PT do Paraná quer mudança e ela virá no domingo, diz Zeca Dirceu

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Em entrevista ao jornalista João Barbiero da Rádio T de Ponta Grossa, o deputado Zeca Dirceu (PT) relata como foram as eleições internas do partido em 6 de julho e como está sua campanha para presidente estadual da legenda no segundo turno marcado para domingo, 27.

“A imensa maioria da militância quer o PT mais perto de cada um dos municípios. Mais perto de Curitiba, mais perto do litoral, mais perto do interior do estado. O PT mais perto da militância, mais perto dos sindicatos, das associações, dos movimentos, das entidades, das organizações. Um PT vivo, que se reúne, que celebre, que trabalhe, que tenha planejamento e estratégia”, defende Zeca Dirceu.

“Os municípios estão com seus diretórios municipais muito inquietos. Eu fui, na verdade, chamado – fizeram um manifesto. Era para ser 1.000 assinaturas, daqui a pouco tinha mais de 2.000. São lideranças importantes de todo o estado que querem mudança, querem renovação. São lideranças que estão preocupadas, inclusive, com o péssimo resultado que o PT do Paraná – e foi só o PT do Paraná – teve no ano passado. Quando estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, o PT aumentou o número de prefeitos, ganhou cidades importantes como Pelotas (RS) e tantas outras. Pelotas é como se fosse uma Foz do Iguaçu, uma Maringá”, completou.

Leia a seguir a íntegra da  entrevista de Zeca Dirceu na Rádio T.

*_ João Barbiero – Eu estou conversando com o Zeca Dirceu porque eu duvido que tenha um partido nesse país que seja tão organizado assim, a tal ponto de ter uma eleição que parece a eleição da OAB, parece eleição de vereador, parece uma eleição de prefeito. E isso é muito legal. Isso é um processo democrático que mostra que ainda há partidos que são organizados. Goste ou não goste do PT, é um exemplo que se dá, não é, Zeca?_*

*Zeca Dirceu -* Eu tenho muito orgulho disso. Tenho certeza que a nossa militância também. O PT é o único partido do Brasil que permite a todos os filiados e filiadas escolher as suas direções municipais, estaduais e até mesmo a direção nacional. Nós elegemos no primeiro turno, dia 6 de julho, Edinho Silva como nosso presidente nacional. O PT elegeu, por voto, as chapas, que vão compor os membros do diretório nacional e também da executiva nacional. Como já está eleito o diretório estadual do Paraná, a executiva estadual. No Paraná, eu fiz 45%, quase ganhei no primeiro turno — faltou um pouquinho. E nós vamos ter um segundo turno agora, neste domingo, dia 27. Eu estou pedindo voto por mudança, por renovação no PT do Paraná!

*_Quem vota neste pleito? É o filiado que está em dia com o partido, como é essa regra? E qual é o principal argumento da tua caminhada para convencer esses eleitores a escolher o Zeca Dirceu?_*

O argumento para minha sorte, não é só meu – é da imensa maioria da nossa militância. O PT mais perto de você. PT mais perto de cada um dos nossos municípios. Mais perto de Curitiba, mais perto do litoral, mais perto do interior do estado. O PT mais perto da nossa militância, mais perto dos sindicatos, das associações, dos movimentos, das entidades, das organizações. Um PT vivo, que se reúne, que celebre, que trabalhe, que tenha planejamento e estratégia.

Os municípios estão com seus diretórios municipais muito inquietos. Eu fui, na verdade, chamado – fizeram um manifesto. Era para ser 1.000 assinaturas, daqui a pouco tinha mais de 2.000. São lideranças importantes de todo o estado que querem mudança, querem renovação. São lideranças que estão preocupadas, inclusive, com o péssimo resultado que o PT do Paraná – e foi só o PT do Paraná – teve no ano passado. Quando estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, o PT aumentou o número de prefeitos, ganhou cidades importantes como Pelotas (RS) e tantas outras. Pelotas é como se fosse uma Foz do Iguaçu, uma Maringá.

