Há momentos em que uma pesquisa não decide nada — mas reorganiza tudo. A rodada nacional de outubro do Instituto Paraná Pesquisas é uma dessas fotografias. Ela não traz um “vencedor antecipado” para 2026; oferece, porém, vetores que explicam por que Ratinho Junior saiu da conversa regional para a mesa grande da sucessão presidencial. Em paralelo, aponta como essa nacionalização do governador impacta, desde já, o tabuleiro estadual paranaense.
Antes de qualquer inferência, convém assentar o chão metodológico: a pesquisa ouviu 2.020 eleitores, em 26 estados e DF, entre 21 e 24 de outubro de 2025, com margem de erro de 2,2 p.p. e nível de confiança de 95%. Há ainda margens regionais por estrato (por exemplo, 5,9 p.p. no Sul), úteis para interpretar nuances de base territorial — justamente onde o capital político de Ratinho se origina, segundo as análises do inquiridor.com.br .
O PAÍS QUE A PESQUISA REVELA:
Dois blocos de achados interessam diretamente a qualquer postulante ao Planalto:
Humor com o governo federal — O levantamento registra aprovação e desaprovação praticamente empatadas (47,9% aprovam; 49,2% desaprovam), com variações previsíveis por escolaridade e religião (maior desaprovação entre evangélicos e no Sul/Sudeste) e melhor avaliação no Nordeste. É um país dividido — o que torna candidaturas de “ponte” mais viáveis que as de “ruptura total” ou “continuidade pura”.
Desejo de mudança x continuidade — À pergunta sobre o perfil desejado do próximo presidente, 28,9% querem mudar totalmente a forma de governar, 29,0% querem mudar bastante, 23,0% preferem poucas mudanças e 17,1% desejam continuidade. Ou seja: 58% pedem mudança forte, mas não são, necessariamente, “mudancistas radicais”; há espaço para um gestor de transição, que combine credenciais de eficiência com baixo custo de rejeição.
Esses dois vetores — país partido e apetite por mudança “com régua” — são a moldura na qual se desenha a competitividade de Ratinho.
ONDE RATINHO JR. É COMPETITIVO:
Ratinho chega a 2026 com três ativos estruturais:
1) Narrativa de gestão ancorada em entregas: A pesquisa capta percepções negativas em segurança (45,8% dizem que piorou) e céticas em educação e saúde (balanços próximos do empate entre melhorou e piorou). Em cenários assim, perfis que prometem gestão operativa e soluções práticas tendem a performar melhor do que narrativas estritamente ideológicas. A assinatura do governador — obra, infraestrutura, capilaridade municipal — encaixa nessa demanda, sobretudo fora do eixo da politização mais aguda.
2) Capilaridade no eleitorado conservador moderado: O Sul aparece como a região com maior desaprovação ao governo federal e maior preferência por mudança ampla. Ratinho fala esse idioma sem necessariamente converter a campanha num plebiscito ideológico — um conservadorismo de gestão, que pode dialogar com Sudeste interiorano e com o Centro-Oeste agroindustrial, estratos onde a pesquisa também sinaliza apetite por mudança.
3) Baixa rejeição nacional fora da bolha: Ao contrário de líderes nacionais já saturados por anos de confronto, Ratinho é, para milhões de eleitores, um rosto novo. Em um ambiente de fadiga com o conflito permanente, novidade com currículo vale mais do que fama com desgaste. A pesquisa não mede rejeição individual, mas o empate técnico na avaliação do governo e o superávit do desejo de mudança indicam espaço para candidaturas que não carregam cicatrizes nacionais.
ONDE ESTÃO OS LIMITES:
Competitividade não é sinônimo de inevitabilidade. Três travas precisam ser reconhecidas:
1) Dependência de tradução nacional: O que foi “gestão” no Paraná precisa virar plano nacional para economia, segurança e serviços — com métricas e metas. O mesmo dado que sugere oportunidade (insatisfação com segurança pública) cobra propostas auditáveis: redução de homicídios, combate ao crime organizado e integração federativa. Sem essa tradução, a marca “gestor” não atravessa a BR-116.
2) Sul não elege sozinho: O levantamento mostra um Nordeste com avaliação mais benigna do governo e, historicamente, com maior resistência a projetos não identificados com a base social da região. Ratinho precisa construir ponte com lideranças locais, apresentar uma agenda social mensurável (atenção primária, ensino técnico, renda com porta de saída) e demonstrar que seu “pragmatismo de entrega” cabe também onde a vulnerabilidade é maior.
3) O mapa evangélico e a pauta de costumes: A pesquisa expõe uma clivagem nítida entre católicos e evangélicos na avaliação do governo. A candidatura de Ratinho tem a vantagem de dialogar com o campo evangélico sem ser refém da pauta de costumes, mas não deve subestimar que, nacionalmente, esse eleitorado cobra sinalização clara. A chave é valores + serviços (educação básica, liberdade de ensino, combate às drogas, proteção à família com dados).
COMO ISSO MEXE NO TABULEIRO ESTADUAL DO PARANÁ:
Se Ratinho optar por disputar a Presidência (ou, ao menos, permanecer no pelotão de cabeça até meados de 2026), o efeito sobre o Paraná é imediato:
1) Antecipação da escolha governista: A base do governo precisará de um nome único para o Palácio Iguaçu antes do calendário ideal. Quanto mais tempo houver competição intramuros, maior a chance de um outsider (ou de um adversário tradicional) ocupar o espaço da “mudança dentro da continuidade”. A pesquisa nacional indica que o eleitor deseja mudança com eficiência — exatamente a síntese que a base governista pode oferecer no Paraná com Curi (ou Greca, a depender do arranjo) se a decisão for rápida e disciplinada. Até Moro pode se beneficiar desse arranjo, caso a opção de Ratinho seja por fechar com o senador em um cenário de “pax romana”.
2) Peso do “apoio do governador”: Em um ciclo em que o presidente será decidido com margens apertadas, governadores com lastro nacional tornam-se grandes cabos eleitorais locais. Isso vale na ida e na volta: a depender de como Ratinho se posicionar no tabuleiro federal, sua transferência de capital para o sucessor tende a aumentar — desde que a campanha estadual repita a pauta de gestão com resultados (e evite personalismos).
3) Senado e Câmara: a engenharia do coattail: Se a corrida presidencial nacionalizar a figura do governador, é razoável projetar efeitos de coattail no Senado e na Câmara. A lista que hoje se movimenta para uma das duas vagas ao Senado terá de recalibrar: candidatos alinhados ao bloco de gestão podem herdar tração; adversários tentarão plebiscitar o ciclo Ratinho — estratégia arriscada num estado que premia resultados visíveis.
CONCLUSÃO:
Pesquisas não elegem presidentes; campanhas disciplinadas elegem. A Paraná Pesquisas mostra que o eleitorado brasileiro está aberto a mudar, mas alérgico a aventuras. Nesse ambiente, Ratinho Junior tem produto e momento — produto, porque vende gestão com entrega; momento, porque a fadiga com o conflito abre uma avenida para pragmatismo com escala. O que separa competitivo de vencedor é a capacidade de traduzir o Paraná em projeto de Brasil — e de manter o Paraná organizado enquanto isso acontece.
Se o fizer, influenciará dois pleitos: o nacional, como player de primeira linha; e o estadual, como curador de sua própria sucessão. A fotografia de outubro não garante o filme de 2026; mas explica por que, nos próximos capítulos, todos olharão para o mesmo protagonista — e para o estado que ele governa.
A DIREÇÃO