“Vou disputar prefeitura nem que chova canivete” , afirma Ney Leprevost

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fonte:*Bem Paraná*///
No início do ano, o deputado estadual Ney Leprevost (PSD) surpreendeu ao
romper com o grupo político do governador Beto Richa (PSDB), depois que a
administração estadual decidiu mexer com o fundo de aposentadoria e pensão
dos servidores públicos do Paraná. Ao mesmo tempo – apesar de seu partido
integrar a base da presidente Dilma Rousseff no plano nacional – manteve-se
como uma das principais vozes críticas à administração federal e ao PT.

É justamente como “franco-atirador” – livre dos compromissos com os grupos
políticos que comandam hoje os governos federal, estadual e municipal – que
Leprevost se sente pronto para apresentar-se como pré-candidato à
prefeitura de Curitiba nas eleições de 2016. Até porque, na sua avaliação,
com o desgaste sofrido nacionalmente tanto pelo PT, quanto pelo PSDB no
plano estadual, e pelos baixos índices de aprovação do atual prefeito,
Gustavo Fruet (PDT), a eleição na Capital paranaense estaria aberta a nomes
novos, que saibam se colocar como alternativa aos eleitores decepcionados
com a política tradicional.

*Bem Paraná – Há pouco menos de um ano do início da campanha eleitoral,
qual a avaliação que o senhor faz do cenário da disputa em Curitiba?Ney
Leprevost – *O cenário da eleição para prefeito de Curitiba está
completamente aberto, na minha opinião. Hoje é um cenário indefinido. É
evidente que você tem, como sempre, o prefeito (Gustavo Fruet) na condição
de favorito, em que pese uma elevada desaprovação à sua gestão. E tem nomes
novos que podem se colocar no páreo com chances de vitória. O prefeito ter
ou não alguma possibilidade de vencer vai depender de duas coisas. Em
primeiro lugar dele melhorar muito a gestão, porque existem reclamações –
que não são poucas – em relação à saúde pública; em relação às ruas que
estão esburacadas, à manutenção das praças, parques, espaços públicos. Você
vê que Curitiba está até certo ponto mal cuidada.

*BP – As pesquisas mostram um descontentamento generalizado com a
administração, mesmo que se poupe a figura pessoal do prefeito, é
isso?Leprevost – *Exatamente. Até porque ele tem um nome respeitado, foi um
bom deputado federal, é uma pessoa que até que se prove em contrário, não
tem envolvimento com a corrupção revelada até agora nos mais diversos
setores. E ele é uma pessoa agradável, respeitador. Mas a gestão é muito
criticada. É considerada pelas pessoas que acompanham mais de perto
ineficiente.

*BP – O atual prefeito alega que herdou muitas dívidas do antecessor e
enfrenta uma crise econômica nacional.Leprevost –* Mas já passou um bom
tempo. Já dava tempo de ter melhorado. Esse argumento de ‘herança maldita’
serve para ganhar tempo no primeiro ano. Depois as pessoas querem
resultados práticos. Por outro lado, me parece que um dos erros cometidos
foi abrir mão de técnicos que estavam há muito tempo na prefeitura e que
entrava prefeito, saía prefeito, estavam em uma posição importante. Você
não pode abrir mão, por exemplo, de um Luiz Fernando Jamur (ex-secretário
Municipal de Governo), para mencionar um nome. Mesmo ele tendo sido uma
pessoa de confiança do prefeito Luciano Ducci (PSB). Dizia-se antigamente
que a máquina da prefeitura de Curitiba andava sozinha. Essa máquina parou
de andar sozinha. Me parece que um dos motivos foi a exclusão de técnicos
que faziam essa máquina andar. Eles conheciam Curitiba como a palma da mão.

*BP – As acusações de corrupção contra o PT – aliado do prefeito – também
podem influir na eleição?Leprevost – *Sim. Uma outra coisa que atrapalha o
prefeito e deve ser explorado pelos outros candidatos é o vínculo estreito
com o PT. As pesquisas mostram que o curitibano tem uma das maiores
rejeições do País ao PT.