Enquanto os estados vizinhos aumentaram o número de vereadores, no Paraná foi muito ruim o resultado. Foi o pior resultado da história. E tem a ver com isso. O partido foi se distanciando da militância. A militância não tem mais poder de decisão, não participa mais das decisões. Isso foi comprovado em Curitiba: a imensa maioria da militância no começo queria se mobilizar por uma candidatura própria – porque é muito legítimo, nós temos quadros fantásticos em Curitiba: a deputado estadual Ana Júlia, a deputada federal Carol Dartora, o próprio Vanhoni que já foi deputado federal. Eu mudei meu domicílio eleitoral para lá. A gente tem o deputado Renato Freitas que hoje é a figura mais popular do PT no Paraná.

Mas a direção enfiou goela abaixo da militância um outro caminho: apoiar o deputado Luciano Ducci (PSB) – alguém que eu respeito, tenho boa relação, como eu tenho com toda a classe política no Brasil, mas que votou pelo impeachment da presidente Dilma. Evidente que não ia empolgar a nossa militância. Então há um sentimento muito natural, muito espontâneo. Eu nunca fiz críticas públicas ao (deputado) Arilson (Chiorato) – até porque ele é meu companheiro de dobrada, ele é da mesma corrente interna que eu. Durante seis anos, ele errou muito. Todas as vezes eu alertei ele, mas ele insistiu no erro de ficar distante, de só se reunir com a cúpula. E deu muito errado.

No dia 6 de julho, que foi o primeiro turno, o que eu estou falando se materializou, ficou provado: 60% dos filiados no Paraná foram votar – em todos os municípios tem eleição, todos os filiados votam e 60% dos filiados votaram por mudança, votaram para trocar o presidente do PT do Paraná. Então não tem jeito: esse partido vai mudar. Eu fiz 45% dos votos. O Tadeu e o Hermes fizeram 15% dos votos. A militância deles, as lideranças… é só olhar as minhas redes sociais: a imensa maioria já está comigo, já está me apoiando porque quer mudança. E quando quer mudança, não tem quem impeça. Não é apoio político, não é discurso, não é material de campanha. Um sentimento foi se acumulando há seis anos. É irreversível e já começou a acontecer, porque a gente ganhou 70-80% dos municípios em primeiro lugar. Eu só não ganhei em primeiro turno por causa de Curitiba, que a diferença foi muito grande.

*_Domingo que horas que vai começar a votação e vai até que horas?Como é que vai ser esse processo de votação?_*

Eu estou sugerindo às pessoas irem votar das 9 até às 16h. A votação vai até às 17h, até às 5 da tarde, mas não é bom deixar para a última hora. É o dia todo – não para no horário do almoço. Tem lá uma equipe. Quero inclusive parabenizar, em todo o Paraná, as pessoas que se organizaram. Como você falou, fazer um processo como esse, com urna, com mesário, presidente, fiscalização, é muito difícil. Não é no Brasil todo: mais de meio milhão de filiados e filiadas foram votar – 570 mil – e elegeram o Edinho no voto do nosso presidente.

No Paraná, a gente teve 81% dos votos. Vitória enorme. Vamos indicar membros para a direção nacional do PT, e todos os filiados votam. O filiado do PT contribui financeiramente com o partido, sim, viu – respondendo à primeira pergunta. Mas para ele votar, isso não é obrigatório. Caso ele não esteja contribuindo por alguma dificuldade do momento, ele pode sim votar. Quem não pode votar é quem tem mandato eletivo ou ocupa um cargo importante e não contribui. Ah, claro: quem atrasou sua contribuição financeira com o partido, mas aí são pouquíssimos casos.

Eu nasci e cresci dentro do PT, sempre contribuí financeiramente com o partido. Estou com minhas contribuições em dia. Eu sei que você entrevistou meu pai (José Dirceu) há pouco tempo -, eu ouvi, numa dessas minhas andanças… Eu estou indo em todas as regiões. Quem entrar nas minhas redes sociais vai ver a diferença da minha campanha para a do meu amigo concorrente.  Enquanto os eventos deles são vazios, com pouca gente, os meus estão sempre cheios, a militância muito animada.

