Youssef e Costa se contradizem na CPI sobre suposto pedido de Palocci.Ex-diretor da Petrobras falou da doação a Dilma

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fonte:*Fernanda Calgaro e Lucas Salomão Do G1, em Brasília*///
Em acareação na CPI da Petrobras, o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor
da estatal Paulo Roberto Costa deram versões contraditórias sobre o suposto
pedido do ex-ministro Antonio Palocci para que dinheiro desviado da
petroleira fosse repassado para a campanha de 2010 da presidente Dilma
Rousseff.

Segundo Youssef, atualmente, um dos delatores da Lava Jato estaria
detalhando ao Ministério Público Federal quem pediu o dinheiro para a
campanha petista na eleição presidencial de 2010. O doleiro, entretanto,
não quis revelar a identidade do delator que estaria contando detalhes do
pedido de doação eleitoral. Segundo ele, o nome do delator será conhecido
assim que a delação premiada for homologada pela Justiça Federal.
Esse assunto me veio através do Alberto Youssef. Eu autorizei repassarem os
R$ 2 milhões da cota do PP para a campanha de 2010. Eu ratifico
integralmente os meus depoimentos. Todos eles”
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras

Paulo Roberto Costa afirmou em um seu acordo de delação premiada que, na
eleição de 2010, Palocci o procurou pedindo a liberação de R$ 2 milhões
para a campanha presidencial de Dilma.

O dinheiro, segundo o ex-diretor da Petrobras, viria da cota reservada ao
PP no esquema de corrupção investigado pela Lava Jato.

Nesta terça, Costa voltou a afirmar que foi o doleiro quem pediu a ele para
arrecadar dinheiro para a campanha de Dilma.

“Esse assunto me veio através do Alberto Youssef. Eu autorizei repassarem
os R$ 2 milhões da cota do PP para a campanha de 2010. Eu ratifico
integralmente os meus depoimentos. Todos eles”, ressaltou o ex-diretor da
Petrobras.

No entanto, Youssef negou diante do ex-dirigente da estatal e dos deputados
que integram a CPI que Palocci tenha pedido a ele qualquer doação para a
campanha petista.
Eu não conheço o Palocci, não conheço o assessor, nem o irmão e ninguém
[dele] fez pedido a mim para que eu arrebanhasse recurso para a campanha da
Dilma de 2010″
Alberto Youssef, doleiro

“Eu vou me reservar ao silêncio com referência a esse assunto porque existe
uma investigação do Palocci, e logo vai ser revelado e será esclarecido o
assunto. Tem outro réu colaborador que está falando, eu não fiz esse
repasse. Assim que essa colaboração for notificada, vocês vão saber
realmente quem foi que pediu recurso e quem repassou esse recurso”, disse
Youssef aos parlamentares.

“Com respeito ao Palocci, confirmo as minhas declarações feitas
anteriormente. Eu não conheço o Palocci, não conheço o assessor, nem o
irmão e ninguém [dele] fez pedido a mim para que eu arrebanhasse recurso
para a campanha da Dilma de 2010”, complementou o doleiro.

Ao Ministério Público Federal, Costa afirmou que a solicitação do dinheiro
para a campanha de Dilma foi feita por Youssef, que era responsável pela
operacionalização financeira do esquema de corrupção. De acordo com o
ex-dirigente, o doleiro não esclareceu se o pedido havia sido feito
pessoalmente por Palocci ou se havia ocorrido por meio de um assessor.

Lula e Dilma – Na acareação desta terça, Alberto Youssef reiterou que, na
opinião dele, o alto escalão do Palácio do Planalto tinha conhecimento do
esquema de pagamento de propina na Petrobras.

Ele já havia feito essa afirmação em depoimento que ele concedeu em maio à
CPI da Petrobras, em Curitiba.

“Eu confirmo integralmente as minhas declarações, os meus depoimentos”,
enfatizou.

Porém, Paulo Roberto Costa rebateu a declaração do doleiro, afirmando que
nunca falou sobre o assunto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
ou com a presidente Dilma.

“Eu também confirmo: nunca conversei pessoalmente com o presidente Lula e
com a presidente Dilma sobre os fatos”, destacou o ex-diretor da Petrobras.

Aécio Neves – Durante a acareação, Youssef foi questionado pelo deputado
Jorge Solla (PT-BA) sobre suposto pagamento de propina ao senador Aécio
Neves (PSDB-MG) – veja no vídeo acima.

O dinheiro teria sido repassado ao tucano por intermédio de sua irmã, por
meio de uma empresa contratada por Furnas entre 1994 e 2001.

“O senhor confirma que Aécio recebeu dinheiro de corrupção de Furnas?”,
questionou Solla.

