Nesta semana que passou, quem convive de perto com a política paranaense viu fotos que retratam situações bem distintas em Brasília, com relação direta ao Paraná.
Numa delas, um grupo de secretários estaduais, parlamentares e a vice-governadora Cida Borghetti, debatem projetos importantes para o nosso estado, com os ministros Gilberto Kassab (Cidades) e Antônio Carlos Rodrigues (Transportes) e que dependem de recursos federais e boa parceria da União. Os secretários também conversaram com a bancada paranaense no Congresso sobre os projetos e sobre as medidas de ajustes tomadas pelo governo.
É uma ação do Paraná que pretende ter uma relação mais republicana com o governo federal e que já conta com o apoio, ou pelo menos da maior parte, da bancada federal em Brasília.
Agora a outra foto é para mim, no mínimo, constrangedora, como dever ter sido para o ministro do STF, Marco Aurélio. Um grupo risonho, dos principais líderes oposicionistas do Paraná, entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade que questiona o aumento da alíquota do IPVA e fez questão de posar ao lado do ministro relator do processo.
Confesso que ainda me causa certo espanto constatar que políticos calejados, experientes, sabedores da enorme crise por qual passa a administração pública em nosso país, recorrem a Suprema Corte para tentar retirar recursos que estão faltando na gestão do estado, recursos que têm destinação constitucional para educação e saúde e para os municípios paranaenses, que recebem 50% desta receita adicional do IPVA.
É a famosa autofagia paranaense. Ao invés de ajudar o Paraná a vencer a dificuldades que vem enfrentando, estão alguns por vindita, outros pensando na próxima eleição – ainda que tão distante – agindo contra os interesses do Paraná.
Podiam ter aproveitado a caminhada e andado mais algumas quadras e terem ido até o Ministério da Educação e feito um apelo ao novo ministro Renato Janine que libere imediatamente a implantação do campus da UFPR no Norte Pioneiro e a tão sonhada Faculdade de Medicina, bem como da liberação dos repasses para educação e qualificação profissional, que estão atrasados.
Creio que a discriminação histórica que sofre o Paraná tem sua principal razão no fato de que, quem deveria representar o povo paranaense, não o faz. Num momento em que o país e o Estado atravessam uma grave crise e é necessário fazer ajustes e tomar medidas amargas e muitas vezes impopulares para alcançar o equilíbrio financeiro, é fundamental ser verdadeiro, transparente e ter coragem para escolher fazer o que é certo.
Entre as duas ações e as fotos que disse há pouco, prefiro ficar com as primeiras porque nelas vejo o diálogo e o caminho para recuperar o espaço que o Paraná merece em Brasília.
Isso porque ainda temos muitos desafios pela frente. Equacionar a questão previdenciária é um deles. Temos ainda que aprovar projetos importantes como o Programa de Ajuste Fiscal e as medidas de combate à sonegação, que vão melhorar a arrecadação e permitir a manutenção e ampliação dos investimentos em áreas prioritárias. Todos os projetos serão amplamente analisados e debatidos com a sociedade e com os deputados.
Em toda a minha vida, sempre defendi o diálogo e a negociação na resolução de conflitos. Aprendi cedo que conversando é que a gente se entende, que o respeito pelo outro e a tolerância são pressupostos fundamentais para a construção de uma sociedade democrática.
Nos tempos de hoje não há mais espaços para os que se acham donos da verdade e odeiam descaradamente o diferente. Esses devem refletir e aceitar o diferente, o que diverge, o que não concorda como agentes fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa. Na liderança da base de apoio ao governo, pauto a minha conduta pelo diálogo permanente com todos os parlamentares e com os representantes dos sindicatos dos professores e servidores e da sociedade civil organizada.
Nos momentos mais difíceis da votação dos projetos encaminhados pelo governo à Assembleia, que culminaram na invasão do plenário e na greve dos professores, dialoguei com todos. Embora nem sempre tenha sido compreendido, fui tolerante com todos os que divergiam das minhas posições, inclusive com os que na defesa de suas ideias, distorceram fatos ou criaram uma falsa verdade para si mesmos, e tentaram impô-la aos outros.
(*) Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar, e ex-secretário do Trabalho, é deputado pelo PMDB e líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná. Escreve às segundas-feiras sobre Poder e Governo.