Fecha-se o cerco aos caciques do PMDB. Enquanto isso, Temer brinca com fogo

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*Ricardo Noblat*

No dia em que se soube que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
pediu ao Supremo Tribunal Federal a prisão do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), do ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) e
do senador Romero Jucá (PMDB-RR), o presidente interino da República,
Michel Temer, decidiu contemporizar com dois dos seus auxiliares
investigados por irregularidades.

Coincidência, certamente. Mas que serve para confirmar a imprudência de
Temer quando está em jogo o destino de um governo tão vulnerável como
parece ser o dele. Foi de Temer a decisão de enfrentar o que ministros
chamam de “a maldição das segundas-feiras”. Nas duas segundas-feiras
anteriores, ele se viu forçado a afastar dos cargos auxiliares em apuros –
um deles, Romero Jucá, ministro do Planejamento.

Temer se recusa a ser “pautado” pelo noticiário da imprensa. Nada mais
justo. Porém, nada mais insensato do que ignorar fatos. É fato que o
ministro Henrique Eduardo Alves, do Turismo, amigão do peito de Temer, está
sendo investigado pela Lava-Jato sob a suspeita de ter recebido propinas. E
é fato também que Fátima Pelaes, escolhida para a Secretaria de Mulheres, é
investigada por desvio de emendas parlamentares no âmbito da Operação
Voucher.

Qual foi a desculpa de Temer para não se livrar dos dois? No caso de
Eduardo Alves, porque ele já era investigado antes de ser nomeado ministro.
No caso de Pelaes, porque análise feita pela Agência Brasileira de
Inteligência apontou que nenhum problema legal a impede de ser nomeada.
Temer não entende – ou finge não entender – que não se trata de problema
legal. Trata-se de problema ético. É de ética, de moral que estamos
tratando.

O pretexto usado para tirar Dilma do poder foram as pedaladas fiscais. De
fato, ela as cometeu. E pedaladas fiscais, de fato, configuram crime de
responsabilidade previsto na Constituição. Mas Dilma caiu, embora não ainda
de vez, porque seu governo foi engolido pelo mar de lama que jorrou dos
dutos da Petrobras. A corrupção superou qualquer outro tema nas
preocupações dos brasileiros. Para 98% deles, todos os políticos são
corruptos.

Não basta a Temer acenar com a recuperação econômica do Brasil.
Desacompanhada de uma recuperação também moral, a primeira, por si só, será
insuficiente. Temer diz e repete que não será atingido por nenhuma bala
certeira ou perdida da Lava-Jato. Tomara que tenha razão. Mas corre o risco
de ser vítima de fragmentos de balas capazes de ferir mortalmente pessoas
com as quais governa. E só cabe a ele a responsabilidade por tê-las
escolhido e mantido.

(foto: pmdb nacional)

*link nota*
http://noblat.oglobo.globo.com/meus-textos/noticia/2016/06/fecha-se-o-cerco-aos-caciques-do-pmdb-enquanto-isso-temer-brinca-com-fogo.html

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