Preso na Operação Lava Jato, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque
contratou um escritório de advocacia e começou oficialmente a negociar um
acordo de delação premiada. Duque, cuja indicação à estatal é atribuída ao
PT, é acusado de ter recebido propinas milionárias em contas no exterior e
de usar obras de arte para lavar o dinheiro. Ele já é réu em quatro ações
penais e foi denunciado mais uma vez pelo Ministério Público Federal nesta
semana. As informações são da Folha de S. Paulo.
Preso desde março numa penitenciária comum no Paraná, Duque vem
demonstrando abatimento. Segundo apurou a reportagem, a família chegou a
questioná-lo por que ele continuava a proteger quem estava do lado de fora.
Ele sempre negou as acusações.
O ex-diretor assinou ontem contrato com o escritório do advogado Marlus
Arns de Oliveira – que negociou as colaborações dos executivos Dalton
Avancini e Eduardo Leite, da Camargo Corrêa. As tratativas com Duque, que o
procurou, começaram há cerca de um mês. A família de Duque foi quem fez o
apelo para que ele optasse pela delação, segundo o advogado.
A possibilidade da delação do executivo traz preocupação a membros do PT,
partido que o indicou ao posto de diretor de Serviços. Os contratos da
diretoria, segundo afirmam delatores da Lava Jato, eram a porção do PT na
divisão da propina. Arns, porém, não adiantou nomes ou fatos que podem ser
mencionados na tratativa de delação, por questões de sigilo profissional
-mas disse que “possivelmente” haverá pessoas com foro privilegiado.
“Há muita notícia fantasiosa”, disse o advogado. “É um processo lento, que
nem foi iniciado com o Ministério Público.” Segundo ele, Duque optou pela
delação como “uma estratégia de defesa para que saia o mais cedo possível
da prisão”. O advogado diz que não houve pressão ou ameaças, e que a
decisão foi tomada de livre iniciativa por seu cliente.
Os atuais advogados de Duque, Renato de Moraes e Alexandre Lopes,
permanecem como defensores do ex-diretor nas ações penais. Arns fica
responsável somente pela tentativa de negociação com o Ministério Público
Federal – que ainda será iniciada. Se o acordo for fechado, os outros dois
defensores, que são contra a delação, se retiram da causa. Arns faria as
primeiras entrevistas com o cliente ainda ontem.
Depois, irá marcar uma reunião com os procuradores para iniciar a tratativa
de acordo. O Ministério Público Federal pode ou não aceitar o que Duque tem
a oferecer. Cabe aos procuradores estabelecer as condições da colaboração,
como multas e tempo de detenção. Só depois, com o termo assinado, é que
Duque começa a depor oficialmente aos investigadores.