Youssef ‘ajudaria’ campanha de Vargas

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No termo de declaração complementar aos depoimentos prestados durante sua delação premiada, Alberto Youssef afirmou aos delegados da Polícia Federal e procuradores do Ministério Público Federal que pretendia ajudar o ex-deputado federal André Vargas (ex-PT) em sua campanha de 2014, da mesma forma que “já havia auxiliado financeiramente André Vargas em sua primeira campanha eleitoral para vereador em Londrina (em 2001)”. Estes fatos só não ocorreram em razão da deflagração da fase ostensiva da Operação Lava Jato, em 17 de março de 2014. As informações são da Folha de Londrina.

O doleiro fechou acordo com o MPF em outubro do ano passado, entretanto, sempre que é convocado, presta esclarecimentos às autoridades. Youssef foi ouvido novamente no dia 23 de março deste ano sobre a intermediação do ex-parlamentar junto ao Ministério da Saúde (MS) para que a empresa Labogen S/A Química Fina e Biotecnologia fosse escolhida para uma Parceria para Desenvolvimento Produtivo. A Labogen é uma empresa de Leonardo Meirelles, também réu na Lava Jato, que a utilizava para a celebração de contratos de câmbio para importações fictícias a fim de remeter fraudulentamente dinheiro ao exterior. Por esse expediente fraudulento, Meirelles prestou serviços de remessa inclusive a Alberto Youssef.

“Em que pese Youssef afirme que não houve solicitação expressa de qualquer vantagem indevida de Vargas, o teor dos diálogos mencionados deixa claro que Vargas aceitou vantagem indevida em razão do cargo público então exercido”, ressaltaram os procuradores, em petição encaminhada ao juiz federal Sérgio Moro, solicitando a prisão preventiva do político. “É relevante mencionar ainda que nada justificaria tamanho empenho do investigado André Vargas para que a Labogen tivesse êxito no convênio com o Ministério da Saúde. Todo esse conjunto evidencia que a atuação de Vargas para ‘ajudar’ a Labogen não era gratuita.”

De acordo com as informações repassadas por Youssef, em 2013 houve uma reunião no apartamento funcional do então deputado federal André Vargas em Brasília, onde compareceram ele próprio, além de Vargas, Pedro Argese Júnior, empresário associado ao doleiro, e o ministro da Saúde na época, Alexandre Padilha. Na oportunidade, conforme explicou o doleiro, o ex-deputado apresentou a empresa Labogen a Padilha e o então ministro disse que iria encaminhar os representantes da empresa a um dos coordenadores do Ministério da Saúde, a quem cabia tratar do assunto e habilitar a Labogen caso ela apresentasse os requisitos necessários. “Certamente, sem alguém com a influência no governo federal como tinha André Vargas, a Labogen não teria condições de fazer contratos ou sequer ser atendida no Ministério da Saúde”, confessou o doleiro em seu termo de declaração. O contrato da parceria entre Labogen e MS seria na ordem de R$ 150 milhões para a produção de citrato de sildenafila, princípio ativo do Viagra.

As investigações da força-tarefa e PF também apontaram que, além dos depoimentos da delação premiada, o envolvimento do ex-deputado na obtenção pela Labogen da parceria junto ao MS é corroborado por diversas mensagens telemáticas trocadas entre Youssef, que se identificava como “Primo”, Meirelles, que usava o codinome como “Grandão”, e Vargas.

“Chama a atenção a quantidade de mensagens trocadas entre eles sobre o assunto, sugerindo que a intervenção de André Vargas não consistia na mera introdução da empresa junto ao Ministério da Justiça. Inclusive há mensagens que sugerem que Vargas teria uma participação específica na empresa Labogen, pois frequentemente se reportava ao empreendimento como algo também dele”, ressaltam os investigadores.

Em interceptação do dia 19 de setembro de 2013, mensagens trocadas com Youssef apontam o interesse pessoal de Vargas no negócio. Na conversa, eles reportam-se ao empreendimento como algo que lhes daria independência financeira. “(…) André Vargas: Estamos mais fortes agora. Vi documento com pedro (argese) ele estava no voo de volta de bsb (Brasília). Alberto Youssef: Cara estou trabalhando fica tranquilo. Acredite em mim. Você vai ver o quanto isso vai valer. Tua independência financeira. E nossa também eh claro. André Vargas: Kkkk.”

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