Depoimentos prestados pelo empresário Ricardo Pessoa, dono da empreiteira
UTC, aos procuradores da Operação Lava Jato ampliaram a pressão sobre o
governo da presidente Dilma Rousseff e seu partido, o PT, lançando novas
suspeitas sobre doações feitas à sua campanha à reeleição em 2014. As
informações são da Folha de S. Paulo.
Apontado como um dos líderes do cartel de empreteiras acusadas de
participar do esquema de corrupção na Petrobras, Pessoa fez acordo com a
Procuradoria-Geral da República para colaborar com as investigações em
troca de uma pena reduzida. O acordo foi homologado pelo STF (Supremo
Tribunal Federal) nesta quinta-feira (25).
Pessoa doou R$ 7,5 milhões para a campanha de Dilma. A contribuição foi
declarada à Justiça Eleitoral pelo PT, mas, como a Folha revelou em maio,
Pessoa disse que só fez a doação por temer prejuízos em seus negócios na
Petrobras se não ajudasse o partido. Ele disse que tratou da contribuição
com o tesoureiro da campanha de Dilma, o atual ministro da Secretaria de
Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva.
Nesta sexta (26), a revista “Veja” afirmou que Pessoa detalhou também
contribuições feitas para 18 campanhas políticas, incluindo repasses de R$
15 milhões para o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e de R$ 750 mil ao
ex-deputado José de Fillipi (PT-SP), que foi tesoureiro da campanha de
Dilma em 2010 e hoje é secretário da administração do prefeito de São
Paulo, Fernando Haddad (PT).
Segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, Pessoa indicou aos procuradores
que os repasses para Vaccari e Fillipi foram feitos de maneira ilegal, e
não por meio de doações oficiais. Em nota, o PT afirmou que todas as
doações recebidas pelo partido foram declaradas à Justiça Eleitoral.
Como a Folha informou nesta sexta (26), Pessoa também detalhou a maneira
como foi negociada uma contribuição à campanha do petista Aloizio
Mercadante ao governo do Estado de São Paulo, em 2010. Em 2010, Mercadante
declarou à Justiça Eleitoral uma doação de R$ 250 mil da UTC. Hoje ministro
da Casa Civil, Mercadante é o principal auxiliar de Dilma.
As novas revelações sobre os depoimentos de Pessoa fizeram Dilma convocar
uma reunião de emergência nesta sexta. Participaram Mercadante, Edinho
Silva e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Nenhum se manifestou
sobre o assunto.
Em avaliações internas, ministros afirmavam que o episódio poderá
contribuir para abalar ainda mais a frágil popularidade da presidente, que
tem 10% de aprovação, segundo o Datafolha.
Preso desde novembro de 2014 e hoje em prisão domiciliar, Ricardo Pessoa
negociou durante meses o acordo de delação premiada. A Folha apurou que
Pessoa descreveu em detalhes a maneira como acertava o repasse de recursos
destinados ao PT.
*’PIXULECO’*
Segundo ele, o então diretor da Petrobras Renato Duque, ligado ao PT,
avisava João Vaccari sempre que a estatal fechava um contrato com a UTC e o
tesoureiro então procurava o empreiteiro para cobrar o “pixuleco”, como ele
chamava a propina de 1% que seria destinada ao PT.
Segundo Pessoa, eles então combinavam de que forma, e em quantas parcelas,
esse pagamento seria feito.
Na maior parte das vezes, Pessoa disse que optou por fazer doações oficiais
ao PT ou a candidatos do partido. Às vezes, disse, Vaccari pedia que o
pagamento fosse feito por fora. Segundo Pessoa, nesses casos o dinheiro era
passado em espécie ao partido.
Na delação, Pessoa também citou contribuições a políticos de outros
partidos, entre eles os senadores Aloysio Nunes (PSB-SP), Fernando Collor
(PTB-AL) e Edison Lobão (PMDB-MA). Todos negam irregularidades.