O agravamento da crise no governo Dilma Rousseff intensificou o contato de
membros do PMDB aliados ao vice-presidente, Michel Temer, com integrantes
da oposição e levou o PSDB a discutir, internamente, que papel a sigla deve
exercer caso a petista deixe a Presidência e o peemedebista assuma. As
informações são da Folha de S. Paulo.
Nesse cenário, é consenso entre os tucanos que o partido será obrigado a
participar de um “acordo para dar sustentação política” à nova gestão no
Congresso. Em contrapartida, há uma expectativa de que Temer se comprometa
a não disputar a reeleição.
Há divergências, no entanto, se devem integrar ministérios num eventual
mandato de Temer. Segundo a Folha apurou, dois dos principais nomes da
sigla, o senador Aécio Neves (MG), presidente do partido, e o governador de
São Paulo, Geraldo Alckmin, avaliam que o PSDB não deve indicar quadros.
Em reuniões com aliados ao longo da última semana, Aécio deixou claro que,
ainda que seja inevitável a sigla pactuar um acordo em torno de um programa
de governo de Temer no Congresso, não quer que o partido endosse indicações
na Esplanada.
Alckmin também defendeu a auxiliares que o PSDB não participe de uma
eventual gestão Temer. Publicamente, o governador deu pistas de sua posição
sobre o assunto.
No último dia 7, questionado se o vice teria condições de “reagrupar” as
forças políticas, elogiou Temer. Mas ressaltou que a crise que dragou Dilma
Rousseff é “governista”, estendendo-a aos demais integrantes da gestão.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso participa dessas discussões. Ele
esteve com Temer recentemente, num encontro privado. Em artigo publicado no
último dia 6, avaliou que a queda de Dilma por si só não cessaria a
instabilidade no país e defendeu a formação de “um novo bloco de poder”.
A aliados, FHC disse que, caso Dilma caia, “o PSDB poderá se ver obrigado”
a participar de um acordo com Temer “para não parecer que joga contra o
país”. O ex-presidente avaliou que “chega uma hora que você não faz o que
quer, faz o que é preciso”.
O quarto elemento na discussão é o senador José Serra (SP), tucano que tem
mais contato com Temer. Ele foi o primeiro a declarar que o partido deveria
ajudar um novo governo. “Como foi com o Itamar [Franco]”, lembrou, em
agosto, em entrevista ao programa de TV “Roda Viva”.
Serra já vem conversando com Temer e aliados do peemedebista sobre a
situação da economia e saídas para equilibrar o Orçamento.
Dentro do PSDB, é visto como o nome que seria cobiçado para ocupar um
ministério, pela boa relação com Temer e a proximidade com outros
integrantes da sigla, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL).
*TEMOR*
A ideia de que Serra possa vir a integrar uma possível administração
peemedebista é vista com reservas por seus colegas. Se ocorrer, afirmam,
terá de ficar claro que se trata de uma adesão individual e não partidária.
Os tucanos temem que o envolvimento com o PMDB possa ter um alto custo
eleitoral. Ponderam que, se estiverem dentro do governo, também passarão a
ser cobrados pela eficácia da nova gestão, que, nas palavras de um cardeal
do partido, “não sabemos se vai dar certo e nem quanto tempo dura”.
Há outro fator: a Lava Jato. Nomes do PMDB foram citados como beneficiários
de propina, caso de Renan e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ).
Ambos negam.
Os tucanos avaliam que o desfecho da operação é imprevisível e pode acabar
com o PMDB tão comprometido quanto o PT no escândalo.
Esses fatores fazem com que, embora o debate interno esteja acelerado, as
conversas dos principais nomes da sigla com o Temer ainda estejam
engatinhando.
Procurado por aliados do vice, Aécio disse que “ainda não era o momento” de
falar sobre o desenrolar da crise.
*AFASTAMENTO*
As conversas se intensificaram à medida que o vice se afastou da presidente
e começou a expressar sua discordância com algumas propostas do governo.
Temer nega que esteja movendo “uma palha sequer” para agravar a situação de
Dilma, mas o distanciamento foi tão visível que até o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva procurou o vice para falar sobre o assunto e mostrar
preocupação.
O encontro, que ocorreu no último dia 5, foi revelado domingo (13) pelo
jornal “O Estado de S.Paulo”.