Temer volta a trombar com Dilma

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Se você acha que o vice-presidente Michel Temer trombou feio com a
presidente Dilma Rousseff na semana passada ao dizer que ela não conseguirá
governar até o fim do seu mandato com popularidade tão baixa foi porque não
soube ou não prestou atenção no que leu sobre o que ocorreu ontem à noite
em Brasília.

Na segunda-feira, em pronunciamento à Nação por meio das redes sociais,
Dilma confessou que o governo no ano passado gastou acima do que podia e
que por isso mesmo será obrigado a adotar “medidas amargas”. Os principais
ministros do governo passaram a terça-feira em reuniões estudando as tais
“medidas amargas”.

Para quem pariu um Orçamento da União de 2016 com um rombo de 30 bilhões de
reais, só restou ao governo acenar com cortes de despesas, ainda por
calcular, e aumento de impostos. Em Paris, o ministro Joaquim Levy, da
Fazenda, admitiu aumentar o Imposto de Renda dos brasileiros que ganham
mais.

Em Brasília, de preferência mediante o anonimato, ministros sopraram para
jornalistas que o governo poderia aumentar impostos que não dependem de
aprovação do Congresso, e propor a criação de uma contribuição provisória
para atravessar os próximos anos de crise. Por contribuição provisória,
entenda-se: um novo imposto.

Foi aí que Temer trombou direto com Dilma pela segunda vez em menos de uma
semana. Antes de se reunir à noite com os governadores e líderes do PMDB na
Câmara dos Deputados e no Senado, Temer deu uma entrevista onde disse:

– Temos que evitar remédios amargos e, se for possível simplesmente cortar
despesas, a tendência é essa.

Não satisfeito de se opor diretamente a Dilma e ao que ela e seus ministros
planejam, Temer disse mais:

– As pessoas não querem em geral aumento de tributo. Tenho sustentado
exatamente o corte de despesas. Aumento de impostos só em última hipótese;
última hipótese descartável desde já.

Até o meio da tarde de ontem, Temer ainda defendia o aumento da Cide,
tributo cobrado sobre a venda de combustíveis. Foi o ex-ministro Delfim
Neto, da Fazenda, quem convenceu Temer das vantagens de aumentar a Cide.
Com isso poderia ser gerada uma receita adicional de 14 bilhões de reais,
sendo 11 bilhões para o governo federal e o resto para Estados e municípios.

Eduardo Cunha, presidente da Câmara, Renan Calheiros, presidente do Senado,
e outras vozes de peso do PMDB fizeram Temer mudar de ideia. Para não ficar
isolado e continuar se distinguindo de Dilma, ele esqueceu o aumento da
Cide e advogou o que prefere seu partido: o simples corte de despesas.

Assim também Temer conta pontos com empresários e banqueiros que não
suportam mais ouvir falar em aumento de impostos. De resto, se reaproxima
da oposição, contrária a mais impostos, e deixa Dilma falando sozinha. Tudo
o que Dilma queria era que Temer ajudasse o governo a resolver o rombo do
orçamento.

Temer já disse que não moverá uma palha para substituir Dilma. Mas a seu
modo está movendo, sim.fonte:Ricardo Noblat*

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