Irmão do auditor fiscal Marco Antonio Bueno, o contador Hederson Flávio Bueno, também réu no
processo relativo à Operação Publicano, negou ontem, perante o juiz da 3ª
Vara Criminal, Juliano Nanuncio, os principais pontos acusatórios de seu
depoimento de 10 páginas prestado em 31 de março de 2015 ao Ministério
Público (MP). A partir daquelas declarações, Bueno conseguiu a revogação da
prisão preventiva e firmou acordo de delação premiada com benefício de
redução da pena em um terço, caso fosse condenado. As informações são de
Loriane Comeli na Folha de Londrina.
Naquele depoimento, Bueno fazia acusações inclusive contra o próprio irmão,
dizendo que ele era sócio oculto de um escritório de contabilidade, citava
uma série de auditores que seriam operadores do suposto esquema de cobrança
de propina, como o principal delator do caso, Luiz Antonio de Souza, de
quem é ex-cunhado, e José Luiz Favoreto, ex-delegado-chefe da Receita em
Londrina. Revelava detalhes do funcionamento de empresas de fachada e sabia
quais empresas dos auditores estavam em nomes de “laranjas”.
Ontem, porém, diante do juiz, afirmou que apenas abriu as duas empresas
(que, conforme seu administrador afirmou, emitiram, em dois anos, mais de
R$ 100 milhões em notas frias). “Apenas fiz meu trabalho de contador. Não
fiz nada ilegal”, disse. Na acusação, o MP sustenta que o único propósito
da abertura delas seria operar no esquema e que Bueno saberia desta
informação.
A mudança de versão, alegou o contador, se deu porque algum tempo após
tê-lo prestado percebeu que não constava do termo exatamente o que havia
declarado e atribuiu tal “equívoco” ao promotor. “Algumas coisas foram
interpretadas erroneamente”, afirmou, em entrevista. Perante o juiz, porém,
disse que “eu falava ‘Amém’ e o promotor escrevia o Pai-nosso”. Ajuntou à
sua versão o que chamou de pressão e de coação, afirmando que o promotor
bateu na mesa, afirmando que a prisão ainda não estava revogada. “Eu estava
nervoso, me sentindo coagido.”
Bueno estava acompanhado de advogado, mas, segundo ele, “o advogado
simplesmente me acompanhou”. “Peguei o advogado no dia e ele não tinha
conhecimento da causa.”
Questionado sobre a riqueza de detalhes, afirmou que sabia aquelas
informações porque algum tempo antes tinha lido depoimentos de outros dois
investigados que firmaram acordo de delação e tinha ouvido aquelas
informações em reuniões feitas por um grupo de pessoas ligadas às duas
empresas logo após a prisão de Luiz Antonio de Souza (por envolvimento no
esquema de exploração sexual, em janeiro de 2015) e antes da deflagração da
Publicano, em março daquele ano. “Com a leitura, com as reuniões, eu deduzi
todos esses detalhes.”
Também demonstrou ressentimento por ter obtido menos benefícios que outros
delatores. “Fui o único delator preso, por duas vezes. Tive que passar por
maratona de promotores. Todo mundo teve dois terços (de redução de pena),
teve perdão, comigo não ofereceram nada”, comparou.
O advogado de Bueno, Itauby Bueno Moraes, disse que desconhecia os fatos
pelos quais seu cliente era investigado, mas afirmou que em pelo menos três
ocasiões em que o depoimento era ditado de maneira diferente da que seu
cliente havia expressado, ele, Moraes, pedia a correção, o que era
atendido. “Na hora de se ditar, vi algumas situações onde o que ele falava
era interpretado de forma diferente, então eu corrigia e foi retificado”,
relembrou. “No final, olhei para o Hederson e perguntei: ‘É isso o que está
aqui e ele respondeu que sim’. E assinei junto com ele. Depois de apurados
os fatos, ele falou não é bem dessa forma.”
Questionado se seu cliente foi coagido, ele “depôs sobre pressão, não sob
coação”. A pressão era a dos fatos, ou seja, de ter contra ele mandado de
prisão.
*SURPRESA*
A promotora Leila Schimiti disse que a retratação do contador causou
surpresa porque o depoimento prestado ao MP foi “bastante extenso, com
muitos detalhes, que só poderiam ter partido do alguém que tivesse
conhecimento inclusive técnico de determinadas situações relativas à
contabilidade de empresas”.
Sobre a suposta coação, ela lembrou que constava, de maneira escrita, no
termo de declaração que a colaboração do auditor era condição para a
revogação de sua prisão e possível acordo de delação. “Tudo isso estava
consignado no termo de declaração e tudo foi acompanhado e devidamente
assinado pelo advogado. Portanto, esta alteração na versão anteriormente
dada é absolutamente incompreensível.”
Segundo Leila, com a retratação, o acordo de delação com Bueno “ficou
comprometido”, o que será discutido mais à frente, no processo.
(foto: reprodução/tv)
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http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1–743-20160409&tit=contador+reu+da+publicano+volta+atras+em+delacao