Sabe, eu ouvi um militante falar o seguinte: ‘Zeca, você tem dito que nasceu e cresceu dentro do PT, mas não é bem assim.’ Aí eu levei até um susto, Eu falei: ‘O que será que está acontecendo?’ Ele falou: ‘Não, Zeca, você é petista antes do PT existir. Você nasceu em 78, a anistia veio em 79. O teu pai, José Dirceu, lutou contra a ditadura, teve um papel importante nesse período da anistia. Em 80, o seu pai, José Dirceu, junto com o Lula, criaram o PT. Então quando você nasceu, quando você fez um ano, dois anos, Zeca, você já estava junto com o seu pai nos pensamentos dele, nas reuniões dele, já como um petista, lutando pela fundação desse partido.’

Eu tenho um orgulho muito grande, estou muito feliz com essa possibilidade tão real de presidir o nosso partido no estado e, no ano que vem, ajudar o presidente Lula. Nós não podemos permitir que se repita no ano que vem o péssimo resultado do ano passado. Por isso que a militância vai votar com ousadia, vai votar com coragem para mudar o partido.

Mesmo o meu adversário tendo o apoio de figuras ilustres – são muito bem avaliadas, são muito fortes -, mas como eu disse: a militância sabe o que quer. Respeito essas figuras maiores do partido. Mas agora, no PED de domingo, vai ser o 310, vai ser o Zeca Dirceu!

*_Zeca, me diga uma coisa: você vê os resultados do governo federal como extremamente positivos em várias áreas – na questão social, no índice de desemprego e tantos outros. Por que, às vezes, tem aí as avaliações, principalmente no Paraná e mais no Sul, que a avaliação do governo não é boa? O que você acha que o PT está errando? Porque uma coisa é o Lula, outra coisa é o PT – ou as duas coisas são. O governo não tem comunicado bem? Qual é a tua leitura disso?_*

Primeira coisa: o governo do presidente Lula já se provou – nos números, nas estatísticas, nos fatos – muito melhor do que foram os terríveis quatro anos do Bolsonaro. Isso é muito fácil de perceber. O governo tem dificuldade de comunicação, como eu falei. O PT, em lugares como o Paraná e talvez outros lugares do Brasil, está um pouco adormecido. Porque quando o partido não se comunica com sua militância, a militância tem dificuldade até de defender o governo, de defender o presidente Lula.

O governo, claro, não é perfeito. Tem muita coisa sendo corrigida. O país tinha sido destruído, os ministérios tinham sido destruídos – isso leva tempo. A população tem razão em algumas críticas, eu mesmo as faço, mas de forma interna. Outro fato: já acompanhei muitas eleições e isso talvez explique porque a avaliação não é tão alta – embora tenha melhorado muito nas últimas semanas, já tem mais gente aprovando do que desaprovando, voltamos ao melhor momento. Mas também se explica porque a eleição ainda não chegou. A gente ainda não está mobilizado para fazer campanha. Nós estamos cuidando do governo, dos problemas do país – não estamos fazendo campanha, não estamos fazendo balanço, não estamos mostrando a comparação entre quantos empregos o Bolsonaro gerou (quase nada) e quantos o Lula já gerou.

Ainda não conseguimos mostrar que, durante o governo de Bolsonaro, a renda caiu, e agora com o Lula o salário voltou a crescer – inclusive a aposentadoria, o salário-mínimo. Ainda não explicamos direito, mas na campanha isso vai aparecer. Quem tornou o Banco Central independente? Não fomos nós – foi a direita, o centrão, a turma do Bolsonaro. E hoje a taxa de juros é criminosa, está criando problemas até pro agronegócio, por culpa deles. Na campanha, com os debates, a televisão e as pessoas mais atentas, isso vai ficar claro.

Ontem consegui fazer um grande evento – reunimos quase 200 lideranças de mais de 20 municípios. Só que cheguei em Maringá depois da meia-noite. E agora, cedinho, já estamos trabalhando, fazendo entrevistas. No final da tarde vou para Curitiba encontrar o deputado estadual Renato Freitas – vamos visitar alguns bairros da periferia, conquistar os votos que faltam.

