Um habeas corpus preventivo impetrado na Justiça Federal no Paraná, nesta
quarta-feira (24), pede que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não
seja preso na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, caso o juiz federal
Sergio Moro tome uma decisão nesse sentido. O pedido foi feito às 16h20 de
quarta e refere-se a um possível pedido de prisão preventiva. As
informações são da Folha de S. Paulo.
O Instituto Lula disse que nega que o ex-presidente tenha entrado com o
pedido. Segundo o instituto, qualquer cidadão poderia fazer esse
pedido. Entre os assuntos relacionados na solicitação —feito em uma ação
que envolve o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró— constam “‘lavagem’ ou
ocultação de bens, direitos ou valores oriundos de corrupção” e “prisão
preventiva”.
Lula tem dito a aliados que a prisão dos presidentes da Odebrecht e da
Andrade Guiterrez é uma demonstração de que ele será o próximo alvo da
operação que investiga um esquema de corrupção na Petrobras. Nas conversas,
ele se mostra preocupado pelo fato de não ter foro privilegiado, podendo
ser chamado a depor a qualquer momento. Por isso, expressa insatisfação que
o caso ainda esteja sob condução do juiz Sérgio Moro.
Apesar do argumento de que outros partidos podem ser afetados pelos
desdobramentos da investigação, a tensão é maior entre petistas. Desde o
fim de 2014, a informação, que circulava no meio empresarial e político,
era de que Marcelo Odebrecht não “cairia sozinho” caso fosse preso.
A empresa sempre negou ameaças. Entre executivos e políticos, contudo, as
supostas ameaças eram vistas como um recado ao PT dada a proximidade entre
a Odebrecht e Lula -a empresa patrocinou viagens do ex-presidente ao
exterior, para tentar fomentar negócios na África e América Latina.
*ALEXANDRINO*
Um dos presos é Alexandrino Alencar, diretor da Odebrecht que acompanhava
Lula nessas viagens patrocinadas pela empreiteira. Integrantes dizem que
“querem pegar Lula”. Lula também se encontrou com executivos da Odebrecht
no exterior.
Em viagem à Guiné Equatorial em 2011, como representante do governo Dilma e
chefe da delegação brasileira na Assembleia da União Africana, o
ex-presidente colocou Alencar entre os integrantes de sua delegação
oficial. A inclusão de Alencar no grupo causou estranheza no Itamaraty, que
pediu informações sobre o caso à assessoria de Lula -o nome não estava em
lista oficial enviada inicialmente ao ministério.
A Odebrecht entrou na Guiné Equatorial após a visita de Lula.
Lula e Alencar são conhecidos de longa data: no livro “Mais Louco do
Bando”, Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, relata uma viagem em
2009 que Alexandrino fez a Brasília com Emílio Odebrecht, presidente do
conselho de administração da empresa. Na época, Lula pediu ajuda à
Odebrecht para o Corinthians construir seu estádio.
Esta não foi a única viagem internacional de Lula com participação do
ex-executivo da Odebrecht (ele pediu demissão nesta semana). Em maio de
2011, o ex-presidente foi ao Panamá a convite da empresa. No roteiro,
estavam previstos visitas a obras da empresa com ministros, o presidente
Ricardo Martinelli e a primeira-dama.
Na ocasião, o ex-diretor ofereceu jantar em sua casa para Lula, Martinelli
e os ministros da Economia, Obras Públicas e Assuntos do Canal.
Como revelou a Folha em 2013, o ex-presidente prometeu, após o jantar,
levar três pedidos a Dilma, com quem teria encontro na mesma semana: maior
presença da Petrobras no Panamá, um encontro entre os ministros dos dois
países e a criação de um centro de manutenção da Embraer.
A Odebrecht obteve no Panamá contratos de US$ 3 bilhões. Cinco meses depois
do jantar, engenheiros da construtora foram fotografados com um estudo de
impacto ambiental sobre uma obra que só seria anexado à licitação três
meses mais tarde.
Em depoimento à Polícia Federal na Operação Lava Jato, o ex-gerente da
Petrobras Pedro Barusco disse ter recebido cerca de US$ 1 milhão de propina
da Odebrecht por meio de contas no Panamá. Segundo ele, o executivo Rogério
Araújo foi quem operou o pagamento.
Em junho e julho de 2011, Lula também viajou ao exterior com apoio da
empresa. O ex-presidente viajou em jato da Odebrecht para Caracas, na
Venezuela. Lá, encontrou-se com “grupo restrito de autoridades e
representantes do setor privado”.
O ex-presidente também esteve em Angola para um evento patrocinado pela
Odebrecht. Essas viagens constam de telegramas do Itamaraty, revelados pela
Folha em 2013.