Quem, dentro do PT, se coloca contra o ajuste fiscal proposto pelos ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa não tem noção do tamanho da crise que a presidente Dilma colocou o país em seu primeiro mandato.
O Brasil teve déficit primário em 2014; antes de pagar os juros, o governo já havia gastado mais do que nós mandamos de impostos a ele. Com o pagamento de dívida, o déficit foi de 6,7% do PIB. É um escândalo. E também é insustentável.
Mantido esse ritmo, o país caminhará para o rebaixamento do risco de sua dívida e diversos outros problemas mais.
O que me espanta é a ex-ministra-chefe da Casa Civil Gleisi Hofman colocar uma emenda demagógica contra a reformulação do cálculo das pensões para viúvas jovens. Hoje, não importando a idade, a regra diz que esposas nessa situação recebam a pensão do marido falecido pelo resto da vida. É preciso apenas o mínimo de responsabilidade e de conhecimento para saber que uma viúva nova, em condições de trabalhar e sem filhos deve receber a pensão por um período, e não para sempre. Isso acontece inclusive em países ricos como a Alemanha e os EUA.
O ministro Nelson Barbosa fez um levantamento e me apresentou uma lista de moças de apenas 20 anos que receberão a pensão pela morte do cônjuge pelo resto da vida. É fácil concluir que essas viúvas podem voltar ao mercado de trabalho. Pela proposta, quem está nessa idade receberia a pensão por três anos. Se a viuvez ocorrer aos 27, o benefício dura um pouco mais, e assim vai aumentando por faixas até a última, para viúvas de 43 anos ou mais, que receberão a pensão para sempre.
A proposta não é retroativa, não afeta direitos adquiridos. Sua aplicação será suave.
A ex-ministra Gleisi, melhor do que muitos, tem condições de saber o tamanho do rombo nas contas públicas deixado pelo governo que ela participou como ministra-chefe da Casa Civil. Ainda assim, ela apresentou essa proposta para atrapalhar o ajuste fiscal que o primeiro mandato da presidente Dilma tornou indispensável.
Gleisi não foi a única parlamentar do próprio PT a apresentar proposta para desmontar o ajuste fiscal necessário. O deputado federal Vicentinho é outro exemplo. Isso mostra a fraqueza da presidente Dilma nesse começo de segundo mandato. Ela não consegue organizar tampouco convencer nem os mais próximos dos petistas, como a ex-ministra Gleisi.
Me espanta eles não entenderem a situação em que colocaram o país, e o risco que isso representa. Para colocar as contas do país no caminho sustentável, é preciso essa e outras medidas que são amargas, sim, mas também são indispensáveis.
A eleição acabou.
Miriam Leitão