*Bem Paraná – Como o vê a possibilidade do prefeito se descolar do PT para
disputar a reeleição?Ney Leprevost –* Eu acho que é uma possibilidade que o
grupo dele estuda. Mas até que ponto isso prejudicaria a cidade em relação
aos investimentos federais que ele está pleiteando? Deve ser esse o grande
enigma que ele enfrenta no momento.

*BP – E os outros possíveis candidatos?Leprevost –* O Ratinho Júnior (PSC)
seria um candidato forte até pela votação que fez na eleição passada de
prefeito. Ele me garantiu que não é candidato a prefeito, que é candidato a
governador (em 2018). O Luciano Ducci ficou um período curto na prefeitura,
conseguiu fazer algumas obras de relevância, mas está umbilicalmente ligado
ao (governador) Beto Richa (PSDB). O que, com certeza, atrairá a ira dos
professores contra a candidatura dele. E o (deputado estadual Maurício)
Requião Filho (PMDB) fala bem, é articulado. O pai dele (senador Roberto
Requião) é um homem forte, poderoso, que influencia uma parcela
significativa dos eleitores. Sem dúvida é um candidato respeitável.

*BP – O senhor já foi cotado anteriormente para disputar a prefeitura, mas
não se confirmou. Porque diria que agora é diferente?Leprevost –* Na
eleição passada eu estava cotado para ser candidato a vice do Luciano
(Ducci). Nós pertencíamos a um grupo político que vinha há muitos anos
administrando a cidade e era liderado pelo Beto Richa. Na ‘hora h’ houve
uma opção, até onde eu sei mais por parte do próprio Beto do que do próprio
Luciano pelo (deputado federal) Rubens Bueno (PPS) ser o vice. Com isso
acabei ficando fora. Quando apoiei o Luciano mesmo estando fora da vice, eu
declarei diante de três mil pessoas que na outra eleição, ganhando o
Luciano ou não, nem que chovesse canivete, eu iria disputar a prefeitura de
Curitiba. E mantenho essa disposição.

*Bem Paraná – Porque o senhor acredita que está pronto para ser prefeito
desta vez?Leprevost – *Eu tenho um vínculo forte com a cidade. Fui o
vereador mais votado de Curitiba. Fui também o deputado estadual mais
votado de Curitiba. Nessa última eleição tive quase 50 mil votos aqui.
Trago essa experiência. Também já passei por experiência administrativa,
fui secretário de Estado. Agora hoje estou rompido politicamente, não
pessoalmente, com esse grupo. Que é um grupo que, na minha opinião, deixou
de corresponder as expectativas da população de um tempo pra cá.

*BP – O que foi decisivo para esse rompimento?Leprevost – *Começou quando o
governador mandou um projeto no final do ano passado para a Assembleia que
taxava em 11% os aposentados. Eu votei contra. Ele expressou uma
insatisfação – não diretamente a mim, mas a aliados políticos meus. Depois
veio o episódio do Paraná Previdência. Ele queria mexer na Paraná
Previdência, eu fiz um pronunciamento contra. Aí houve o rompimento
político. E daí na questão dos professores, quando ele colocou dois mil
policiais bombardeando os professores, gastando R$ 900 mil em bombas eu
acabei cometendo um ato um tanto imprudente de ir até lá fora junto como os
deputados Tadeu Veneri (PT), Rasca Rodrigues (PV) e Chico Brasileiro (PSD).
Tentamos nos postar em frente ao Batalhão de Choque para parar o ataque e
eu ali senti na pele o que os professores estavam sentindo. O uso
desproporcional da força, a forma violenta como o governo estava agindo e
voltei muito exaltado, indignado para o plenário. Ali o sangue correu. Ali
houve o rompimento definitivo.

