram “melhora-la” dizendo que estou desaparecido.”

GLEISI ESTÁ NA LISTA DA CORRUPÇÃO

Agora é oficial. A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) vai responder por crime de corrupção passiva qualificada em inquérito aberto no SFT (Supremo Tribunal Federal). Gleisi foi denunciada por receber dinheiro desviado da Petrobras conforme apurou a Polícia Federal nas investigações da Operação Lava-Jato. O nome de Gleisi no esquema surgiu nas delações, aprovadas pela Justiça Federal, do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa. O marido de Gleisi, o ex-ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (PT) também é arrolado no inquérito de Gleisi no STF. Outros dois paranaenses também responderam processos no Supremo: os deputados federais Dilceu Sperafico (PP) e Nelson Mereur (PP).

Nos depoimentos dos delatores, Gleisi recebeu R$ 1 milhão para sua campanha ao Senado em 2010. O dinheiro não consta na prestação de contas da petista na Justiça Federal. A petista recebeu ainda, nas campanhas de 2010 e 2014, mais R$ 13,5 milhões de empreiteiras – 13 delas envolvidas no escândalo do Petrolão e outras 12 com contratos com o governo federal. (Leia box)

O eventual crime praticado por Gleisi, segundo o Ministério Público Federal, é tipificado no artigo 137 do Código Penal e prevê pena de reclusão de dois a 12 anos e multa.
Conforme a petição do MPF, Gleisi faz parte do “núcleo político” da “organização criminosa complexa” que tem outros três núcleos: econômico, administrativo e financeiro.

Doações – “O núcleo político, formado principalmente por parlamentares que, utilizando-se de suas agremiações partidárias, indicava e mantinha funcionários de alto escalão da Petrobras, em especial os diretores, recebendo vantagens indevidas pagas pelas empresas cartelizadas (componentes do núcleo econômico) contratadas pela sociedade de economia mista, após a adoção de estratégias de ocultação da origem dos valores pelos operadores financeiros do esquema”, diz a petição assinada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Segundo ainda a petição, Gleisi pode ter recebido os recursos desviados através de duas forma: entrega de valores em espécie (o caso do R$ 1 milhão, entregue em quatro parcelas de R$ 250 mil em um shopping de Curitiba) ou, em épocas de campanhas eleitorais, através de doações “oficiais”, devidamente declaradas, pelas construtoras
ou empresas coligadas, diretamente para os políticos ou para o diretório nacional ou estadual do partido respectivo, “as quais, em verdade, consistiam em propinas pagas e disfarçadas do seu real propósito”. É o caso da maior parte das doações recebidas por Gleisi nas campanhas de 2010 (ao Senado) e de 2014 (ao Governo do Paraná).

No inquérito, o MPF pede uma pesquisa das doações eleitorais em favor de Gleisi, através do comitê financeiro e dos diretórios estadual e nacional “visando identificar se há,
dentre os doadores, empresas investigadas no contexto da Operação Lava-Jato e, em havendo, elaboração de linha de tempo das doações realizadas por essas empresas além de indicação dos percentuais correspondente ao quantum que foi doado por essas empresas”. O MPF pede ainda os registros de entrada no edifício sede da Petrobras no Rio de Janeiro, incluindo o denominado “acesso vip” no período entre abril e outubro de 2010 em relação a Gleisi e Paulo Bernardo. O petista e mais Rafael Angulo e Ernesto Kruger Rodrigues serão convocados para oitivas.

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