Líderes do PMDB e emissários do vice-presidente da República, Michel Temer,
intensificarão a partir desta quinta-feira, 3, as costuras nos bastidores
para que o peemedebista possa assumir com forte respaldo político o cargo
de Dilma Rousseff caso ela venha ser impedida de concluir o mandato
iniciado em janeiro.
No roteiro traçado pelo grupo de Temer e pela ala oposicionista do PMDB, o
apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), é considerado
fundamental para o sucesso da estratégia. Nos últimos meses, Renan atuou
como um espécie de líder informal do governo Dilma Rousseff no Congresso.
Anteontem, no entanto, o Supremo Tribunal Federal autorizou a abertura de
dois novos inquéritos que têm como alvos Renan. A Corte atendeu a um pedido
de Rodrigo Janot, procurador-geral da República.
O presidente do Senado, até então, acreditava que o Palácio do Planalto
tinha poderes para influenciar a conduta de Janot e evitar o avanço da
Operação Lava Jato contra ele. Por causa disso, conforme apurou o Estado,
ontem mesmo petistas próximos da presidente Dilma Rousseff já acreditavam
que Renan teve participação na decisão de Eduardo Cunha de abrir o processo
de impeachment da petista.
Um integrante da direção do PMDB afirmou à reportagem que Cunha fez chegar
a Renan o seguinte recado após o pedido de inquérito de Janot e o anúncio
do PT de que não apoiaria o presidente da Câmara no Conselho de Ética: “Não
podemos confiar neles”.
Desde as primeiras denúncias contra ele, Cunha tem afirmado que Janot atua
conforme os interesses do Planalto e do ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo – eles negam.
O apoio de Renan ao projeto de PMDB de levar Temer até a Presidência é
considerado fundamental para enfraquecer as defesas de Dilma no Congresso e
para que o PMDB possa demonstrar alguma unidade em torno do desafio de
assumir o Palácio do Planalto.
Michel Temer se afastou da presidente Dilma após a temperatura da crise ter
aumentado, em julho e agosto deste ano. O distanciamento entre eles
provocou desconfianças no PT de que o vice esteja trabalhando dia e noite
pelo impeachment da presidente. Temer, porém, nega as acusações de que está
“conspirando” e diz que sua intenção é deixar a presidente “à vontade”.
Segundo um deputado do PMDB próximo a Temer, a decisão de Eduardo Cunha não
foi compartilhada nem debatida com ninguém do partido.
O presidente da Casa fez duas ligações, poucos minutos antes da coletiva:
uma para o vice-presidente e outra para Renan, que estava presidindo a Mesa
do Senado. Cunha, no entanto, apenas comunicou a decisão, relata o
deputado. Esse mesmo parlamentar diz que Temer não fez tentativas de
demover Cunha de aceitar o pedido de impeachment.
O assunto deverá ser discutido hoje, em uma reunião da bancada. A ala
oposicionista do PMDB promete cobrar Leonardo Picciani (RJ) por uma
declaração em que ele criticou a decisão de Cunha.
Matemática. Deputados do PMDB fazem as contas e, segundo um parlamentar com
trânsito no Palácio Jaburu (onde mora o vice), a “dissidência” (grupo
pró-impeachment) conta com 25 dos 64 deputados, mas pode deve aumentar se
houver pressão das ruas.
Cunha (PMDB-RJ) tentou se esquivar de comentar ontem à noite a reação da
presidente Dilma Rousseff após o anúncio do acolhimento do processo de
impeachment. “Não vou comentar. Já comuniquei a decisão e está lá escrito”,
afirmou Cunha ao deixar a Câmara no final da noite de ontem. Dilma disse
que as razões que fundamentam o pedido de impeachment são “inconsistentes e
improcedentes” e se declarou “indignada”.
(foto: dusek/estadão)
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http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,pmdb-vai-intensificar-costuras-pro-temer,10000003722