*BP – O senhor não teme ser cobrado pelo fato de ter apoiado a eleição e a
reeleição do governador e ter feito parte desse grupo todo esse
tempo?Leprevost – *Não, porque eu pensei como quase todos os paranaenses.
Eu achei que o Beto Richa era naquele momento o melhor candidato. Ele tinha
a aprovação, tanto que ganhou no primeiro turno. Se eu errei, errei junto
com a grande maioria das pessoas que foram votar. E o Beto foi um prefeito
de Curitiba que teve uma boa aprovação, e diga-se de passagem, quando
prefeito tinha um ótimo relacionamento com os professores.

*Bem Paraná – O PSD, seu partido, continua apoiando o governo do Estado,
inclusive ocupando cargos importantes, como a Casa Civil. O senhor não teme
ser ‘rifado’ pelo partido?Ney Leprevost –* Não vejo esse perigo. Em
primeiro lugar quando entrei no PSD – fui um dos fundadores do partido – o
compromisso que os presidentes nacional, Gilberto Kassab, e estadual,
Eduardo Sciarra – com todos os parlamentares que ingressaram no PSD era de
que eles teriam liberdade de consciência para votar e tomar suas decisões.
O PSD nunca me cobrou nada em relação ao governo. Se você for ver, o PSD já
começou com uma declaração polêmica do Kassab dizendo que não estava no
centro, nem à direita, nem à esquerda. Porque? Porque ele queria deixar bem
claro que os deputados que estivessem no PSD teriam a liberdade para seguir
seus ideais. E não para ficar amarrado a uma ideologia sectária, seja de
esquerda ou de direita. Além disso, eu fui reeleito agora presidente do PSD
de Curitiba na mesma chapa do Sciarra secretário-geral do PSD do Paraná. E
fui aclamado, na convenção em uma proposta do presidente do Conselho de
Ética do partido, Luiz Chemin Guimarães, como pré-candidato a prefeito.
Então não vejo esse perigo (de ser ‘rifado’). Estive conversando
recentemente com o Kassab, ele me deu carta branca para ser candidato.
Inclusive me incentivou.

*BP – Nessa convenção, inclusive, o senhor foi lançado pré-candidato sob o
slogan “nem Dilma, nem Richa”. O que isso quer dizer?Leprevost – *Quer
dizer que o meu principal ponto forte é o meu principal ponto fraco. Eu não
estou atrelado hoje nem à máquina pública federal, nem estadual e nem
municipal. Isso, evidentemente, torna difícil a realização da pré-campanha.
Porque você não tem as facilidades de quem está no governo para mobilizar
os agentes públicos. No meu caso, eu não tenho nada disso. Eu sou um cara
que tenho que montar o meu próprio grupo político. Mas eu acho que isso é
um ponto positivo também. Porque dá à população a tranquilidade de que eu
não vou ter influência negativa nenhuma desses grupos políticos que estão
desgastados e que estão nos governos federal, estadual e municipal. O fato
de eu não ter vínculo nem com o PT, nem com o governo do PSDB do Paraná
pode ser uma forma de mostrar para o eleitor que o nosso grupo é capaz de
reunir aqueles que querem construir a terceira via na política do Paraná.

*BP – Curitiba foi apontada durante muito tempo como vanguarda no
planejamento urbano do País. Muitos dizem que isso se perdeu. O senhor
concorda?Leprevost –* Concordo. Curitiba precisa recuperar a capacidade de
ousar. Precisa voltar a ser uma cidade centro de excelência em
administração pública e exemplo para o Brasil.

*BP – Como fazer isso?Leprevost –* Em primeiro lugar constituindo um
secretariado técnico, baseado em critérios administrativos de competência,
de mérito, e menos em critérios políticos. Em segundo, buscando as grandes
cabeças pensantes da cidade para colaborar com a gestão. Mesmo que algumas
delas participem apenas voluntariamente fazendo parte de um conselho de
administração. Em terceiro, tendo coragem. Não tendo medo de ser criativo,
de ser diferente, de colocar ideias novas em prática.