 *_Zeca, rapidamente só para encerrar – até pra você também tocar na tua caminhada – um resumo do que você tá vendo nesse momento sobre essa questão do ‘tarifaço’ e toda essa situação. Qual é a tua análise?_*

Primeiro, eu quero repetir o que estava dizendo. Quando chegar o período eleitoral, quando nosso partido estiver mais ativo, as comparações vão acontecer. E a percepção de quanto pior seria um segundo governo da turma do Bolsonaro vai ficar mais destacada. Eles já deram provas: vão romper com a democracia, trazer de volta a ditadura militar. As pessoas não vão poder votar, não vão poder escolher seu próprio destino, ninguém vai poder criticar o governo. Isso está ficando mais claro – e o quanto eles são antipatriotas, na verdade. Essa é a máscara que caiu agora. Porque eles conseguiram enganar muita gente com esse discurso patriota.

No momento em que se associam com Trump para destruir a economia brasileira, para chantagear o Brasil, para impedir que o agronegócio e a indústria brasileira vendam para os EUA com uma taxa de 50% – destruindo e ameaçando empregos -, quando o Bolsonaro faz isso com seus filhos (e ele não está sozinho, tem muitos deputados e senadores apoiando essa medida), caiu a máscara dos ‘patriotas’. Caiu a máscara de que o interesse deles é defender o Brasil. Muita gente de boa fé – eu conheço muita gente de boa fé – acreditava que o Bolsonaro era um patriota, que ele pensava no país. Mentira. Agora está evidente: ele só pensa nele, na família dele e em escapar da cadeia. Essa é a verdade, e ela vai aparecer cada vez mais.

Nós vamos defender o Brasil. Nossa soberania. Inclusive, eu fiz uma reunião na segunda-feira – parei tudo que estava fazendo (até porque eu ouço os conselhos do presidente Lula, diferente do meu concorrente). Eu ouço o conselho do presidente Lula. Parei tudo por dois dias e fui cuidar desse movimento que o presidente Lula está pedindo, estimulando: em defesa da soberania, em defesa do Brasil, explicar o que são essas taxas nos EUA. Reuni 300 lideranças – meu pai participou, teve fala por vídeo do Haddad, do Alckmin, do próprio presidente Lula. Então a gente já está começando a mobilizar nossa base. Claro que eu tenho que me ocupar com a campanha, com o PED, a eleição do PT é domingo… mas já começamos a mobilizar. A primeira reunião foi um sucesso – não é pouca coisa: 300 lideranças numa reunião marcada em cima da hora, no meio de um processo de eleição interna.

Essas coisas vão ficar mais evidentes, e o país vai melhorar. Os juros… nós não vamos desistir, vamos continuar enfrentando esse Banco Central que nunca deveria ser independente – porque a ‘independência’ dele é se subordinar ao mercado financeiro contra o interesse da agricultura, da indústria, de quem está endividado: o trabalhador, o pequeno empresário. O Banco Central vai ter que baixar os juros. Quando começar a baixar, o país vai ganhar fôlego, vai crescer muito mais. As pessoas que estão com o custo de vida apertado por causa das dívidas e juros vão começar a sobrar um dinheirinho no final do mês. Isso vai acontecer agora no final do ano, começo do ano que vem – vai dar um fôlego para o país.

E essas tarifas… o Brasil vai saber negociar. Não estamos fazendo isso do ponto de vista político.Tem uma diplomacia, temos embaixador, já estão tendo várias rodadas de negociação. Os empresários americanos e brasileiros estão conversando, o agronegócio está conversando com os empresários americanos… vai sair uma boa solução, não tem dúvida. Porque os EUA precisam do Brasil – eles vendem muito mais para nós do que nós vendemos para eles. A relação é vantajosa para eles. Os EUA nem são o maior parceiro comercial do Brasil. O maior parceiro comercial do Brasil é a China, que compra mais produtos industrializados do Brasil – o que gera emprego. É a Argentina, é o Mercosul, é a Europa.

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