A Polícia Federal indiciou neste domingo (19) o presidente da holding
Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, e outras oito pessoas no
inquérito aberto na Operação Lava Jato para investigar a participação da
construtora em supostas fraudes em contratos, desvios de recursos da
Petrobras e corrupção. As informações são da Folha de S. Paulo.
Agora a representação da PF será analisada pelo Ministério Público Federal,
a quem caberá denunciar ou não os indiciados ao juiz Sergio Moro. O juiz
decidirá, então, acolher ou não uma eventual ação penal contra os acusados.
O indiciamento não representa culpa formada, mas, sim, que a PF concluiu
ter localizado, ao longo da investigação, indícios suficientes de
cometimento de crimes.
A PF também indiciou Rogério Nora de Sá, ex-presidente da Andrade, o
executivo Elton Negrão de Azevedo Júnior, os ex-funcionários Antonio Pedro
Campello de Souza e Paulo Roberto Dalmazzo, o ex-prestador de serviço
Flávio Lúcio Magalhães, o operador Lucélio Goes e os lobistas Mario Goes e
Fernando Soares, o Fernando Baiano.
Em nota divulgada neste domingo (19), a empreiteira afirmou que “que não
tem ou teve qualquer relação com os fatos investigados”.
O relatório parcial do inquérito, assinado pelo delegado Eduardo Mauat,
concluiu que “há indícios veementes de ajuste” entre empreiteiras para
obras que acabaram executadas pela Andrade Gutierrez, “o que se extrai não
apenas da fala de colaboradores, mas de evidências apreendidas na operação”.
A PF citou depoimentos de investigados que passaram a colaborar por meio de
acordos de delação premiada –como o ex-gerente de engenharia da Petrobras
Pedro Barusco–, que indicam o pagamento de propina para funcionários da
estatal em troca de facilidades na obtenção e manutenção de contratos.
A investigação concluiu que a Andrade Gutierrez não conseguiu apresentar
“qualquer justificativa” para o pagamento de pelo menos R$ 4,9 milhões para
uma empresa de consultoria do lobista Mario Goes, a Rio Marine.
De acordo com a PF, a quebra de sigilo bancário da empresa de Goes apontou
saques em espécie no total de R$ 70 milhões, uma prática “corriqueiramente
aplicada em operações voltadas a ocultar ou dissimular os reais
beneficiários dos recursos sacados, sobretudo em situações que envolvam o
pagamento de vantagens indevidas”.
Em seu relatório, o delegado reconheceu que não há uma imputação objetiva
nos indiciamentos de Otávio Azevedo e de Rogério Nora de Sá. Mas diz não
aceitar que os dois, para se defenderem, aleguem simplesmente que não
sabiam dos fatos ocorridos.
O delegado argumenta que os “ajustes de licitações e pagamentos escusos a
dirigentes da Petrobras” são atos que “em tese viriam a beneficiar a
empresa, não se tratando de mera iniciativa de algum executivo de forma
isolada e em benefício próprio”.
Assim, concluiu a PF, são “atos de gestão do grupo Andrade Gutierrez”.
No depoimento que prestou à PF após ter sido preso, Otávio Azevedo afirmou
que não tinha participação “em qualquer função executiva da construtora
Andrade”.
Ele disse que sua atuação estava ligada à área de telecomunicações. Azevedo
contou que entrou na AG em 1992, vindo dos quadros da Telebras, e que até
2007 desenvolveu projetos em telecomunicação. O executivo afirma ainda que
se tornou presidente da Telemar, do Rio, um ano depois do leilão de
privatização das empresas de telefonia, em 1998.