“Eu confirmo por conta do que eu escutava do deputado José Janene, que era
meu compadre e eu era operador dele”, respondeu Youssef.

Em março, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, arquivou pedido
de abertura de inquérito para investigar Aécio, com base nas mesmas
informações do doleiro.

À época, Janot entendeu que as afirmações de Youssef em delação premiada
eram “muito vagas”. Para o PGR, não há “outro elemento” que corrobore as
declarações de Youssef a não ser o fato de que ele afirma ter ouvido de
José Janene que o senador recebia dinheiro de Furnas.

Em nota divulgada após a sessão da CPI, o PSDB afirma que as referências ao
senador Aécio Neves “são improcedentes e carecem de quaisquer elementos que
possam minimamente confirmá-las”.

“Não se tratam de informações prestadas, mas sim de ilações inverídicas
feitas por terceiros já falecidos”, diz o texto da nota.

Na sessão desta terça, tanto Youssef quanto Costa reafirmaram um suposto
pagamento, em 2009, de cerca de R$ 10 milhões para o ex-deputado e
ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto em 2014.

O dinheiro, segundo os dois delatores, teria sido pago para que Guerra
impedisse a criação de uma CPI para investigar contratos da Petrobras
naquele ano. Os dois depoentes já haviam relatado o suposto pagamento em
depoimentos de delação premiada.

Gleisi Hoffmann – Youssef e Costa também confirmaram aos deputados que, em
2010, a campanha eleitoral da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) recebeu
recursos desviados da estatal.

À Justiça Federal, eles já tinham relatado o repasse de R$ 1 milhão, a
pedido do então ministro Paulo Bernardo, marido de Gleisi.

“Houve uma contradição sobre quem fez o pedido, mas o importante é que foi
esclarecido em acareação em Curitiba que o valor foi repassado para a
campanha da senadora”, disse Costa.

“Quem me fez esse pedido [para repassar dinheiro à campanha] foi o Paulo
Roberto Costa e eu fiz o repasse. Então, reitero o meu depoimento
anterior”, afirmou Youssef.

Refinaria de Pasadena – Em meio à acareação, Paulo Roberto Costa foi
questionado sobre a compra, em 2006, da refinaria de Pasadena, no Texas
(EUA).

A transação da planta de petróleo norte-americana é alvo de investigações
do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e do Tribunal de Contas
da União (TCU) por suspeita de superfaturamento.

No ano passado, Costa afirmou à Polícia Federal que recebeu US$ 1,5 milhão
simplemente para não dificultar, em uma reunião da diretoria da Petrobras,
a aprovação da compra da refinaria.

A Petrobras pagou US$ 360 milhões à empresa belga Astra Oil para adquirir
50% da refinaria texana. Em 2005, um ano antes da operação comercial, a
companhia petrolífera da Bélgica havia adquirido a refinaria por US$ 42
milhões.

Após desentendimentos com a Astra Oil, a Petrobras foi obrigada, em 2008, a
pagar US$ 820,5 milhões para comprar a outra metade, totalizando US$ 1,18
bilhão pela compra.

No depoimento desta terça à CPI, Costa voltou a afirmar que a
responsabilidade da compra da refinaria foi do Conselho de Administração da
estatal, que, na ocasião, era comandado pela presidente Dilma, então
ministra da Casa Civil do governo Lula.

O ex-diretor da Petrobras contou em depoimentos anteriores que, na época da
compra de Pasadena, circulavam “boatos” na empresa de que o grupo próximo
ao ex-diretor da área internacional da petroleira Nestor Cerveró teria
dividido algo entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões na transação comercial.

Discussão – Logo no início da acareação, houve um princípio de discussão
entre o deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS), um dos autores do pedido para
ouvir Youssef e Costa, e o advogado João Mestieri, que defende o ex-diretor
da Petrobras.

Após a segunda pergunta feita pelo relator da CPI, deputado Luiz Sérgio
(PT-RJ), sobre escutas encontradas na cela de Alberto Youssef na
Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Onix Lorenzoni criticou a
conduta do doleiro ao se negar a responder ao questionamento.

Ele, então, pediu que os outros deputados parassem de tratar Youssef e
Costa de “vossas senhorias”, pronome que, segundo Onix, é “respeitoso” para
se referir a “bandidos” e criminosos”.

Nesse momento, o advogado João Mestieri se levantou e protestou pedindo
respeito ao seu cliente. “O senhor não está sendo respeitoso, é o senhor
que não está sendo respeitoso”, disse o advogado.

Exaltado e com dedo em riste, o deputado pediu para que Mestieri não
falasse com ele. “Não fale comigo. O senhor não fale comigo. Fala com o seu
cliente. O senhor não é convocado, não fala comigo”, gritou Onix.

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