Calmante concentrado – Nesta segunda-feira (21), a senadora Gleisi Helena Hoffmann, do PT do Paraná, ficou ainda mais próxima da perda do mandato parlamentar a partir do momento em que a
Polícia Federal desencadeou a Operação Nessun Dorma, décima nona fase da
Operação Lava-Jato. A nova operação da PF centra o foco na Engevix,
empreiteira que atendia a Petrobras e irrigou com generosas doações as
campanhas de Gleisi (2006, 2008 e 2010).
No escopo da “Nessun Dorma” a PF investiga vantagens indevidas concedidas a
agentes públicos e políticos no exterior, em decorrência de contratos
celebrados na diretoria internacional da estatal do petróleo. A PF
identificou uma empresa no Brasil que recebeu cerca de R$ 20 milhões, entre
2007 e 2013, de empreiteiras investigadas na operação. De acordo com as
investigações, o dinheiro seria propina para obtenção de contratos na
Petrobras.
A “Nessun Dorma” prendeu José Antunes Sobrinho, um dos donos da empresa
Engevix, que, a partir de agora, passa a ser mais um candidato à delação
premiada. Motivo extra para que Gleisi Hoffmann e seu marido, o ex-ministro
Paulo Bernardo da Silva, que já têm dezenas de razões para a insônia, não
durmam mais.
A situação de Gleisi é considerada crítica, pois a petista foi uma das
maiores beneficiárias de empreiteiras ligadas ao Petrolão, o maior
escândalo de corrupção da história. A senadora está atolada no Petrolão e
denunciada pelos delatores Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa, além de
estar comprometida na décima oitava fase da Lava-Jato, a Pixuleco II, que
investiga fraudes com empréstimos consignados a partir de autorizações
emitidas pelo Ministério do Planejamento, à época em que Paulo Bernardo era
o titular da pasta.
A senadora petista pode ter sido a maior beneficiária em 2010, em uma lista
de 119 parlamentares, de doações de campanha feitas por dezessete empresas
envolvidas nas investigações da Operação Lava-Jato e no escândalo da
Petrobras. O nome de Gleisi e de outros 118 deputados e senadores, assim
como das empresas, constam nas anotações da caderneta de Paulo Roberto
Costa, apreendida pela Polícia Federal.
O esquema, segundo as investigações, desviou mais de R$ 10 bilhões dos
cofres da petrolífera e Gleisi recebeu R$ 2,42 milhões – maior valor dos R$
29,72 milhões doados e anotados por Paulo Roberto Costa. Na lista das
dezessete empresas estão: Arcoenge, Alusa, Andrade Gutierrez, Camargo
Corrêa, Egesa, EIT, Engevix, Galvão, Hope, Iese, Jaraguá, Mendes Júnior,
OAS, Queiroz Galvão, Tomé Engenharia, Toyo Setal e UTC.
No total, conforme os registros de Paulo Roberto Costa, as empresas doaram
R$ 24,25 milhões. Das empresas listadas na sua prestação de contas de 2010,
Gleisi recebeu R$ 1 milhão da Camargo Corrêa, R$ 780 mil da OAS, R$ 250 mil
da UTC e R$ 70 mil da Alusa – um total de R$ 2,1 milhões declarados na
Justiça Eleitoral.
Ao todo, a campanha de Gleisi recebeu R$ 3,71 milhões de empreiteiras com
contratos com o governo federal e respondendo por ilícitos vários. Na
prestação de contas que encaminhou à Justiça Eleitoral, a petista declarou
R$ 7,97 milhões arrecadados. As doações equivalem a 46,49% das arrecadações.
Esse montante deve ser maior, já que Gleisi recebeu mais R$ 2,78 milhões
dos diretórios nacional e estadual do PT. Considerando que as doações das
empreiteiras costumam representar 75% da arrecadação do PT, estima-se que
Gleisi recebeu outros R$ 2,08 milhões de forma indireta das empreiteiras.
Somado os dois montantes, as empreiteiras bancaram 72,63% da campanha da
petista em 2010.