O ex-presidente Lula tenta convencer o ex-ministro José Dirceu, preso na
Operação Lava-Jato, a se desfiliar do PT, para tentar diminuir o desgaste
do partido e do governo por eventual condenação do petista pela corrupção
na Petrobras. Apesar do mal-estar no PT com as acusações de enriquecimento
pessoal, Dirceu ainda tem força no partido que ajudou a fundar. O temor de
dirigentes petistas é que eventual processo de expulsão de Dirceu seja
rejeitado pela Comissão de Ética ou pelo Diretório Nacional, aumentando o
desgaste da legenda. As informações são d’O Globo.
“Se o Zé gosta tanto do PT, por que não ajuda e se desfilia?”, disse um
petista próximo a Lula.
A operação para tentar convencer Dirceu a se desfiliar é delicada. Há
preocupação em não melindrá-lo, já que ele foi o homem forte do primeiro
mandato de Lula. Procuradores acusam o ex-ministro de sistematizar a
corrupção na Petrobras quando estava no governo, com o objetivo de
financiar campanhas eleitorais e enriquecer.
No final do ano passado, o Diretório Nacional do PT aprovou resolução
estabelecendo que expulsará filiados que comprovadamente tenham praticado
corrupção. No dia seguinte à prisão de Dirceu, o presidente do partido, Rui
Falcão, afirmou que as acusações contra ele são de “caráter pessoal”. A
Executiva Nacional do PT decidiu não defender Dirceu em nota na qual
apontou supostos abusos na Operação Lava-Jato.
Petistas ficaram alarmados com o depoimento em que Luiz Eduardo de Oliveira
e Silva, irmão de Dirceu, afirmou ter recebido mesada de R$ 30 mil do
lobista Milton Pascowitch entre 2012 e 2013.
Temer decide deixar articulação política*
O vice-presidente Michel Temer (PMDB) decidiu deixar a articulação política
do governo com o Congresso, afastando-se da negociação de cargos e verbas
com os partidos políticos que dão sustentação ao Palácio do Planalto.”Eu
não posso ficar o tempo todo cuidando do cotidiano da política e de
articulações específicas”, afirmou Temer a um aliado nesta sexta-feira
(21). Ele disse que pretende continuar “na articulação macropolítica, das
grandes políticas de Estado”. As informações são da Folha de S. Paulo.
O vice deverá colocar o cargo à disposição da presidente Dilma Rousseff na
semana que vem. Será a segunda vez que faz isso neste mês. A primeira foi
há duas semanas, quando a presidente pediu que continuasse na função.Temer
tem sido pressionado pelo PMDB a deixar a articulação política e tem
revelado cansaço com as disputas com ministros do PT que também têm atuado
como articuladores políticos do governo.
Prevendo que encontrará resistência de Dilma novamente, Temer deverá propor
sair da linha de frente aos poucos: deixar primeiro a responsabilidade pela
distribuição de cargos e verbas para emendas parlamentares, principal foco
de tensão com o Congresso e, depois, se afastar por completo das
negociações com o Legislativo.
O problema é que a relação do PMDB com o núcleo palaciano se deteriorou e o
partido quer desembarcar da articulação de uma vez e entregá-la de volta ao
PT. Uma ala também pressiona para que o PMDB vá além e rompa de vez com o
governo.
Procurada, a assessoria de Temer disse que o “vice presidente é o único
senhor do momento de permanecer ou sair da articulação politica”.
Diante da deterioração no relacionamento de Temer com o Planalto,
assessores do vice repetiram considerar a missão do chefe “cumprida” na
articulação política e que é hora de deixar a função.
A saída do vice acentuará o pessimismo sobre as condições do Planalto de
superar a crise política. Temendo interpretações assim, o governo jogará
pesado para mantê-lo no posto. “Temos de reverter esta situação para evitar
a piora da crise política”, disse um assessor de Dilma.
*BOMBEIRO*
Temer foi alçado à condição de bombeiro do governo em abril, quando a
presidente deu a ele a função de articulador político do Planalto. Mas logo
o vice começou a ser pressionado pelos aliados a se afastar da tarefa.
Há duas semanas, Michel Temer assustou o governo ao declarar que “alguém”
precisava reunificar o país. A fala foi interpretada como uma tentativa do
vice de se colocar como alternativa a Dilma.
Depois desse episódio, o núcleo palaciano e a presidente apostaram em Renan
Calheiros (PMDB-AL) como interlocutor no Congresso. Combinado ao movimento,
Dilma e seus auxiliares passaram a se reunir com parlamentares sem
comunicação prévia a Temer e seus aliados.
A operação irritou a cúpula peemedebista e fez crescer a pressão para Temer
deixar a articulação. Os principais defensores do desembarque são os
ex-ministros Moreira Franco e Geddel Vieira Lima e o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Em conversa com Temer nesta sexta, Cunha fez um apelo para que o próximo
congresso do PMDB, marcado para novembro, seja antecipado para que seja
discutido o rompimento com o governo.