A Polícia Federal fez ontem buscas no escritório de advocacia de Guilherme
Gonçalves, no centro de Curitiba, suspeito de ter recebido mais de R$ 6
milhões em propina, da empresa Consist Software Ltda, que desde 2010 presta
serviços indiretamente para o Ministério do Planejamento. O advogado é
ligado ao PT e próximo da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e de seu marido,
o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento e Comunicação). As informações
são do Estadão.
O escritório de advocacia de Gonçalves foi, segundo a força-tarefa da Lava
Jato, um das seis pessoas jurídicas utilizadas como canais para o pagamento
de propinas utilizado por Alexandre Romano, ex-vereador de Americana (SP)
pelo PT. Romano foi preso pela manhã em São Paulo. Ele foi o único detido
na 18ª fase da Lava Jato, batizada de Pixuleco II.
Segundo as investigações, Romano é suspeito de intermediar um contrato
obtido pela Consist em 2010, envolvendo o Ministério do Planejamento para
fornecimento de um software de gestão para cálculo de crédito consignado a
mais de dois milhões de servidores públicos federais. Este contrato,
conforme a Lava Jato, gerou a cobrança de ao menos R$ 50 milhões em
propinas nos últimos cinco anos.
O escritório de Gonçalves atuou como jurídico de campanhas de Gleisi e
prestou serviços para Paulo Bernardo. A senadora é alvo de investigação da
Lava Jato na Procuradoria-Geral da República. Em delações premiadas, o
ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef
afirmaram que Gleisi recebeu R$ 1 milhão do esquema de corrupção na estatal
durante a campanha de 2010.
De acordo com a PF, o esquema descoberto na mais recente fase da Lava Jato
predominou até julho de deste ano, beneficiando inclusive a viúva do
ex-secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento na gestão
de Paulo Bernardo, Duvanier Paiva Ferreira – que morreu em 2012.
A Lava Jato aponta que o PT era um dos beneficiários dos valores
arrecadados ilegalmente por meio da Consist. “Os ganhos obtidos pela
Consist através de seu software de gestão de margens consignáveis eram, em
parte substancial, inicialmente direcionados por meio de Alexandre Romano
ao Partido dos Trabalhadores”, diz a PF na pedido de prisão de Romano.
Posteriormente, a partir de 2011, os valores passaram a ser repassados via
outro operador de propinas, Milton Pascowitch. Delator da Lava Jato, o
lobista confessou ter intermediado propina da Consist mantendo contato com
um diretor da empresa – Pablo Kipersmit – e o ex-tesoureiro do PT João
Vaccari Neto.
Kipersmit foi ouvido pela Polícia Federal no dia 4 de agosto. Ele foi preso
temporariamente a 17ª fase da Lava Jato, atingiu o ex-ministro da Casa
Civil José Dirceu – que cumpre prisão preventiva. Kipersmit foi solto na
noite de anteontem.
A Polícia Federal diz que o dinheiro arrecadado ilegalmente pelo
ex-tesoureiro do PT também foi usado para o “pagamento de José Dirceu”.
*Contrato.* O contrato da Consist foi assinado em maio de 2010, graças a um
Acordo de Cooperação Técnica celebrado entre o Ministério de Planejamento,
a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) e o Sindicato das Entidades
Abertas de Previdência Privada. O objeto do acordo era oferecer via
internet serviços e sistema informatizado de gestão de margem consignável
em folha de pagamento de servidores federais.
“O Acordo de Cooperação Técnica permitiu que a empresa Consist gerisse o
sistema de pagamentos consignados no Ministério do Planejamento,Orçamento e
Gestão, a partir do acesso de dados relativos a mais de 2 milhões de
servidores públicos federais”, informa o delegado Márcio Adriano Anselmo,
no seu pedido de prisão.
A partir do acesso de dados pela Consist, a empresa era remunerada por
bancos – entre eles o Banco do Brasil – e entidades de previdência privada
para informar a eles a margem consignável para a concessão de empréstimos a
servidores públicos federais.