*Bem Paraná – Na questão do transporte coletivo nós tivemos, além de
aumento da tarifa, a desintegração de parte da rede. Como o senhor vê essa
situação?Ney Leprevost –* Com muita preocupação. Nós vamos fazer,
inclusive, no final de agosto uma audiência pública na Assembleia para
discutir isso. Vamos chamar os usuários, os prefeitos da região
metropolitana, a Urbs, o sindicato das empresas de ônibus, a Comec, para
entender o que está causando de fato está desintegração. Porque as
informações que vêm de um lado e de outro são diferentes. E até agora não
se sabe exatamente quem está com a verdade. Eu vejo o Tribunal de Contas,
por exemplo, noticiando algumas coisas na imprensa, no dia seguinte a
prefeitura vem e desmente, depois vem uma informação da Comec. Qual é a
principal causa da desintegração? Porque os ônibus estão sucateados?O preço
da passagem não poderia ser menor? Tudo isso são informações que não estão
claras. E em cima dessas informações, aí sim nós vamos chamar os técnicos
que vão construir o nosso plano.

*BP – O senhor acha que estabeleceu-se um ‘jogo de empurra’?Leprevost –*
Exatamente. O que eu vejo é ao invés de uma vontade de resolver o problema,
uma guerra de informação entre prefeitura, governo estadual e Tribunal de
Contas. E quem está pagando a conta é o trabalhador, principalmente o que
circula entre Curitiba e cidades da região metropolitana.

*BP – Em relação ao metrô, o senhor acha que vale a pena insistir nessa
obra ou seria melhor investir na melhoria do atual sistema, como defende o
ex-prefeito Jaime Lerner?Leprevost –* Eu acho que esse é outro grande nó
que vai ter que ser desatado pelo próximo prefeito. E também há um
desencontro de informações. A primeira coisa que nós temos que descobrir é
se Curitiba ainda tem esse dinheiro reservado (do governo federal) para
fazer o metrô ou a atual gestão perdeu esse dinheiro? Não se sabe. Segundo,
nós temos que ver se o metrô é a principal opção para melhorar o transporte
coletivo. O próprio Lerner diz que não. Nós queremos ouvir a opinião deles,
quais as alternativas que ele tem. E acredito que também a população tem
que ser ouvida. Será que os curitibanos estão dispostos a ter grandes
buracos cavados na cidade por um período que será de no mínimo seis anos,
podendo chegar a oito, dez. O trânsito hoje já está um caos. Nestes dez
anos em que estarão construindo o metrô, os curitibanos terão a compreensão
com a cidade ainda mais tumultuada? Eu por enquanto não tenho um
compromisso veemente de fazer o metrô. É um assunto que eu quero estudar.

*Bem Paraná – Na área da saúde, nós tivemos recentemente o caso de uma
mulher que morreu após esperar atendimento durante horas em uma unidade de
emergência. É um caso isolado ou o retrato de um problema crônico?Ney
Leprevost – *É o retrato de uma situação nacional. A saúde pública há muito
tempo no Brasil vem sendo jogada em um plano inferior à sua importância.
Vide o fato do governo federal ter trabalhado a sua base no Congresso para
conseguir escapar do cumprimento da emenda (constitucional) 29 que
estabelecia um investimento mínimo de 10% de investimento da receita
líquida em saúde por parte da União.

*BP – Como enfrentar isso?Leprevost -* Eu posso garantir uma coisa: como
prefeito a prioridade um da minha gestão vai ser a saúde. Eu tenho
relacionamento com a classe médica, os profissionais, gestores da saúde,
para buscar as melhores cabeças dessa área, fazer uma revolução na área de
saúde. Esse é um dos principais motivos pelos quais eu quero ser prefeito.
Eu quero fazer de Curitiba, a capital com a melhor saúde pública do Brasil.

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