Depois de passar quase três meses na prisão, o senador e ex-líder do
governo Delcídio do Amaral (PT-MS) volta ao Senado nesta semana, estuda
tirar uma licença de até 120 dias e já avisou a aliados que não admitirá
ter o mandato cassado, um de seus maiores temores. “Se me cassarem, levo
metade do Senado comigo”, afirmou a interlocutores quando ainda estava
preso. A frase foi entendida como uma ameaça de que está decidido a
entregar seus pares caso lhe tirem a cadeira de parlamentar. As informações
são de Gabriel Mascarenhas e Marina Dias na Folha de S. Paulo.
Ao retornar ao Senado, Delcídio fará corpo a corpo com os demais colegas,
argumentando que é inocente e pedindo amparo. Deve bater às portas de
integrantes de partidos aliados e da oposição, com quem sempre manteve
diálogo. Poucos, no entanto, devem ser os que darão apoio público ao
petista.
Uma das maiores preocupações do senador é ter o mandato cassado porque, com
isso, ele perderia o chamado foro privilegiado e seu caso iria para a
primeira instância. Lá seria analisado pelo juiz Sérgio Moro, do Paraná,
que tem sido célere em suas decisões envolvendo réus da Operação Lava Jato.
Em 1º de dezembro, dias após a prisão do senador, o Senado recebeu
representação feita por dois partidos, Rede Sustentabilidade e PPS, que
pedem a cassação de Delcídio sob acusação de quebra de decoro parlamentar.
O processo foi aberto no Conselho de Ética da Casa, sob relatoria do
senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO). Na semana passada, a defesa de Delcídio
pediu a substituição do relator, alegando que o tucano não pode permanecer
na relatoria do caso por falta de isenção do PSDB. O pedido ainda será
analisado.
*DESGASTE*
Correligionários do petista veem a licença como uma alternativa para, em um
primeiro momento, evitar mais desgaste ao próprio senador e ao PT, uma vez
que não precisariam conviver cotidianamente com um colega em regime de
prisão domiciliar.
Quando estava preso, o petista foi colocado pelo presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), em uma licença especial e manteve o salário de
R$ 33,7 mil e demais benefícios do cargo.
Solto, o senador tem a opção de uma licença por questões médicas ou por
motivos pessoais (neste caso, ele não receberia salário). Ao final desse
prazo, caso ele não retorne, o suplente é chamado para assumir o mandato.
Outro motivo de constrangimento é a presidência da CAE (Comissão de
Assuntos Econômicos) do Senado, ocupada anteriormente por Delcídio. O PT
não quer vê-lo de volta ao posto.
O líder do partido no Senado, Humberto Costa (PE), afirmou à Folha que a
substituição de Delcídio pela senadora Gleisi Hoffmann (PR) na CAE já foi,
inclusive, publicada no “Diário Oficial”.
Boa parte dos petistas vê a troca como ponto pacífico, por não acreditar
que o colega tenha condições morais e força política para comprar briga
pela permanência.
O STF decidiu prender Delcídio baseado em gravação feita por Bernardo
Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Na conversa, um
plano de fuga e uma mesada de R$ 50 mil foram propostos por Delcídio em
troca de Cerveró não fazer delação premiada. O ex-diretor, no entanto,
acabou assinando acordo de delação.
(foto: Agência Senado)
*link matéria*
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/02/1741714-delcidio-do-amaral-ameaca-entregar-colegas-caso-seja-cassado.sht